Pesquisa sugere que fotos e vídeos moldam a lembrança das pessoas; imagem de Martin Luther King Jr. em exposição em Atlanta| Foto: David Goldman/Associated Press

As memórias podem ser desencadeadas por experiências sensoriais: o som de uma determinada canção, o aroma de um prato que sua avó costumava fazer e fotos de momentos passados com a família e amigos.

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Mas há uma diferença entre as imagens que guardamos em nossas mentes, que incluem o contexto e a interpretação de uma situação, e as capturadas por uma câmera, que não fazem isso. E estas, sugere uma pesquisa, moldam cada vez mais o que lembramos.

Um estudo realizado por Linda Henkel, professora de psicologia na Universidade Fairfield em Connecticut, examinou esse “efeito prejudicial de tirar fotos”.

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Os participantes do estudo foram instruídos a fotografar certas obras de arte durante uma visita guiada a um museu e a simplesmente observar outras. Resultado: os participantes lembravam menos detalhes das obras que tinham fotografado, “pois efetivamente terceirizavam sua memória para a câmera”, escreveu Teddy Wayne no jornal “The News York Times”.

Além de afetar quais memórias retemos, as imagens também parecem definir o modo como nos lembramos das coisas, sugeriu Henkel. “Há uma perspectiva do ‘observador’, de terceira pessoa, contra uma ‘perspectiva de campo’ através de nossos próprios olhos”, disse ela. “As fotos parecem nos levar àquela perspectiva do observador, distanciando-nos de certa maneira, por isso é claramente uma memória reconstruída.”

Isso também se torna generalizado com o uso cada vez maior dos smartphones: estima-se que 80% dos adultos no mundo possuirão smartphones em 2020.

Além de nossas lembranças individuais, as imagens também podem afetar nossa memória coletiva.

Considere alguns dos indicados deste ano ao Oscar de melhor filme que se baseiam em fatos da vida real: “Selma”, “Sniper Americano”, “O Jogo da Imitação” e “A Teoria de Tudo” —todos eles criticados por alterarem a verdade. “Você poderia pensar: isso realmente importa? Não podemos manter o mundo do cinema separado do mundo real?”, escreveu Jeffrey M. Zacks, professor de psicologia e radiologia na Universidade de Washington em St. Louis, Missouri. “Infelizmente, a resposta é não.”

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Um motivo, segundo ele, é que nossas mentes são boas para lembrar o que vemos ou ouvimos, mas não para lembrar a fonte da informação. Por isso, quando os sujeitos da pesquisa foram solicitados a ler ensaios factuais sobre um fato histórico e depois a assistir a um filme com imprecisões sobre o assunto, “os estudantes reproduziram cerca de um terço dos fatos falsos dos filmes em uma prova posterior”, escreveu Zacks. Foi o que aconteceu também em um estudo em que os participantes foram solicitados explicitamente a buscar imprecisões nos vídeos.

Isso não quer dizer que nossa memória coletiva esteja se aprofundando, entretanto. Pelo contrário, os antigos 15 minutos de fama hoje são mais parecidos com “15 segundos de nanofama”, graças ao número aparentemente infinito de vídeos que circulam on-line e sua crescente brevidade. “Conforme a mídia diminui, a fama também”, escreveu Alex Williams.

Essa nanofama criada pelo “submundo da internet da maravilha em um clique, famoso durante um piscar de olhos” nos deu coisas como Jeremy Meeks (“o belo prisioneiro transformado em sensação na internet”), Alex da Target (“o caixa bonitinho do Texas que se tornou astro no Twitter”) e o Tubarão da Esquerda (“o dançarino de Katy Perry vestido de peixe no show no Super Bowl, que se tornou uma sensação na mídia social”).

Então, é claro, essa notoriedade de curta duração talvez não seja totalmente ruim. Se uma imagem é dolorosa de suportar, pelo menos não vai durar muito.