O corpo abriga cerca de 100 trilhões de bactérias e de outros micróbios, coletivamente conhecidos como microbioma. Os naturalistas perceberam os moradores invisíveis pela primeira vez nos anos de 1600, mas somente nos poucos últimos anos é que realmente se familiarizaram com eles. Uma pesquisa recente deu boa fama ao microbioma. Chegamos a apreciar o quão benéficos são os nossos micróbios decompondo o nosso alimento, combatendo infecções e alimentando o sistema imunológico. É um agradável jardim invisível, do qual devemos cuidar para o nosso bem-estar.
Mas na revista Bioessays, uma equipe de cientistas levantou uma possibilidade mais horripilante. Talvez a nossa miscelânea de germes também esteja influenciando o nosso comportamento a fim de avançar o seu próprio sucesso evolucionário nos dando desejos por certos alimentos, por exemplo. Pode ser que o microbioma seja nosso mestre da marionete. De fato, existem muitos exemplos bem documentados de parasitas que controlam seus hospedeiros.
Algumas espécies de fungos, por exemplo, se infiltram no cérebro das formigas e as coagem a subir em plantas e se prenderem na parte inferior das folhas. Os fungos então brotam das hospedeiras e despejam esporos nas formigas não infectadas embaixo. Como os parasitas controlam os seus hospedeiros ainda é um mistério. Mas parece que eles liberam moléculas que podem influenciar os cérebros das vítimas.
O microbioma tem o potencial bioquímico de fazer a mesma coisa. No intestino, as bactérias criam as mesmas substâncias químicas que os neurônios utilizam para se comunicar entre si, como a dopamina e a serotonina. E os micróbios podem administrar essas moléculas neurológicas à rede de terminações nervosas que se estendem no trato gastrointestinal. Inúmeros estudos recentes demonstraram que a flora intestinal pode utilizar esses sinais para alterar a bioquímica do cérebro. Em comparação aos ratos comuns, os ratos criados livres de germes se comportam de maneira diferente em vários aspectos. Eles são mais ansiosos, por exemplo, e têm memória fraca.
Adicionar certas espécies de bactérias ao microbioma de um rato pode revelar outras formas nas quais elas podem influenciar o comportamento. Algumas bactérias diminuem os níveis de estresse no rato. Algumas experiências sugerem que as bactérias consigam influenciar a forma como seus hospedeiros se alimentam. Os ratos livres de germes desenvolvem mais receptores de sabores doces em seus intestinos, por exemplo. Eles também preferem beber bebidas mais doces em comparação aos ratos normais.
O dr. Carlo Maley, biólogo evolucionário e coautor do estudo da Bioessays, e seus colegas argumentam que nossos hábitos alimentares criam um forte motivo para os micróbios nos manipularem. "Da perspectiva dos micróbios, o que comemos é uma questão de vida ou morte", ele disse. Diferentes espécies de micróbios florescem com diferentes tipos de alimentos. Se puderem nos estimular a comer mais do alimento de que precisam, eles podem se multiplicar.
As manipulações dos micro-organismos podem preencher algumas das lacunas na nossa compreensão dos desejos alimentares, declarou Maley. Os cientistas tentaram explicar os desejos alimentares como uma forma do corpo construir um abastecimento de nutrientes depois da privação, ou como vícios. Talvez, ele sugere, os certos tipos de bactérias que florescem com chocolate estejam nos estimulando a alimentá-las.
A coisa mais importante, segundo os cientistas, é fazer experiências para ver se os micróbios realmente estão nos manipulando. Mark Lyte, microbiologista do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Técnica do Texas, está investigando se uma espécie em particular de bactérias pode mudar as preferências que os ratos têm por certos tipos de comida. "Isso não é uma coisa definitiva", disse Lyte. "Isso precisa de confirmação científica".
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