Neto de aiatolá do Irã morreu em acidente| Foto: /

Às 5h de uma manhã recente, um automóvel Porsche amarelo-canário corria em alta velocidade pela avenida Shariati, em Teerã. Como viria à tona mais tarde, a jovem ao volante vinha da zona sul da cidade, mais pobre.

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O rapaz sentado ao lado dela, neto novo-rico de um aiatolá, tinha comprado o carro dois dias antes. O Boxter GTS acelerou para 190 km/h em menos de dez segundos, e o rugido de seus seis cilindros reverberou nas ruas vazias.

A cena poderia ser vista como normal na zona norte de Teerã, onde cada vez mais filhos de pais com bons contatos vivem sus vidas como se as leis islâmicas não tivessem sido escritas para eles.

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Seus carros de luxo tornaram-se símbolos da desigualdade no Irã, onde os novos-ricos estocam dinheiro, lucrando com as sanções e suas relações influentes.

Era a primeira vez que Parivash Akbarzadeh, 20, dirigia um Porsche. Ela perdeu controle do carro, chocou-se com o meio-fio e bateu o carro contra uma árvore.

Morreu instantaneamente, e o dono do veículo, Mohammad Hossein Rabbani-Shirazi, 21, morreu horas depois em decorrência de seus ferimentos, divulgou o “Afkarnews” em 23 de abril.

Pouco depois, fotos dos destroços do carro esporte apareceram nas mídias sociais. Quase ao mesmo tempo veio à tona a identidade das duas vítimas: uma beldade jovem, de olhos grandes, e o neto de um clérigo destacado. O rapaz era noivo, mas não de Akbarzadeh.

No Irã, onde a mídia estatal se apressa a divulgar a desigualdade crescente de renda —mas sempre omite informações pessoais sobre os ricos—, o acidente desencadeou uma tempestade de comentários nas mídias sociais, em sua maioria altamente negativos.

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“Bem feito”, alguém escreveu na página de Instagram de Akbarzadeh, debaixo de uma imagem da moça com um anel de diamantes no formato de um cifrão.

O que deixou muitas pessoas indignadas não foi o fato de Akbarzadeh ter estado em um carro com um homem prestes a se casar, embora isso seja ilegal pelas leis islâmicas vigentes no Irã, que preveem a segregação de homens e mulheres não casados, mas são aplicadas de modo seletivo.

O que mais irritou as pessoas foram os dois pesos e duas medidas exemplificados pela tragédia, especialmente as questões interligadas da corrupção e desigualdade crescentes.

Durante o governo do presidente de Mahmoud Ahmadinejad, algumas pessoas enriqueceram muitíssimo depois de ser autorizadas a vender petróleo e dinheiro.

Os filhos desses chamados “intermediários”, que hoje se lançaram em outros negócios, fazem compras em Dubai e dirigem carros de luxo em um país onde os preços ao consumidor triplicaram ou mais e muitas pessoas não têm mais condições de adquirir um carro novo, mesmo nacional.

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Quase 100 mil carros de luxo teriam sido importados desde 2009, apesar do imposto de 140% sobre esses veículos. Assim, um Porsche como o Boxster GTS ano 2015, destruído na colisão, custaria pelo menos US$178 mil no Irã.

Segundo o jornal “Shahrvand”, muitos dos donos desses carros andam pela cidade em seus automóveis, paquerando mulheres.

“Os novos-ricos se vestem, falam e agem de modo diferente, desprezando normas urbanas e sociais”, comentou o jornalista Nader Karimi Joni. “Eles exibem sua situação privilegiada e têm prazer em humilhar os outros.”

Até o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, comentou o caso. “Alguns jovens, orgulhosos de sua riqueza, tomam conta das ruas com seus carros caros”, ele disse. Isso “cria insegurança psicológica na sociedade.” Khamenei pediu ação por parte da polícia.

Vários empresários foram presos nos últimos dois dias, e o bilionário Mahafarid Amir Khosravi foi executado por apropriação indevida de fundos.

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Entre os milhares de comentários deixados sob uma das fotos de Akbarzadeh no Instagram, as pessoas a criticaram por ser “arrivista” e “oportunista”, destacando sua origem em um bairro de classe média baixa.

Outros a defenderam, dizendo que, “infelizmente”, andar na companhia de jovens de família rica é a única maneira de uma moça atraente se casar, já que os casamentos custam muito no Irã.

A família de Rabbani-Shirazi negou que o veículo acidentado fosse dele, dizendo que ele não tinha “nem sequer uma bicicleta”.

Mas o veredicto do público é inequívoco. “Agradeço a Deus porque, mesmo quando não há justiça na distribuição de dinheiro e riqueza neste mundo, há justiça na morte”, escreveu no Instagram uma usuária.