Se o trabalho pudesse ser mais parecido com um jogo, isso estimularia a produtividade? A BetterWorks, de Palo Alto (Califórnia), produz um software para escritório que combina aspectos de mídia social, monitoramento da forma física e videogame, num sistema destinado a manter os funcionários mais envolvidos com o seu trabalho e com os colegas.
Com o software, os empregados e seus patrões definem metas e registram seu progresso em um painel digital que todos na empresa podem ver e comentar.
A empresa já arrecadou cerca de US$ 15,5 milhões de investidores, incluindo o conhecido capitalista de risco John Doerr.
Um crítico poderia descrever a empresa como uma nova versão de uma velha ideia —a eficiência no local de trabalho— que antigamente costumava ser imposta por intermédio de relógios de ponto e linhas de montagem. Mas Doerr, que instila conceitos semelhantes em muitas das empresas de tecnologia nas quais investe, está apostando que essas mesmas ideias serão adotadas para além do Vale do Silício.
As empresas do Vale do Silício são conhecidas pelo uso de trajes informais no ambiente de trabalho e por benefícios generosos aos funcionários, como almoços gratuitos. No entanto, elas também compartilham da afinidade das corporações americanas por processos dogmáticos e siglas atordoantes. Ainda assim, as empresas de tecnologia do Vale se destacam na hora de transformar esses processos chatos em algo útil.
“Em termos gerais, trata-se de deixar tudo isso ser mais guiado por dados”, disse Kris Duggan, executivo-chefe da BetterWorks. Usando o software da empresa, os trabalhadores definem metas e as inserem em um sistema interno que pode ser visto por outros funcionários. Colegas se estimulam (com “vivas”) ou se recriminam (com “cutucões”). O perfil de cada funcionário exibe uma árvore digital que cresce com as realizações e murcha se a produtividade for ruim.
A busca por maneiras que façam as pessoas trabalharem com mais empenho não é novidade. As fábricas há muito tempo estimulam seu pessoal a competir entre si para produzir mais.
Karen Levy, pesquisadora do Instituto de Pesquisa dos Dados e da Sociedade, de NY, fez um estudo de três anos sobre o monitoramento do rendimento profissional num setor definitivamente antigo: o transporte rodoviário.
Há duas décadas, as empresas do setor usam o GPS e outras tecnologias para medir a velocidade com que seus motoristas dirigem os caminhões e a força com que freiam, de modo a poderem entregar as mercadorias com rapidez, mas não a ponto de desperdiçar combustível.
Para tornar os caminhoneiros mais eficientes, as empresas instalam placares na sala de descanso ou enviam bonificações às suas mulheres para que os caminhoneiros recebam uma pressão competitiva também de dentro de casa, não só do trabalho.
Uma das principais maneiras de tornar as pessoas mais produtivas é usar seu suposto tempo ocioso para que rendam mais. Muitos motoristas passaram a fazer atividades como carregar, descarregar e inspecionar caminhões durante os intervalos exigidos pela lei federal. “Se você distrair os trabalhadores com a ideia de que eles estão jogando um jogo, eles não contestam as regras do jogo”, disse ela.
Empresas como a BetterWorks estão importando conceitos semelhantes para empregos de escritório, onde o desempenho é mais subjetivo.
Mas e se o excesso de quantificação irritar as pessoas?
Essa pergunta está no centro de outra start-up, a Culture Amp, que produz questionários contínuos, internos e anônimos, com os quais a empresa fica sabendo como seus funcionários se sentem e como isso se compara a outras empresas do setor. Desse jeito, elas ficam sabendo quando todos estão prestes a se demitir.