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O grupo Hells Angels moveu vários processos para proteger sua marca registrada | Matthew Staver/The New York Times
O grupo Hells Angels moveu vários processos para proteger sua marca registrada| Foto: Matthew Staver/The New York Times

Fritz Clapp, advogado de 67 anos com cabelo moicano vermelho vivo, é especializado na lei de propriedade intelectual. Anos atrás, seus clientes eram "pequenas empresas que ninguém conhecia", mas hoje ele representa os interesses de um grupo que não é comumente associado à propriedade intelectual: o Clube de Motociclismo Hells Angels.

O papel de Clapp como defensor do grupo é, principalmente, proteger as marcas registradas do Hells Angels.

Nos últimos sete anos, o Hells Angels levou mais de uma dúzia de casos a tribunais federais dos Estados Unidos, alegando infrações relativas a roupas, joias, cartazes e ioiôs. O grupo também contestou nomes de domínios na internet e um filme —todos por utilizarem o nome e os emblemas do clube. Os réus foram corporações como Toys "R" Us, Alexander McQueen, Amazon, Saks, Zappos e Walt Disney.

O primeiro caso de Clapp para o Hells Angels foi em 1992, em um processo contra a Marvel Comics, que batizou um livro de quadrinhos e seu principal personagem de Hell’s Angel.

O Hells Angels continua gravado na imaginação popular como um grupo de homens musculosos, sujos, que usam jaquetas de couro e olham duramente de trás dos guidons das motos. Mas, ao longo dos anos, o grupo também virou uma marca, promovendo-se em camisetas, canecas para café e calças femininas para ioga. Sonny Barger, 75, o antigo líder do Hells Angels, ofereceu seu próprio bazar on-line de produtos que levam seu nome: óculos de sol, vinho e livros.

A virada do grupo foi curiosa: os motoqueiros estão recorrendo ao mesmo sistema jurídico que eles desprezaram por tê-los definido como criminosos.

Enquanto as autoridades policiais reprimiam o Hells Angels, considerando-o um bando criminoso em seis continentes que trafica drogas e armas e participa de lavagem de dinheiro, extorsão e fraude em hipotecas, o grupo ficou mais consciente da necessidade de proteger sua imagem de usos indevidos.

O lado menos confrontador do grupo surgiu quando uma geração mais jovem entrou para o Hells Angels.

"Nós costumávamos esfaquear pessoas a torto e a direito, hoje isso é menos comum", disse Richard Mora, conhecido como Chico, membro do Hells Angels na filial de Phoenix, Arizona.

Mesmo assim, 65 anos depois da fundação do Hells Angels em Fontana, Califórnia, o clube ainda existe como uma subcultura de individualismo, fraternidade ferrenha e desprezo pelos costumes da sociedade.

Somente membros plenos têm autorização para usar a insígnia da caveira ou o nome do clube, que, assim como o logotipo, é marca registrada. Separadamente, o grupo vende mercadorias para o público on-line e em eventos. Recentemente, abriu uma loja em Toronto, no Canadá.

Os motociclistas geralmente fazem acordos em seus processos legais, obrigando as partes acusadas a deixar de usar suas marcas registradas, a destruir mercadorias e, às vezes, a pagar indenizações.

O Hells Angels diz, entretanto, que continua sendo um clube definido pela descentralização, em que cada filial opera como uma entidade própria.

Mas as autoridades policiais alegam que o grupo funciona de maneira mais coesa. Policiar o Hells Angels e outros grupos semelhantes nos EUA é principalmente tarefa do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de fogo e Explosivos (ATF na sigla em inglês).

"O Hells Angel atua como uma organização criminosa com infraestrutura global e muito dinheiro, obtido de membros de todo o mundo", disse John Ciccone, agente especial da ATF em Los Angeles.

Ele acrescentou: "Se você for contra o Hells Angel para provar que o grupo é uma empresa criminosa, ele terá recursos para lutar com unhas e dentes até o fim. Você geralmente não vê essa dinâmica em gangues de rua como os Crips e os Bloods".

Advogados que defenderam clientes processados pelo Hells Angels dizem que as maneiras de Clapp dificilmente lembram a brutalidade que muitos associam ao clube.

"Inicialmente, não tínhamos certeza se precisaríamos temer por nossa segurança", disse Kevin Drucker, advogado que representou a Headgear Inc., que foi processada em 2008 por causa de camisetas que ostentavam o nome Hells Angels.

"Mas a impressão que ficou foi que, quando eles movem uma ação, o fazem de maneira civilizada. Isso mudou meu modo de pensar sobre eles."

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