Autoridades acreditam que o túmulo de Miguel de Cervantes possa atrair turistas| Foto: Carlos Lujan para the new york times

Ele pode ser hoje um dos heróis literários da Espanha, mas, enquanto viveu, quatro séculos atrás, Miguel de Cervantes podia ser considerado em certa medida "um perdedor", disse o historiador espanhol Fernando de Prado. Autor do relato das aventuras do cavaleiro errante Don Quixote, Cervantes viveu na pobreza, deixou de receber uma promoção militar e passou cinco anos como prisioneiro de piratas, depois de seu navio da Marinha ser interceptado.

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O reconhecimento e o sucesso de seus escritos chegaram tarde demais para lhe proporcionar qualquer fortuna.

Uma das poucas coisas que aconteceu conforme a vontade de Cervantes foi seu sepultamento, em 1616, no local onde ele queria: o convento das Trinitárias em Madri. Mas o local exato de seu túmulo nunca ficou claro, e isso é algo que Prado acredita que poderá descobrir, possivelmente já em abril, quando uma equipe de pesquisadores equipados com tecnologia de radar deve entrar no claustro na esperança de localizar e identificar os restos mortais do escritor. Cervantes recebeu autorização especial para ser sepultado no convento porque a ordem religiosa das Trinitárias tinha ajudado a conseguir sua libertação do cativeiro.

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Para historiadores e outros, a relativa obscuridade do local onde Cervantes foi sepultado forma um contraste ignominioso com o lugar de destaque que ele ocupa no panteão da literatura ocidental. "O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha", publicado em dois volumes em 1605 e 1615, é visto amplamente como o alicerce da ficção moderna. Seus principais personagens e acontecimentos influenciaram a literatura e a linguagem, dando origem ao termo "quixotesco".

Mesmo assim, Prado disse que, quando primeiro procurou as autoridades da Prefeitura de Madri, em 2010, para pedir que financiasse seu projeto, foi rejeitado.

Aos 21 anos, Cervantes deixou a Espanha rumo à Itália para evitar problemas legais, depois de um duelo. Em Roma, colocou-se a serviço de um cardeal católico e acabou combatendo na batalha naval de Lepanto, onde a esquadra católica da Liga Santa barrou o controle do Mediterrâneo pelo Império Otomano.

Cervantes continuou sua carreira militar na Itália até 1575, quando seu navio foi capturado. Foi libertado após o pagamento de um resgate e retornou à Espanha, onde se esforçou para reconstruir sua vida e pagar suas dívidas, dedicando-se a escrever.

Pedro Corral, o funcionário da prefeitura de Madri que é responsável pelas artes, sugeriu que encontrar o túmulo de Cervantes pode proporcionar a Madri o mesmo tipo de incremento turístico que Stratford-upon-Avon recebe graças ao túmulo de Shakespeare.

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Indagado sobre a razão da rejeição inicial do projeto de Prado, Corral recordou uma tentativa fracassada feita no final dos anos 1990 para identificar os restos mortais do pintor Diego Velásquez, supostamente sepultado num lugar onde a prefeitura decidiu construir um estacionamento.

"A busca por Velásquez foi um fiasco", explicou.

"Mas precisamos esquecer os erros do passado e reconhecer que é hora de a Espanha encontrar seu gênio literário."