À medida que populistas de direita pipocam pela Europa, provocando partidos políticos consagrados com sua hostilidade à imigração, à austeridade e à União Europeia, Mikkel Dencker, do Partido do Povo Dinamarquês, encontrou mais uma causa para agitar a raiva pública.

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Dencker, parlamentar e candidato a prefeito desta cidade nos arredores de Copenhague, está furioso com o fato de as creches terem tirado do cardápio as almôndegas, prato básico da culinária tradicional dinamarquesa, em respeito às regras islâmicas para alimentos. Pouco importa que poucas escolinhas tenham feito isso. Para ele, as almôndegas perdidas são um exemplo de como a "Dinamarca está perdendo a identidade" sob a pressão de estrangeiros.

A questão se tornou uma dor de cabeça para a prefeita Helle Adelborg, cujo Partido Social Democrático, de centro esquerda, vem controlando a câmara municipal desde a década de 1920, mas que agora enfrenta uma batalha. "É muito fácil explorar tais temas para conseguir votos", ela declarou. "Não é justo."

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Essa também é a nova realidade da Europa. Por toda parte, forças políticas consagradas estão perdendo terreno para políticos de quem zombam como populistas fomentadores do medo. Na França, de acordo com pesquisa recente, a Frente Nacional, de extrema direita, se tornou o partido mais popular do país. Em outros países – Áustria, Grã-Bretanha, Bulgária, República Tcheca, Finlândia e Holanda –, grupos surgidos do nada andam em alta.

Tal fenômeno alarma não apenas líderes nacionais como também as autoridades em Bruxelas, que temem que as eleições para o Parlamento Europeu, em maio do ano que vem, inclinem o equilíbrio do poder em favor de nacionalistas e deem forças à ideia de brecar ou inverter a integração com a União Europeia.

"A História nos conta que desemprego elevado e políticas erradas como austeridade são um coquetel extremamente venenoso", disse Poul Nyrup Rasmussen, ex-primeiro-ministro dinamarquês e democrata social. "Os populistas sempre existem. Num momento bom, é difícil que eles obtenham votos, mas neste momento ruim, todos os seus argumentos, as soluções fáceis do populismo e do nacionalismo, estão conquistando novos ouvidos e votos."

Os populistas europeus querem fortalecer o governo e ver o Estado de bem-estar social como parte integral de suas identidades nacionais.

A tendência na Europa não sinaliza a volta dos demônios fascistas da década de 1930 – menos na Grécia, onde o partido neonazista Aurora Dourada promoveu abertamente crenças racistas e, talvez, na Hungria, onde o partido de extrema direita Jobbik apoia um gênero de nacionalismo étnico recheado de antissemitismo.

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Contudo, a sorte ascendente de grupos como o Partido do Povo Dinamarquês, que, segundo pesquisas de popularidade, estaria à frente dos Democratas Sociais, aponta uma mudança política fundamental rumo a forças nativistas alimentadas por uma mistura curiosa de políticas de identidade de extrema direita e da ansiedade de extrema esquerda quanto ao futuro do Estado de bem-estar social.

"Este é o novo normal", disse Flemming Rose, editor de exterior do jornal dinamarquês "Jyllands-Posten". "É um pesadelo para as elites políticas tradicionais e também para Bruxelas."

A plataforma da Frente Nacional, da França, promove causas tradicionais de extrema direita, tais como lei, ordem e controle rígido da imigração, mas alguns trechos lembram um manifesto esquerdista. O partido acusa os "grandes patrões" de promoverem fronteiras abertas para poder importar mão de obra barata. Ele critica a globalização como uma ameaça ao idioma francês e à cultura francesa, e se opõe a qualquer aumento na idade da aposentadoria ou cortes nas pensões.

Na Holanda, Geert Wilders, líder anti-islâmico do Partido pela Liberdade, mistura ataques à imigração com promessas de defender direitos adquiridos. "Ele é o único a falar que não temos de cortar nada", disse Chris Aalberts, estudioso da Universidade Erasmus, em Roterdã. "É uma mensagem popular."

Contando com proteção policial por causa de ameaças de morte de extremistas muçulmanos, Wilders é mais conhecido pelos ataques ao islã e exigências para que o Alcorão seja proibido. Tais questões, no entender de Aalberts, "não ganham muitos votos", mas ajudam a diferenciá-lo de políticos centristas extremamente impopulares que falam principalmente sobre cortes no orçamento. Para Aalberts, o sucesso dos partidos populistas "tem mais a ver com o colapso do centro do que com a atratividade das alternativas".

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De acordo com Rasmussen, o Partido do Povo Dinamarquês e grupos políticos similares se beneficiam fazendo promessas que não precisam se preocupar em cumprir. "Trata-se de um populismo novo que assume o manto das políticas sociais democráticas."

Em Hvidovre, Dencker, o candidato a prefeito pelo Partido do Povo Dinamarquês, quer o governo na vida das pessoas. Além de obrigar as autoridades a tornar as almôndegas obrigatórias em instituições públicas, ele também criticou a prefeita por cancelar uma das duas árvores de Natal que a cidade costuma armar em dezembro.

Para ele, em vez disso a cidade deveria montar cinco pinheirinhos.