| Foto: Conor Ashleigh para The New York Times

É sexta à noite e o Covil da Comédia de Lazy Susan, nesta cidade do oeste da Austrália, está lotado. Entre as atrações em cartaz, está Sami Shah, recém-chegado de Karachi, Paquistão.

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Sua apresentação de 15 minutos é temperada por questões atuais: a próxima eleição nacional, o racismo na Austrália multicultural e o problema aparentemente intratável dos refugiados que chegam em barcos em busca de asilo, vindos de lugares distantes, incluindo o Paquistão. "São imigrantes ilegais. Eles estão tirando nossos empregos. Ouço muito essa frase", disse Shah à plateia. "O que vamos fazer?"

"Se um sujeito que passou as últimas duas semanas em um barco, que não fala a língua, que perdeu a metade da família na viagem e que depois passou dois anos em Nauru pode tirar seu emprego", então os australianos deveriam atualizar seus perfis no LinkedIn, disse aos ouvintes.

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Shah, 35, mudou-se com sua mulher, Ishma Alvi, 34, e sua filha, Anya, 4, para a Austrália há cerca de um ano. Em Karachi, algumas pessoas não entendiam o seu trabalho. Ele recebeu ameaças de morte, mas não foi só isso que o fez partir. Com o nascimento de Anya, o casal finalmente decidiu ir embora.

A família conseguiu imigrar com um visto de trabalhador qualificado, porque Alvi, que estudou na Austrália, é psicóloga. Mas havia um detalhe. Para oferecer serviços às comunidades rurais, a Austrália às vezes exige que migrantes com certas qualificações vivam em pequenas cidades nos primeiros dois anos.

"Eu tenho um visto que diz que posso viver na Austrália durante dois anos, mas tenho de passar esses dois anos na região oeste da Austrália", disse Shah à plateia. "O que me permite viver na Austrália durante dois anos, mas me faz sentir como se eu não tivesse deixado um país do terceiro mundo."

No Paquistão, seu número incluía piadas sobre o difícil relacionamento do Paquistão com os Estados Unidos e os atentados cometidos por homens-bombas. Mas Shah, xiita não praticante, logo soube que a religião era um assunto intocável quando um membro da plateia lhe disse para parar no meio de uma apresentação.

Era um mundo muito distante de Northam, cidade de 7.000 habitantes no Cinturão do Trigo da Austrália Ocidental, que abriga um centro de detenção para 600 candidatos a asilo.

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A vida social de Northam gira ao redor do bar ou do estacionamento do colégio, onde os moradores assistem ao time de futebol local. Pouco depois de Shah chegar à cidade, um morador que o viu pensou que ele fosse um fugitivo do centro de detenção. Seu relacionamento delicado com o novo lar tornou-se um tema para seus números.

Suas primeiras tentativas de conseguir se apresentar como comediante em Perth, a cerca de cem quilômetros de distância, foram recebidas com uma mistura de surpresa e descrença. "Tenho certeza de que para eles um comediante do Paquistão tinha tanto sentido quanto um lutador de kickboxing de Genebra", disse ele.

Desde então, sua carreira decolou. No palco, Shah é um dínamo potente, apesar de seu físico reduzido, com uma energia nervosa que cresce e flui enquanto ele desfia as frases de efeito.

Ele está consciente de que se não fossem suas circunstâncias também poderia ter-se tornado um dos solicitantes de asilo. Shah critica a Austrália como racista e ligeiramente retrógrada. Mas uma das maiores forças de seu trabalho é permitir que a plateia suponha que ele realmente está falando de outras pessoas. Nessa noite, a casa lotada aprovou com estrondo.

Amy Hutchinson, 27, disse depois do show: "Todo mundo sabe que a Austrália é meio racista, mas ele tratou disso sem ofender ninguém".

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