Os estudantes prestes a ler "O Grande Gatsby" deveriam ser advertidos sobre "uma variedade de cenas que citam uma violência sangrenta, abusiva e misógina", como propôs um aluno da Universidade Rutgers, em Nova Jersey? Será que livros abordando o racismo – como "As Aventuras de Huckleberry Finn" ou "Things Fall Apart" – precisam ser precedidos por uma nota de cautela?

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As universidades nos Estados Unidos vêm lutando com pedidos de alunos por "advertências de conteúdo", alertas de que o material prestes a ser lido ou visto em sala de aula pode perturbá-los ou, como afirmam alguns estudantes, causar sintomas de transtorno de estresse pós-traumático em vítimas de estupro ou veteranos de guerra.

Essas advertências vêm sendo formalmente solicitadas pela liderança estudantil da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, e houve pedidos similares de alunos em outras faculdades.

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A discussão deixou muitos acadêmicos furiosos, dizendo que os professores devem poder aplicar seu bom senso e que ser provocador faz parte de seu trabalho. Os avisos, segundo eles, sugerem uma certa fragilidade da mente que o ensino superior tem a função de desafiar, e não aceitar.

"Qualquer tipo de política de advertência é inimiga da liberdade acadêmica", declarou Lisa Hajjar, professora de sociologia desta universidade, que usa frequentemente imagens de tortura em suas aulas sobre a guerra. "Qualquer estudante pode solicitar algum tipo de acomodação individual, mas dizer que precisamos de uma abordagem generalizada é totalmente errado. O pressuposto de que o aluno não deve ser forçado a lidar com algo que o deixa desconfortável é absurdo, até mesmo perigoso".

Bailey Loverin, caloura em Santa Barbara, disse ter tido a ideia de advertências de conteúdo para todo o campus em fevereiro, depois que um professor exibiu um vídeo retratando um estupro. Ela contou que havia sido vítima de abuso sexual, e mesmo não tendo se sentido ameaçada pelo filme, abordou o professor para sugerir que os estudantes deveriam ter sido avisados.

"Não estamos falando de alguém virando as costas para algo que não quer ver", afirmou Loverin. "As pessoas podem sentir uma ameaça bastante real à sua segurança. Elas estão presas numa sala de aula de onde não podem sair, ou se tentarem sair, aquilo subitamente será algo público".

As críticas mais fortes têm focado em advertências para materiais que possuem um lugar de destaque nos programas de ensino. Entre as sugestões para livros que deveriam receber advertências de conteúdo estão "O Mercador de Veneza", de Shakespeare (contém antissemitismo), e "Mrs. Dalloway", de Virginia Woolf (aborda o suicídio).

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"Francamente, esse é o tipo de movimento inevitável quando todos buscam conforto físico e intelectual em suas vidas", argumentou Greg Lukianoff, presidente da Foundation for Individual Rights in Education, um grupo sem fins lucrativos que defende a liberdade de expressão. "Só vai ficar mais difícil ensinar as pessoas que existe um valor real e importante em se sentir ofendido. Parte disso é falar sobre assuntos muito sérios e desconfortáveis".

No Oberlin College, em Ohio, foi divulgado um projeto de orientação que pediria que os professores inserissem advertências em seus programas de ensino, sinalizando qualquer coisa que pudesse "perturbar o aprendizado de um aluno" e "causar traumas".

Após diversas reclamações de professores, o projeto foi removido do site do campus, aguardando uma revisão mais detalhada por uma força-tarefa de acadêmicos e estudantes.

Segundo Meredith Raimondo, reitora associada do College of Arts and Sciences, em Oberlin, a orientação pretendia fornecer sugestões, e não obrigar os professores.

"Me oponho bastante ao argumento de que ‘os jovens de hoje precisam se endurecer’", afirmou ela. "Isso está absolutamente fora da realidade com que estamos lidando. Temos alunos que nos apresentam questões importantes, e precisamos lidar com isso de forma respeitosa e séria".

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Mas Marc Blecher, professor em Oberlin, disse que uma política como essa teria um efeito desanimador.

"Se eu fosse um novo membro do corpo docente e visse isso, ficaria apavorado", explicou Blecher. "Qualquer estudante que se sentisse afetado por algo que ocorreu em classe poderia apresentar uma queixa com os diversos procedimentos e conselhos judiciais, criando um processo bastante tortuoso para qualquer um".