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diário de DAEJEONl

Ilha recebe chineses com cautela

Perto das plantações de morango de Shin Yong-kyun, na Ilha de Jeju, fica o que restou de um campo de aviação que os colonizadores japoneses construíram nos anos 30, para lançar ataques aéreos contra a China, e as covas que fizeram no litoral para esconder seus equipamentos de guerra.

A era imperial japonesa acabou há muito tempo, mas Shin e outros moradores dessa ilha subtropical se dizem preocupados com o que alguns consideram uma verdadeira “invasão estrangeira” – hordas de turistas e investidores chineses que tomaram conta de Jeju, famosa por ser destino de casais de lua-de-mel, por suas palmeiras e campos de golfe de frente para o mar azul.

“Eles chegam em aviões lotados, um atrás do outro, e até compram terras aqui. Às vezes acho que, desta vez, vamos virar uma colônia chinesa”, lamenta Shin.

O fluxo repentino de chineses – e seu dinheiro – se dá, em parte, graças à própria política local, que permite entrada a estrangeiros sem visto e ainda oferece residência para quem investir nos condomínios.

A injeção de caixa representa a bonança econômica para muitos – como para as lojas duty-free lotadas de turistas chineses em busca de artigos de luxo mais baratos e aqueles que torcem para que os hotéis e conjuntos residenciais ajudem a reforçar a fama de Jeju. A presença cada vez mais forte do governo chinês, entretanto, gera temores de nova exploração, receio sempre presente em um país que já foi invadido inúmeras vezes pelos vizinhos mais poderosos.

Dos 6,1 milhões de chineses que visitaram a Coreia do Sul no ano passado, quase metade esteve também em Jeju, quintuplicando o volume de turistas de 2011. Eles também se tornaram os maiores investidores estrangeiros na ilha – e recentemente bateram novo recorde com o que é considerado o maior parque temático/cassino da Ásia.

O sentimento em relação à China, um dos países que invadiu a Coreia nos últimos séculos, é contraditório. Até o turismo transformar o cenário local, Jeju era uma ilha sossegada dedicada principalmente à agricultura e à pesca. E tantos homens a deixaram em busca de melhores empregos que a predominância da população feminina é uma das três coisas por que é famosa. As outras duas são o vento e as rochas vulcânicas.

Com a explosão da economia sul-coreana, a ilha se tornou destino favorito dos recém-casados e das excursões escolares. (A maioria das 304 pessoas mortas no acidente com a balsa, em abril de 2014, era de jovens que iam para lá.)

Durante um tempo, Jeju foi especialmente receptiva com os chineses, mas de um ano para cá a imprensa local e os críticos começaram a acusar os investidores imobiliários daquele país de “usurpar” terras coreanas. E reclamaram também de que os turistas violavam os códigos morais e quase sempre se hospedavam, comiam e compravam em hotéis, restaurantes e shopping centers controlados pelos conterrâneos.

Em uma pesquisa feita com mil moradores, no ano passado, 680 disseram que o turismo chinês não ajudou em nada o desenvolvimento de Jeju.

“Às vezes eles são tantos na estrada costeira que a gente tem que parar o carro para esperá-los passar, tipo rebanho mesmo”, alfineta Kim Hong-gu, um empresário local. E reclama que muitos deles cospem e fumam na rua, hábitos de que os coreanos há muito desistiram.

Kim acusa a China de “usar sua dinheirama” para transformar Jeju, valorizada entre os coreanos por seu dialeto e costumes tradicionais, em “mais uma Chinatown”.

Shin, o agricultor, conta que muita gente em seu vilarejo está feliz porque o investimento estrangeiro valorizou o preço das terras. Outros, no entanto, se ressentiram com o preço exorbitante do arrendamento das propriedades e com o que consideram uma degradação ambiental.

Ele conta que seu avô foi um dos moradores forçados pelos japoneses a construir a pista e as covas.

“Esta é uma terra sofrida e a visão repentina de tantos chineses só piora a situação”, lamenta ele.

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