Na comédia romântica "Words and Pictures", uma cadeira de escritório com rodinhas vira ferramenta para a criação artística.
Representando uma professora de arte cuja artrite reumatoide afeta sua capacidade de pintar, Juliette Binoche se deita sobre a cadeira, atravessada e de bruços, agarra um pincel e faz a cadeira girar de uma parte para outra da tela, que está no chão.
A paixão e a dor integram cada pincelada. Juliette Binoche faz o papel de artista plástica e é uma artista na vida real.
O filme, que acaba de estrear nos EUA e Alemanha, acompanha a relação competitiva entre uma professora de arte e um professor de inglês (Clive Owen) num colégio secundário. Ambos têm opiniões fortes sobre qual mídia é a mais importante.
As pinturas feitas pela personagem de Binoche, Dina Delsanto, são vistas em diversas fases de acabamento ao longo do filme. Mas não há dublêsa: a própria Juliette Binoche criou todas as telas.
Ela começou a apreciar a pintura ainda criança, quando sua mãe lhe comprou uma grande coleção de livros de arte.
Adolescente, teve aulas de pintura, e, embora tenha acabado por tornar-se atriz, não perdeu a familiaridade com as artes plásticas.
Essas habilidades já foram vistas quando ela representou uma artista de rua em "Os amantes de Pont-Neuf" (1991), de Leos Carax. Mas a arte tem papel mais importante na trama de "Words and Pictures" e é mais mostrada.
"Eu não tinha entendido completamente até que ponto Juliette é artista plástica", comentou o diretor do filme, Fred Schepisi.
Foi apenas quando Binoche lhe mostrou exemplos de suas pinturas, durante uma conversa no Skype, que ele percebeu que a própria atriz poderia criar as pinturas de sua personagem no filme.
Dina é sobretudo retratista, mas à medida que sua condição piora suas imagens vão ficando mais abstratas. Binoche, também ela mais experiente com retratos, teve que descobrir como fazer essa transição na tela, inspirando-se nas pinceladas coloridas e ousadas das telas de sua amiga pintora Fabienne Verdier.
"Eu sempre tive fascínio pelo trabalho dela. Por isso sugeri que usássemos as ferramentas dela, pincéis que são grandes e pesados", disse Binoche.
No filme e no estúdio de Verdier, os pincéis são inseridos em vigas penduradas do teto.
"Achei que seria um pincel interessante para minha personagem, porque ela não precisaria segurá-lo pessoalmente."
Essa técnica, somada ao uso da cadeira de escritório, levou Binoche e Schepisi a trabalhar de maneiras novas.
"Quando Fred e eu conversávamos no estúdio, em vez de discutir a interpretação do papel, discutíamos a interpretação das pinturas", contou a atriz. Antes de começar a filmar as cenas com Dina pintando, Schepisi deu a Binoche tempo e espaço para entrar no clima da personagem. Depois, usou duas câmeras ao mesmo tempo para documentar a criação das telas. "Foi uma maneira inovadora, mas ótima, de trabalhar, porque transmite a realidade da tentativa e erro acontecendo de fato na telona, e não tendo que ser representada", disse Schepisi.