Os confrontos em Trípoli foram considerados os mais violentos desde a derrubada de Muamar el-Kadafi| Foto: Mohamed Elbosifi/agence france-presse — getty images

Durante semanas, milícias líbias rivais vinham atacando posições umas das outras com artilharia, morteiros e foguetes numa luta desesperada para controlar o aeroporto internacional na capital, Trípoli. Então de repente, em 26 de julho, a luta cessou.

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A pausa veio quando, durante a madrugada, aviões militares dos Estados Unidos ofereceram cobertura para a evacuação dos funcionários da embaixada americana.

Vindo tão perto da retirada de outras missões diplomáticas, incluindo das Nações Unidas, o momento pareceu sinalizar uma derrota – para os líbios, que haviam se convencido de que o país iria se unir para salvar a revolução, e para seus aliados ocidentais, que algumas vezes agiram como se a estabilidade da Líbia pudesse cuidar de si mesma.

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"Ninguém na Líbia pode vencer", declarou Mahmoud Okok, de 33 anos, engenheiro civil que morava perto do aeroporto e da embaixada dos Estados Unidos, e que abandonou seu apartamento devido aos bombardeios. Um primo que também morava na região foi morto quando um foguete caiu em sua casa. Agora Okok está se mudando para outro país, com sua esposa e filho pequeno.

"Basta disso tudo", disse ele. "Já perdi a esperança nos líbios".

Há três anos, os Estados Unidos e seus aliados da OTAN usaram poder aéreo para impulsionar os rebeldes líbios a uma vitória avassaladora sobre o Coronel Muammar el-Kadafi, bombardeando tropas do governo para que os rebeldes pudessem avançar sobre cidades e capturar o coronel, quando este tentava fugir.

Mas após a revolta, com o governo da Líbia sofrendo e a violência se espalhando, a administração Obama e seus aliados fracassaram em seus esforços para ajudar os líbios a atingir a democracia ou a segurança. Agora, o país está se desfazendo. Combates de facções em Trípoli e Bengazi deixaram dezenas de pessoas mortas. Ativistas políticos foram assassinados, diplomatas foram sequestrados e cidadãos temem criminosos.

O conflito em Trípoli parece, ao menos em parte, alimentado por um general chamado Khalifa Hifter, que em maio prometeu livrar o país das milícias islâmicas. Ele ganhou apoio dos líbios que temem os extremistas, mas sua campanha também provocou novas divisões e violência. Perto do aeroporto de Trípoli, milícias da cidade de Misurata, que se opõem a Hifter, vêm lutando há semanas com combatentes da cidade de Zintan, que o apoiam.

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A ditadura do coronel Kadafi deixou um país desprovido de instituições, ou figuras políticas de consenso, que possam suavizar a transição. Os líbios pareciam focados em criar as instituições que "o Ocidente estava interessado em vê-los criar", incluindo eleições e um sistema político, explicou Dirk Vandewalle, do Dartmouth College em Hanover, em New Hampshire. "Foi uma coisa oca", disse ele.

Na ausência de um governo forte, um monstruoso estado sombra foi surgindo, centrado no poder de milícias formadas por homens que combateram Kadafi e nunca depuseram suas armas.

Elas se tornaram unidades de segurança, pagas pelo governo e alinhadas com facções políticas ou interesses tribais locais. "Havia cadeias de comando paralelas", afirmou Claudia Gazzini, pesquisadora do International Crisis Group. "As unidades paralelas de segurança se tornaram um problema desde o primeiro dia. Talvez a comunidade internacional não tenha enxergado as consequências disso".

Conforme os líderes das milícias ampliaram seu controle, mediadores líbios e enviados de alto nível foram incapazes de parar os combates nas maiores cidades.

"Este é um momento limítrofe na política líbia", afirmou o professor Vandewalle. "O que estamos vendo, mais do que nunca, é uma luta pela alma da Líbia".

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Um país sem instituições para promover seu governo.

Suliman Ali Zway contribuiu reportando de Bengazi, Osama al-Fitory de Trípoli e David D. Kirkpatrick de Nova York