Toda primavera, uma série de visitantes indesejados aparece na fazenda dos Hansen no interior de Nova York. Os insetos, conhecidos como traças-das-crucíferas, ameaçam as plantações de repolhos.
Os trabalhadores devem borrifar uma série de substâncias químicas durante a temporada de cultivo para reduzir o número de traças. “É preciso fazer rodízio do produto usado para não aumentar a resistência delas”, disse Ed Hansen Jr., cuja família trabalha a terra há quase um século. Essa adaptabilidade, segundo ele, torna as traças uma das piores pragas a se combater em cada temporada.
Em um laboratório universitário próximo, cientistas esperam substituir os borrifos por sexo. Eles modificaram geneticamente milhares de traças, infundindo-as com um DNA que mata larvas fêmeas. Em agosto, os pesquisadores começaram a introduzir as traças modificadas em gaiolas em um campo, onde seus hábitos reprodutivos serão monitorados.
Se os resultados forem promissores, as traças transgênicas serão liberadas em uma pequena plantação de repolhos no próximo ano. Seria a primeira liberação experimental em solo americano de insetos geneticamente modificados para se autodestruírem.
“Nosso objetivo é reduzir a quantidade de pesticidas usados na agricultura”, disse Anthony Shelton, entomologista que dirige os experimentos na Estação de Experimentos Agrícolas da Universidade Cornell. “Por que não usar a genética para conseguir isso?”
A traça-das-crucíferas tornou-se uma dor de cabeça agrícola no final dos anos 1940, quando explodiu o uso de pesticidas. A traça, a primeira praga de plantação que desenvolveu resistência ao DDT, multiplicou-se enquanto os concorrentes mais frágeis morriam.
Hoje o inseto é encontrado em plantações de couve, brócolis, nabos e outras plantas, custando aos agricultores cerca de US$ 5 bilhões por ano em todo o mundo. E a traça-das-crucíferas continua se adaptando a novas gerações de pesticidas. Na Malásia, ela é imune a todos os sprays sintéticos.
Na década de 1990, cientistas que procuravam alternativas aos pesticidas bombardearam as traças com raios gama para esterilizá-las. Essa tática havia erradicado dos EUA uma larva da mosca-varejeira parasita. Durante décadas, moscas machos esterilizadas por radiação foram liberadas na natureza, competindo com vantagem com os machos férteis e reduzindo a população.
Mas a traça-das-crucíferas resistiu até à radiação. Por isso, a companhia de biotecnologia britânica Oxitec, trabalhando com Shelton, encontrou outra maneira de sabotar a reprodução das traças. A companhia juntou pedaços de DNA de um vírus e de uma bactéria para produzir um gene mortal para os insetos fêmeas.
Segundo um estudo publicado em julho, as fêmeas que se acasalam com machos transgênicos têm tantos descendentes quanto as que copulam com machos inalterados, mas os filhotes fêmeas morrem antes de serem capazes de se reproduzir. Somente alguns dos rebentos machos herdam o gene sintético, que tende a desaparecer depois de algumas gerações. Portanto, reduzir a população de traças exige diversas gerações de machos criados em laboratório.
As gaiolas ao ar livre de Shelton, também estocadas com traças naturais, vão testar como os machos modificados geneticamente competem em uma arena maior.
A estratégia provocou críticas. Grupos contrários ao uso de organismos geneticamente modificados temem que a proteína fabricada pelo gene sintético possa prejudicar os animais silvestres que comerem as traças.
Haydn Parry, da Oxitec, diz que a companhia abordou tais preocupações em dados apresentados ao Departamento de Agricultura dos EUA. “Nós alimentamos com essa proteína mosquitos, peixes, besouros, aranhas e parasitoides”, disse. “Não é tóxica.”
A Associação de Agricultura Orgânica do Nordeste, em Nova York, advertiu que traças que escaparem poderão contaminar fazendas próximas e pôr em perigo seus certificados orgânicos. Mas estudos sugerem que é baixa a probabilidade de as traças-das-crucíferas se disseminarem, pois elas tendem a ficar no mesmo local enquanto tiverem comida e companhia.
Mas mesmo que as traças dos experimentos de Shelton um dia sejam aprovadas, não há garantia de que os agricultores as usarão.
“O que acontece quase sempre é que os pesticidas têm precedência”, disse Michael Furlong, entomologista da Universidade de Queensland, na Austrália. “Pois é a coisa mais fácil de se fazer.”