Antes de esta ilha ser dividida entre o controle grego e turco, a igreja de São Caralampo nesse pequeno vilarejo era um ponto de encontro para todos. Porém, após décadas de divisão e de conversas infrutíferas entre líderes políticos, as pessoas se cansaram de ver a tinta descascando e o altar desmoronando.

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Assim, as furadeiras dos artesãos turcos começaram a zumbir. Carpinteiros gregos entalharam floreios no altar. Depois de dois anos de trabalho, artífices das duas comunidades poliram apressadamente a igreja a tempo de sua grande reconsagração, que uniu perto de 500 cipriotas gregos e turcos em uma celebração sob suas imponentes abóbadas, na primeira vez em que o templo era usado em 40 anos.

"Depois de todo esse tempo, as pessoas estão prontas para a reconciliação", afirmou Xenios Konteatis, 79 anos, cipriota grego aposentado que morava em Kontea antes de a invasão turca ter forçado sua família a uma fuga lacrimosa para o que é agora o sul controlado pelos gregos.

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O extraordinário esforço comunitário para restaurar a igreja de São Caralampo é apenas um entre pelo menos 40 projetos de cooperação em andamento pela ilha para restaurar monumentos gregos e turcos, incluindo mesquitas, que se deterioraram no dividido Chipre.

Depois da invasão das Forças Turcas em consequência de um golpe militar com inspiração grega, Ancara declarou o terço norte da ilha uma república separada, que ainda não é reconhecida por nenhum outro país além da Turquia, enquanto a porção sul, grega, entrou para a União Europeia. Forças das Nações Unidas ainda patrulham uma zona neutra ao longo da chamada Linha Verde, que corta a ilha.

"Nós não podemos aceitar que no século XXI, quando a Europa se uniu depois de duas guerras mundiais sangrentas, e quando o apartheid foi abolido na África do Sul, que o Chipre ainda seja um país dividido", disse Theofilos Theofilou, grego cipriota que, com um colega turco, chefia o Comitê de Desaparecidos. O grupo investiga as centenas de cipriotas gregos e turcos que desapareceram no conflito.

Diversas conversas de paz ao longo dos anos não deram em nada, mas projetos de paz liderados por cidadãos como este aqui em Kontea estão florescendo.

A leste de Kontea, cipriotas turcos na cidade portuária de Famagusta se uniram a gregos deslocados para exigir a abertura de Varosha, antes cintilante balneário à beira-mar que atraía Elizabeth Taylor e outros astros. Hoje em dia, ele virou uma verdadeira cidade fantasma cercada de arame farpado e sob a pontaria de fuzis das tropas turcas.

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Qualquer revitalização dependeria de um grande avanço nas conversas de paz. Entretanto, os moradores estão ocupados com planos para transformar Varosha em uma cidade ecológica na esperança de incentivar o desenvolvimento econômico. "Antes, havia acusações de ambos os lados – quem destruiu o quê, quem é responsável", disse Takis Hadjidemetriou, cipriota grego que, ao lado de um colega turco, chefia o Comitê Técnico de Patrimônio Cultural das Nações Unidas. "Nós decidimos mudar o clima de confronto para cooperação, pelo bem de todos os cipriotas. O povo cipriota não tem ódio no coração. Um entende a dor do outro, que é considerada a dor do Chipre."

Esse é o caso de Kontea, vilarejo que fervilhava até que a invasão expulsou os gregos. Em 2003, as restrições para cruzar a Linha Verde foram finalmente reduzidas e Charalambos S. Pericleous, antigo residente, ficou cativado com a possibilidade de trabalhar com os turcos ali vivendo para levar o local à sua antiga glória.

Enquanto pessoas de todo o Chipre se reuniam para a reabertura da igreja de São Caralampo, clérigos muçulmanos e cristãos recitavam orações no altar restaurado.

Ali Tayip, cipriota turco que ajudou a supervisionar a restauração da igreja, disse: "Olhe para nós. Pode ser pacífico desse jeito, se todos assim o quiserem. Afinal, somos todos seres humanos".