Esta cidade do velho oeste americano, famosa por seus tiroteios e jogos de azar, passa por uma crise de identidade.
Durante mais de um século a promessa de fortuna atraiu forasteiros a Deadwood, povoado que nasceu durante a corrida ao ouro nos montes Black Hills, na Dakota do Sul. Mas onde no passado bares e bordéis se espalhavam por Main Street, a rua principal da cidade, hoje os estabelecimentos atraem turistas com máquinas caça-níqueis cheias de luzes piscantes.
Hoje poucos comerciantes vestem as roupas da época do faroeste. Os bares deram lugar a casas de jogos. Motos Harley-Davidson ocupam os lugares dos postes onde se amarravam cavalos, destoando do passado de tiroteios. "O clima é um pouco mais moderno, mais Las Vegas", disse Russell Lehmbeck, 43 anos, turista para quem Deadwood parece confusa em relação à identidade que quer ter. "Antigamente a sensação que eu tinha aqui era que poderia montar um cavalo e andar pela rua e ninguém estranharia nem um pouco."
Os jogos de azar infundiram nova vida a Deadwood um quarto de século atrás. Numa cidade de 1.200 habitantes, os impostos arrecadados graças a três dúzias de cassinos canalizaram dinheiro para a restauração de prédios históricos, um museu e melhorias municipais.
Mas à medida que o jogo ganha força em outros Estados americanos, a possibilidade de atrair turistas em grande número a este local isolado pode depender de Deadwood ser capaz de reconstruir sua identidade própria.
Desde a década de 1870 Deadwood ficou conhecida como um lugar de lendas, devassidão e ilegalidade. Ali está enterrado Wild Bill Hickok, o pistoleiro jogador que foi morto numa mesa de pôquer segurando na mão dois pares de ases e oitos algo que ficou conhecido no pôquer como "mão do homem morto".
A preocupação com a preservação da cidade chegou a níveis críticos depois de um incêndio destruir um prédio histórico, em 1987. Um grupo fez lobby junto a legisladores estaduais para que aprovassem os jogos de azar na cidade, criando um novo fluxo de receita de impostos.
Os primeiros cassinos foram abertos dois anos depois, atraindo US$ 145 milhões em apostas apenas em seus primeiros oito meses de funcionamento. Naqueles primeiros anos, tantos forasteiros lotaram Deadwood que um cassino tinha que esvaziar suas máquinas três vezes por dia para que as fichas não acabassem, contou Mary Larson, que administrou uma das primeiras casas de jogos da cidade, Deadwood Dicks. "Todo o mundo podia encontrar emprego", ela contou.
Mas, agora que o jogo foi legalizado em 48 Estados, a atividade perdeu força em Deadwood. No ano passado a receita do jogo caiu 4% em relação ao ano anterior. Ron Russo, fundador do comitê que quer mudar a imagem de Deadwood, disse que as reuniões focam a renovação do turismo. Russo comprou o Fairmont Hotel and Oyster Bar semanas depois de os jogos de azar serem aprovados. Hoje ele tem dificuldades para pagar as contas.
"Acordei um dia e percebi que ia perder tudo", ele disse. Mas percebeu, também, que não poderia buscar uma mudança que beneficiasse apenas a ele. "Eu não poderia me salvar se não salvasse toda a cidade."