Os sauditas há anos vêm promovendo sua versão do Islã sunita ao redor do mundo. Uma imagem de rei Salman em Riad| Foto: Tomas Munita/ The New York Times

Há décadas, a Arábia Saudita vem distribuindo bilhões de seus dólares do petróleo em organizações islâmicas ao redor do mundo aliadas a seu ponto de vista.

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Mas milhares de documentos sauditas divulgados recentemente pelo WikiLeaks revelam que a meta do governo nos últimos anos não era só espalhar sua versão rigorosa do Islã sunita, mas também minar seu adversário número um: o Irã xiita.

Os documentos do ministério de Relações Exteriores da Arábia Saudita mostram quase uma obsessão com o Irã, com diplomatas na África, Ásia e Europa monitorando atividades iranianas em detalhes e as altas agências governamentais tramando para limitar a propagação do Islã xiita.

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A abrangência da operação ajuda a explicar a preocupação do reino com o acordo fechado recentemente entre potências mundiais e o Irã em relação ao programa nuclear deste último. Líderes sauditas estão preocupados porque acreditam que o alívio das sanções dará ao Irã mais dinheiro para reforçar sua militância. Mas os documentos mostram raízes profundas nas ideologias religiosas que sustentam as duas nações.

Eles indicam um extenso aparato dentro do governo saudita dedicado à atividade missionária que reúne autoridades dos ministérios de Relações Exteriores, do Interior e de Assuntos Islâmicos, além do serviço de inteligência e do escritório do rei.

As iniciativas incluíram colocar pregadores estrangeiros na folha de pagamento saudita, construir mesquitas, escolas e centros de estudos e minar autoridades estrangeiras e mídia consideradas ameaçadoras para a agenda do reino.

Às vezes, o rei acabava se envolvendo, ordenando que uma estação de televisão iraniana saísse do ar ou doando US$ 1 milhão para uma associação islâmica na Índia.

“Estamos falando de milhares e milhares de organizações ativistas e pregadores que estão na esfera de influência saudita, porque são direta ou indiretamente financiados por eles”, disse Usama Hasan, pesquisador da Fundação Quilliam, em Londres.

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Os documentos não mostram qualquer apoio saudita a atividades militantes, mas os críticos argumentam que a campanha do reino contra os xiitas abalou o pluralismo no mundo muçulmano e gerou tensões na região.

O governo saudita não fez segredo de sua missão religiosa internacional, nem de sua inimizade com o Irã. Mas o vazamento foi visto como algo profundamente embaraçoso.

A Arábia Saudita diz que alguns documentos foram forjados, mas muitos contêm nomes e números de telefone corretos e indivíduos e associações mencionados neles confirmaram o conteúdo ao serem contatados pelo New York Times.

O ministério de Relações Exteriores passava suas solicitações de financiamento a autoridades em Riad, o ministério do Interior e a agência de inteligência às vezes averiguavam receptores em potencial, a Liga Mundial Muçulmana, apoiada pelos sauditas, ajudou a coordenar estratégias e diplomatas sauditas pelo globo supervisionavam projetos. Essas autoridades identificavam líderes muçulmanos e associações no exterior, distribuíam fundos e literatura religiosa produzida na Arábia Saudita, treinavam pregadores e pagavam salários para que trabalhassem em seus próprios países.

O medo da influência xiita se estendeu aos países onde os muçulmanos são pequenas minorias, como a China, onde uma delegação saudita foi acusada de “sugerir programas práticos que podem ser levados a cabo para enfrentar a expansão xiita na China”. E nas Filipinas, onde apenas 5 por cento da população é muçulmana, houve medidas que sugeriram “restringir a presença iraniana”.

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Alguns dos projetos mais caros estavam na Índia, que a Arábia Saudita vê como um campo de batalha sectário.

Trocas de mensagens mostram que US$266 mil foram dados a uma associação Islâmica para abrir uma faculdade de enfermagem.

Até mesmo a ajuda humanitária às vezes é sectária. Em 2011, o ministro das Relações Exteriores saudita pediu auxílio para vítimas das enchentes na Tailândia, notando que “isso teria um impacto positivo sobre os muçulmanos na Tailândia e iria restringir a expansão da influência xiita do governo iraniano”.

Em outros lugares, a Arábia Saudita vê seus trabalhos religiosos como uma maneira de melhorar sua reputação. O embaixador saudita na Hungria solicitou US$54 mil por ano para uma associação islâmica, além de uma autorização para fundar um centro cultural.

Uma mensagem dizia que tais investimentos iriam minar o extremismo e “desempenhar um papel positivo em retratar a imagem bela e moderada do reino”.

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