Mais conhecidas pela fabricação de motos, lavadoras e laptops, algumas das maiores empresas japonesas passaram a oferecer uma nova linha de produtos ao mercado global: equipamentos militares.
Entre as novidades, estão: submarinos silenciosos de ataque, aviões anfíbios de busca e resgate e sistemas de radar que usam raios laser para identificar a aproximação do inimigo.
Passados os quase 50 anos de proibição de exportação de armas mantida pelo governo japonês, Mitsubishi, Kawasaki, Hitachi, Toshiba e outras empresas começaram a mostrar ao mundo –de forma cautelosa, mas inegável– que estão dispostas a fazer negócio.
Uma exposição sobre segurança marítima realizada em Yokohama, em maio, foi a primeira feira no país voltada à indústria militar, disseram seus organizadores. Além disso, foi também a primeira a contar com expositores nacionais.
“Não conhecia nenhum desses produtos. Acho que a tendência é de grande expansão”, comentou o major-general Mick Fairweather, especialista em compras das Forças Armadas australianas.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, suspendeu a proibição de exportação de armas no ano passado como parte da campanha de afrouxamento das restrições impostas ao poderio militar do país depois da derrota na Segunda Guerra Mundial.
Embora a maior parte da população seja contra a decisão, Abe se defende, dizendo que ela deveria ter acontecido há mais tempo. O poderio militar chinês, que parece ganhar corpo a cada dia, reforça seu argumento.
Abe conta com o crescimento do comércio de armamento para estreitar laços com países da região que, como o próprio Japão, desconfiam das intenções chinesas. Entre os prováveis clientes, estão nações do Sudeste Asiático e a Índia.
O Japão também espera que a Austrália vire um mercado receptivo para o submarino de classe Soryu –construído pelo setor de indústria pesada da Mitsubishi e o de construção naval da Kawasaki– cuja maior vantagem é a difícil detecção pelo inimigo.
O preço? Cerca de 50 bilhões de ienes, ou US$ 410 milhões.
A Mitsubishi Heavy também está desenvolvendo o protótipo de um veículo anfíbio usado para desembarque de tropas em praias hostis.
Fora do país, muita gente teria dificuldade em citar o nome de um fabricante de armas japonês. Mesmo no Japão, o mercado recebe pouca publicidade, embora conte com a participação de alguns de seus maiores conglomerados na produção militar, incluindo tanques e aviões, para as Forças Armadas. Com raras exceções, o governo é o único cliente.
Assim, menos de 1% da produção industrial do país é ligada ao setor militar, e o Japão tem somente quatro empresas entre as cem maiores fabricantes de armas avaliadas pelo Instituto de Pesquisa para a Paz Internacional de Estocolmo.
A maior, a Mitsubishi Heavy Industries, fatura menos que um décimo do que representam as vendas da principal parceira do Exército norte-americano, a Lockheed Martin.
O volume pequeno encarece os equipamentos japoneses, explica Masahiro Matsumura, da Universidade Momoyama Gakuin. Outro obstáculo é a falta de experiência mundial.
“Os EUA se envolvem em muitos conflitos, então têm muito retorno sobre o desempenho de seu armamento. O Japão, não”, diz ele.
Para se consolidar no mercado, o país está oferecendo incentivos financeiros aos compradores e garantias de crédito que tornarão a aquisição de armas japonesas muito mais acessível aos países em desenvolvimento, com redução da taxa de juros nos financiamentos.
As negociações já começaram com a Malásia e as Filipinas. Também a Índia se mostrou interessada no avião US-2, construído para a Marinha japonesa pela ShinMaywa, que pode ajudar na patrulha dos arquipélagos mais distantes de seu território.
Entrar em um mercado dominado por gigantes não será fácil. Segundo os especialistas, em algumas áreas, vale mais a pena a parceria e não a concorrência direta.
Segundo eles, os produtos mais atraentes do país são componentes como sensores de imagens e peças de avião de fibra de carbono. “Fabricamos peças e subsistemas excelentes, mas ainda é impossível começar a produzir sistemas inteiros, como caças de próxima geração”, afirma o ex-primeiro ministro Satoshi Morimoto.
Além disso, as empresas japonesas ainda não se sentem à vontade para se associarem a um setor tão controverso. “A maioria dos produtos aqui não tem cara nem jeito de arsenal”, explica Yoshibumi Kusaka, representante de vendas no stand da Kawasaki, comentando a ausência de armas, mísseis e outras peças explicitamente ameaçadoras.
“É muito pouco provável, de repente, começarmos a exportar armas mais agressivas”, acrescenta.
Morimoto diz que vai levar tempo até os fabricantes japoneses se sentirem confortáveis para comercializar a tecnologia militar. “O governo deu o sinal verde, mas ainda estamos muito cautelosos. A nossa mentalidade é muito pacífica”, conclui ele.
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