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Um iPhone tem mais poder de computação que a espaçonave Voyager que deixou o Sistema Solar dois anos atrás. Drogas de alta tecnologia contra o câncer são aprovadas todos os meses. Daqui a alguns anos, o projeto Calico do Google promete prolongar nossa vida.

É fácil se entusiasmar com as proezas científicas e tecnológicas das empresas americanas. Porém, o edifício da inovação nos Estados Unidos repousa sobre um alicerce cada vez mais instável.

O investimento em pesquisa e desenvolvimento esteve estagnado durante vários anos, estabilizando-se em cerca de 2,9% do PIB do país em 2012, segundo a Fundação Nacional de Ciências.

Outros países estão deixando os EUA para trás. O ponto ainda mais crítico é que o investimento em pesquisa básica —o tijolo da inovação e do avanço econômico— vem encolhendo.

O orçamento do governo para pesquisa básica caiu em 2013 muito abaixo do nível de dez anos antes e parece provável que encolha ainda mais.

As corporações americanas, constantemente pressionadas para aumentar os lucros trimestrais diante da poderosa concorrência estrangeira, também estão se distanciando da ciência básica.

“O P&D [pesquisa e desenvolvimento] das empresas está se afastando da P em direção ao D”, disse Ashish Arora, da Universidade Duke, na Carolina do Norte.

O número de pedidos de patentes nos EUA continua aumentando. Porém, divorciada dos progressos científicos em que se baseia o avanço tecnológico, essa corrida por patentes se parece cada vez menos com inovação fundamental.

Um trabalho de pesquisa do professor Arora e Sharon Belenzon, da Escola Fuqua de Economia de Duke, e Andrea Patacconi, da Escola de Economia Norwich da Universidade de East Anglia, verifica a perda de interesse das corporações americanas por pesquisa científica.

A P&D de companhias de capital aberto aumentou para 2% das vendas em 2007, contra 1% em 1980. A porcentagem de empresas que detêm patentes aumentou nesse período de 20% para pouco menos de 30%. Mas a proporção de empresas cujos pesquisadores publicaram em jornais científicos encolheu.

Os pesquisadores sonham com os dias áureos do Bell Labs e seus oito ganhadores de prêmios Nobel, que nos deram o transistor e o Unix. Outros lembram o Xerox PARC, que inventou a interface gráfica de usuário que colocou o computador pessoal em praticamente todos os lares e escritórios.

Hoje a inovação é espremida por orçamentos exíguos do governo e um esforço de P&D corporativo concentrado em prazos muito curtos, lamenta Mark Muro, do Instituto Brookings.

Os pesquisadores de Duke e East Anglia comentam que o investimento corporativo em pesquisa básica também está desaparecendo na Europa, não sendo uma dinâmica exclusiva dos Estados Unidos.

Eles duvidam que a ciência tenha de algum modo se tornado menos valiosa.

As citações de pesquisas científicas recentes são tão comuns nas patentes corporativas hoje quanto eram nos anos 1980.

Mas o mercado de ações dá menos valor à pesquisa original do que fazia há três décadas.

Os executivos das empresas, que têm suas compensações ligadas a ganhos em curto prazo em valor de mercado, podem estar reagindo em concordância. A Xerox não foi a única beneficiária da interface gráfica do usuário. A Apple e a Microsoft também foram. O Bell Labs talvez não tivesse despejado muito dinheiro na descoberta da radiação cósmica de fundo de micro-ondas se não fosse apoiado por um monopólio telefônico.

Assediadas pela concorrência internacional em nossa era mais agressiva, as empresas têm menos incentivos para gerar conhecimento que pode ou não ser rentável.

Em vez disso, elas são incentivadas a patentear mais intensamente, para proteger o conhecimento lucrativo que já possuem.

A inovação pode sobreviver a esse realinhamento?

Enquanto as grandes companhias cortaram seus orçamentos de pesquisa, empresas voltadas para a ciência entraram em cena, promovidas por uma lei de 1980 que incentiva os cientistas e as universidades a comercializarem descobertas financiadas pelo governo.

Em vez de investir em sua própria ciência, hoje as grandes companhias têm mais facilidade para comprar start-ups inovadoras.

Mas esse sistema é vulnerável, ao contar com um pote de dinheiro público cada vez menor que patrocina a maior parte da pesquisa básica em universidades.

“A estratégia de compra seria boa se tivéssemos confiança que o sistema universitário e as start-ups suprem a lacuna”, disse o professor Arora. “No entanto, ainda não compreendemos como funcionaria essa divisão de trabalho voltado à inovação.”

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