Enterrados na Antártica, sensores do Observatório IceCube procuram provas da chegada de partículas subatômicas de talvez milhares de anos-luz de distância daqui| Foto: Sven Lidstrom, Icecube/N.S.F.

No fim do mundo, um observatório envolto pelo gelo e projetado para captar partículas subatômicas abundantes e evasivas poderia dar aos astrônomos uma maneira nova em folha de olhar o universo.

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Uma equipe internacional de cientistas relatou há poucos dias que ao longo de um período de dois anos foram detectadas 28 dessas partículas, conhecidas como neutrinos, que chegam de fora do nosso sistema solar e, possivelmente, do outro lado do universo.

"Isso nos dá uma nova forma de fazer astronomia", disse o dr. Francis Halzen, professor de física da Universidade do Wisconsin e principal investigador do projeto, o Observatório de Neutrinos IceCube. As descobertas foram publicadas na revista "Science".

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Os neutrinos são como partículas fantasmas que interagem somente muito raramente com o resto do universo. As reações de fusão que abastecem o Sol deixam escapar uma enxurrada de neutrinos, mas a maior parte deles não é nem detectada nem sentida. A cada segundo, trilhões deles passam por cada uma das pessoas na Terra.

Em 1987, detectores nos Estados Unidos, Japão e Rússia observaram duas dúzias de neutrinos originados da explosão de uma supernova de uma estrela a aproximadamente 165 mil anos-luz. Foi a única vez em que neutrinos distantes foram detectados antes que o observatório IceCube, em grande medida financiado pela Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos, entrasse em operação em 2010.

Mais de cinco mil sensores foram instalados no gelo antártico em busca de lampejos de luz azul disparados por um neutrino.

Construído ao longo de uma década a um custo de US$ 271 milhões, o IceCube ignora os neutrinos solares, procurando apenas os provindos de eventos cataclísmicos em outros pontos da galáxia ou ainda mais distantes. Até que examinassem os dados, os cientistas não sabiam o que tinham encontrado.

"Acho que o aspecto mais surpreendente é eles terem aparecido quando eram esperados", afirmou o dr. Halzen.

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Segundo ele, alguns dos 28 neutrinos podem ter vindo da Via Láctea, mas outros provêm de mais longe. "Alguns deles são certamente de fora da galáxia."

O IceCube somente detecta um em um milhão de neutrinos, o que quer dizer que cerca de 28 milhões de neutrinos de fora do sistema solar passaram durante esse tempo.

Como os neutrinos raramente colidem com alguma coisa, sua detecção exige uma boa soma de materiais; no caso do IceCube, a vasta extensão de gelo à disposição no Polo Sul.

De vez em quando, no entanto, um neutrino colide com alguma coisa, deixando escapar um jorro de elétrons e outros destroços subatômicos. Partículas carregadas em material transparente como gelo produzem luz azul. Células fotoelétricas registram as explosões de luz e os cientistas podem determinar a direção e a energia dos neutrinos.

Até agora, a maioria dos telescópios têm examinado o universo por meio da coleta de fótons ou partículas de luz, incluindo ondas de rádio de baixa energia, luz visível, raios X e gama.

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Os neutrinos de energia muita alta detectados pelo IceCube abrem um novo espectro para a observação do universo. Com mais observações, os cientistas esperam determinar onde os neutrinos se originaram, se de buracos negros ou de estrelas extintas que giram a grande velocidade, os pulsares.

Existe uma sugestão irresistível de que parte dos neutrinos esteja se originando no centro da nossa própria galáxia. Isso seria surpreendente porque qualquer objeto por lá criando neutrinos deveria também criar raios cósmicos de elevada energia e raios gama, que não são vistos.

Para Halzen, "agora nós sabemos o que estamos procurando e vamos descobrir".