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Uma estátua de São José protegendo a Sagrada Família está ao centro de uma fonte diante da Igreja de São José nesta cidade da Baviera.

Membros da paróquia comparecem regularmente à igreja para ensinar alemão e matemática a refugiados e candidatos a asilo. Numa missa recente em um dia de semana, o afegão Ali mostrou seu progresso, lendo uma oração de paz perante a congregação,.

Esta cidade tranquila é também o pano de fundo de uma discussão acirrada entre o governo alemão e as igrejas do país sobre os imigrantes abrigados nos templos.

Antes do Natal, para evitar sua deportação iminente, Ali e outro jovem muçulmano foram morar em um apartamento no terreno da paróquia, evocando a prática cristã de buscar proteção na igreja.

Autoridades em toda a União Europeia se esforçam para lidar com a enxurrada humana que luta para chegar às suas fronteiras. Elas se esforçam para encarar o desafio de abrigar, empregar, legalizar e integrar os recém-chegados, muitas vezes enfrentando a resistência de nacionalistas.

Em abril havia cerca de 426 imigrantes morando em paróquias em toda a Alemanha, mais de três vezes o número do ano passado. A informação é da organização ecumênica Asilo na Igreja, que ajuda as paróquias a resolver problemas legais e logísticos.

A prática começou em Berlim na década de 1980, inspirada pelo movimento Sanctuary, dos EUA, em que igrejas acolhiam cidadãos de El Salvador e Guatemala.

Ao mesmo tempo em que o aumento dos protestos e dos ataques incendiários contra abrigos para refugiados refletem alguma resistência contra a chegada no ano passado de mais de 200 mil candidatos a asilo, a tradição de acolhida das igrejas exemplifica um outro lado da Alemanha.

O movimento conferiu um novo senso de finalidade social às igrejas do país. Mas as autoridades públicas consideram a prática ilegal e veem a explosão dos casos como crítica à política europeia.

Os casos de Ali e de Abdullah Zadran, 21, o imigrante afegão que se juntou a ele, são típicos. Os dois foram ameaçados de deportação para a Bulgária, por onde ingressaram na União Europeia e para onde não querem voltar.

Zadran contou que passou dois meses numa prisão na Bulgária e depois fugiu para a Sérvia. Depois de dez dias em uma prisão sérvia, foi libertado. Então se escondeu em um caminhão que viajava para o norte. “Aqui a vida é boa”, disse.

A situação difícil dos imigrantes os coloca no meio de tensões crescentes em torno do tratamento dado pela Europa à fuga de imigrantes em grande número de lugares como o Afeganistão, Eritreia, Síria, Iraque e África ocidental.

Em 2014 570.800 pedidos de asilo foram feitos na União Europeia, mais de um terço dos quais na Alemanha, segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados.

Muitos chegam ao sul e ao leste da Europa mas encontram ali sistemas de apoio e legais insuficientes para processar seus pedidos de asilo.

A partir desses países eles avançam rumo a países mais ricos, como a Alemanha, Dinamarca ou Suécia. Mas as normas da UE exigem que candidatos a asilo se cadastrem no país pelo qual entraram na Europa.

Os candidatos a asilo que conseguem permanecer seis meses na Alemanha passam a ter direito a solicitar asilo permanente, independentemente de como entraram na UE. É por essa razão que mais migrantes ficam nos terrenos de igrejas, na esperança de ficarem em segurança até o período de seis meses chegar ao fim.

Para Angelika Pfaffendorf, 65, voluntária da igreja de São José que ajudou os rapazes afegãos, é uma simples questão de compaixão. Ela acompanhou o progresso deles e se certificava de que Zadran levantasse da cama todos os dias pela manhã e saísse do apartamento que dividia com Ali.

“Ele não pode voltar para a Bulgária”, ela explicou. “Senão acabaria vivendo na rua e escorregaria para uma vida de delitos.”

Depois de passar mais de dois meses no terreno da paróquia, Zadran ganhou o direito de pedir asilo permanente na Alemanha. Ali ainda está esperando.

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