Meses antes da cúpula do clima em Paris, marcada para dezembro, quando países ricos e pobres esperam entrar em acordo sobre uma estratégia para desacelerar o aquecimento global, a Agência Internacional de Energia (AIE) apresentou uma previsão sombria.
Mesmo pelas avaliações mais otimistas, limitar o aquecimento da atmosfera a 2°C acima da média da era pré-industrial —considerado um ponto de inflexão na direção de uma perturbação climática— parece estar ficando fora de alcance.
“Pela primeira vez desde que a AIE começou a monitorar o progresso da energia limpa, nenhum dos campos tecnológicos acompanhados está cumprindo seus objetivos”, escreveu a diretora-executiva da agência, Maria van der Hoeven. “Nossa capacidade de produzir um futuro em que as temperaturas aumentem de forma modesta corre o risco de ficar ameaçada.”
A utilização de energia renovável está avançando, mas não com rapidez suficiente. A energia nuclear está abaixo da curva. Tecnologias-chave como a captura e o armazenamento de carbono, que o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática considerou críticas para nos mantermos dentro da meta, ainda estão na infância. A única usina de energia movida a carvão em escala comercial equipada com tecnologia de captura de dióxido de carbono foi inaugurada em outubro passado no Canadá.
Em 2014, os investimentos globais em energia renovável diminuíram pelo quarto ano consecutivo, para menos de US$ 250 bilhões. Os Estados Unidos poderiam estar na liderança no desenvolvimento de novas energias alternativas, mas não estão.
Inundada de energia barata do óleo de xisto e de gás, os EUA perderam de vista o objetivo: descarbonizar o suprimento de energia mundial em questão de décadas.
Considere o sol. O mundo deu enormes saltos em tecnologia solar. No entanto, ela ainda representa apenas 1% da energia mundial. Para acompanhar a crescente demanda por eletricidade, a energia solar deveria fornecer 27% da energia elétrica até 2050, segundo um modelo da AIE.
Um relatório de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) salientou os obstáculos no caminho da energia solar: ela ainda é mais cara que os combustíveis fósseis; é diminuta em relação ao grande papel que precisa desempenhar no sistema energético global; e é intermitente.
Para começar, há a necessidade de armazenar energia em grande escala: enormes baterias, talvez, ou geradores a gás natural com tecnologia de captura de carbono para compensar a redução quando o sol baixa. Nada disso existe ainda.
Também é necessário um salto na tecnologia de conversão de fótons em energia elétrica para reduzir o preço. Os painéis solares baseados em silício que hoje produzem a maior parte da energia solar não resolvem esse problema.
Cientistas e empresários desenvolveram abordagens promissoras a esses desafios, mas sua viabilidade comercial continua indefinida.
O setor privado por sua própria conta não irá financiar a pesquisa adicional necessária. “É patético ver como existem poucos recursos”, disse David Miller, do grupo Clean Energy Venture, que fornece capital para inovadores em energia. “Eles poderiam atingir a escala comercial, mas não têm fundos para chegar lá.”
O orçamento para pesquisa, desenvolvimento e demonstração do Departamento de Energia dos EUA continua estagnado em cerca de US$ 5 bilhões, mais ou menos o mesmo que meia década atrás, empalidecendo ao lado dos esforços de outros países. A China, por exemplo, gasta um quinto de seu orçamento de pesquisa em energia.
“É crítica a mudança de ritmo no compromisso dos EUA com a inovação em energia”, segundo um relatório divulgado em fevereiro pelo Conselho Americano de Inovação Energética.
“Qualquer líder empresarial sério reconheceria que o país precisa aproveitar sua força atual e agir agora para criar um futuro energético limpo.”
Muitos líderes políticos pensam de modo diferente. Até agora, o apoio federal à pesquisa básica de energia foi barrada pelos muitos republicanos no Congresso que negam a mudança climática causada pelo homem e se opõem a gastar mais para evitá-la.
Com o Congresso bloqueando as verbas para inovação, o governo Obama recorreu ao único instrumento a seu alcance para mudar o perfil energético do país: a regulamentação. A Agência de Proteção Ambiental vai revelar em breve as regras finais do plano de energia limpa, que obrigará usinas a reduzir emissões de gases do efeito estufa.
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