Os povos da Índia, do Irã e da Europa falam idiomas que descendem de uma língua antiga conhecida como protoindo-europeu. Muitos possíveis berços das línguas indo-europeias já foram propostos, mas apenas dois são discutidos hoje. Uma das hipóteses supõe que as línguas foram transmitidas pela espada. Outra, pelo arado.
A julgar pelo vocabulário reconstruído, os povos que falavam o protoindo-europeu parecem ter sido criadores de gado que conheciam as ovelhas e os veículos com rodas. Arqueólogos constataram que os veículos com roda surgiram por volta de 4000 a.C., sugerindo que os povos que falavam o protoindo-europeu teriam vivido cerca de 6.500 anos atrás, nas estepes ao norte dos mares Negro e Cáspio. Segundo essa “teoria das estepes”, os faladores do protoindo-europeu teriam levado sua língua à Europa, à Índia e ao oeste da China por meio de conquistas ou da atração de sua economia.
Mas o arqueólogo de Cambridge Colin Renfrew propôs, em 1987, que as línguas teriam sido difundidas por agricultores. Segundo esse cenário, o lugar de origem do protoindo-europeu foi a Anatólia, atual Turquia, e os povos que falavam a língua começaram a migrar entre 8.000 e 9.500 anos atrás.
Linguistas contra-argumentaram dizendo que o protoindo-europeu não poderia ter se fragmentado naquela época porque a roda ainda não tinha sido inventada 8.000 anos atrás —e muitas línguas indo-europeias têm palavras relacionadas à roda. Renfrew respondeu que todas essas línguas poderiam ter emprestado a palavra usada para designar a roda, além do próprio invento.
O impasse entre as teorias da estepe e da Anatólia persistiu até 2003, quando dois biólogos neozelandeses, Russel Gray e Quentin Atkinson, da Universidade de Auckland, propuseram um método para construir árvores de descendência linguística datáveis.
Os linguistas históricos tinham desenhado árvores para mostrar como o protoindo-europeu se dividiu em suas línguas “filhas”, tendo por base os cognatos. Por exemplo, a palavra “água” é “water” em inglês, “wasser” em alemão, “vatten” em sueco e “nero” no grego moderno. As palavras inglesa, alemã e sueca são ditas cognatas, pois derivam de uma palavra inferida do protoindo-europeu, “wodr”. Não é o caso de “nero”.
Usando métodos estatísticos desenvolvidos por biólogos para rastrear a evolução de genes e proteínas, os dois biólogos calcularam que o protoindo-europeu foi falado entre 7.800 e 9.800 anos atrás. Em 2012, eles, Remco Bouckaert e outros aplicaram um modelo estatístico desenvolvido para rastrear a transmissão de vírus e encontraram “fundamentação decisiva de uma origem anatólia”.
Porém, duas descobertas anunciadas em fevereiro favorecem a teoria das estepes. Andrew Garrett, da Universidade da Califórnia em Berkeley, o linguista Will Chang e outros estudiosos notaram que, no artigo de 2012, em oito casos em que se presume que uma língua antiga seja a ancestral de uma moderna, foi comprovado que a língua moderna é descendente de uma prima hipotética da língua antiga. Quando eles forçaram a árvore de Bouckaert a adotar as linhagens linguísticas aceitas, a árvore encolheu de tamanho e sua origem passou para 6.500 anos atrás, em concordância com a hipótese das estepes.
Uma segunda confirmação da teoria das estepes emergiu de um estudo de DNA antigo na Europa, baseado na análise de 69 pessoas que viveram entre 3.000 e 8.000 anos atrás.
Os padrões presentes no DNA contêm evidências de uma migração para a Alemanha, 4.500 anos atrás, de povos da cultura Yamnaya, das estepes, a primeira a desenvolver uma economia pastoril baseada em carroças, ovelhas e cavalos.
A discussão ainda não foi encerrada, porém. Renfrew, o autor da hipótese anatólia, acha que existe uma “grande possibilidade” de a língua indo-europeia ter se disseminado primeiro da Anatólia para as estepes, e de lá para a Europa. E os biólogos que traçam árvores linguísticas estatisticamente prováveis não acreditam que a equipe de Garrett esteja justificada ao obrigar as árvores a se dobrarem às restrições de ancestralidade.
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