A intensificação da violência sectária trouxe novas oportunidades para grupos jihadistas do Oriente Médio. Agentes da inteligência e do contraterrorismo temem que os militantes alinhados com a Al Qaeda consigam estabelecer uma base na Síria capaz de ameaçar Israel e a Europa.
"Minha preocupação com a Al Qaeda enquanto marca é que ela claramente está expandindo seus afiliados tanto em número quanto, em alguns casos, capacidade", declarou o general Martin E. Dempsey, comandante do Estado-Maior conjunto dos Estados Unidos. "Temos de observar e determinar quais são locais, quais são regionais e quais são globais, sendo que cada um exige uma abordagem diferente."
Mensagens retransmitidas neste ano por Ayman al-Zawahri, líder geral da Al Qaeda, indicam que ele vê a Síria como uma base de operações promissora. Analistas e autoridades norte-americanas dizem que o caos em que o país se encontra poderia forçar o governo Obama a assumir um papel mais ativo. Porém, atacar os grupos jihadistas representaria obstáculos jurídicos, militares e políticos formidáveis, podendo custar algum tipo de acomodação com o governo brutal e secular do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Uma fonte de preocupações é o número de muçulmanos de países ocidentais que foram lutar na Síria e, ao voltarem para casa, podem vir a representar uma ameaça terrorista. Segundo analistas, pelo menos 1.200 muçulmanos europeus foram à Síria desde o começo da guerra para se juntar à luta, além de dezenas de norte-americanos.
Pela região, uma maré crescente de militância islamista estimulada em parte pela violência sectária e em parte pelo colapso da Irmandade Muçulmana, no Egito, frente à oposição das forças militares do país colaborou para uma onda recente de ataques no Líbano, Península do Sinai, Síria e Iraque.
A rivalidade entre os grupos jihadistas na Síria reduziu recentemente a ameaça por lá, mas não está claro quanto tempo isso vai durar. Zawahri despachou um enviado, Abu Khalid al-Suri, numa tentativa de resolver as disputas entre as duas principais facções, a Frente Nusra e o Estado Islâmico do Iraque e da Síria.
Essas políticas podem facilmente se sobrepor e mudar. No Iêmen, base do afiliado mais organizado e ameaçador da Al Qaeda, uma série de conflitos no mês passado entre a milícia muçulmana Zaydi e sunitas linhas-duras no remoto noroeste iemenita levou a pedidos por uma guerra religiosa mais ampla, e existem relatos de campos de treinamento sendo montados com esse propósito, asseguram autoridades do país.
Tanto no Iêmen quanto na Síria, essa dinâmica sectária pode parecer distrair a atenção dos militantes em relação ao Ocidente, mas a radicalização que a acompanha e a militância criam "o ambiente perfeito para a Al Qaeda" num país onde o grupo terrorista já tem uma presença forte, argumentou uma autoridade iemenita.
Mesmo enquanto uma campanha com drones (aviões teleguiados) norte-americanos continua a matar suspeitos de militância no Iêmen, o afiliado da Al Qaeda instalado no país obteve pelo menos US$ 20 milhões em pagamentos de resgates no começo deste ano dos governos do Catar e de Omã, os quais pagaram pela libertação de dois grupos de reféns europeus, segundo autoridades norte-americanas e iemenitas. De acordo com elas, o valor é suficiente para alimentar suas operações por anos.
Ainda segundo o agente iemenita, uma série recente de ataques mortais a alvos militares do país também deixou claro que a Al Qaeda "infiltrou-se nos serviços de segurança" em maior extensão.
Autoridades norte-americanas afirmam que a afiliada da Al Qaeda no Iêmen, a Al Qaeda da Península Arábica, tem contato regular com grupos jihadistas no Líbano e na Península do Sinai.
Os grupos militantes do Sinai têm novas armas poderosas, tais como os mísseis terra-ar, obtidos da Líbia depois de sua guerra civil, afirmou Ehud Yaari, analista de segurança do Instituto Washington para a Política do Oriente Próximo.
Para analistas do terrorismo, o sul da Líbia se tornou um porto seguro para uma série de jihadistas.
Porém, acima de tudo, é o caos da Síria, onde os militantes estrangeiros parecem estar construindo uma massa crítica e superaram a estratégia ocidental de apoio à oposição moderada, que causa mais preocupação.
"Precisamos começar a conversar novamente com o governo Assad" a respeito do contraterrorismo e outras questões de preocupação compartilhada, declarou Ryan C. Crocker, diplomata norte-americano veterano que atuou na Síria, no Iraque e no Afeganistão. "Terá de ser feito com a mais absoluta discrição. Por pior que Assad seja, ele não é tão ruim quanto os jihadistas que assumiriam o comando em sua ausência."
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