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Anos 1970 continuam a inspirar grifes; ao lado, modelo veste Jill Stuart e Paco Rabanne | Anna Palma /
Anos 1970 continuam a inspirar grifes; ao lado, modelo veste Jill Stuart e Paco Rabanne| Foto: Anna Palma /

Como era o visual dos anos 1970? “Era como se você estivesse andando por aí nua, só que estava usando roupas”, disse Phyllis Magidson, curadora de figurinos e têxteis no Museu da Cidade de Nova York. Para a estilista Betsey Johnson, “era um vale-tudo estilístico”.

Uma mistura de vestidos de noite à moda de Harlow, mangas e calças boca de sino, a moda dos anos 1970 era sedosa e macia. As silhuetas eram suaves, e raramente se usava sutiã.

Mas essa sensualidade lânguida, que fazia parte de um florescimento estético que se estendeu de 1967 a 1973, não demorou a acabar.

Só que ainda não morreu por completo. “Determinados elementos desse período vivem se repetindo”, disse Rebecca Arnold, historiadora da moda no Instituto Courtauld de Arte, em Londres.

Para ela, o chamado estilo anos 1970 na realidade é uma amálgama estética que abrange “terninhos sofisticados, elementos boêmios e versões quase infantis do visual de baby-doll dos anos 1960.”

Hoje, estilistas procuram recriar uma era que não para de tocar em suas cabeças, como um filme que se repete sem parar.

Em sua coleção para a primavera de 2015, Tom Ford recuperou o estilo de Bianca Jagger e outros ídolos da época, colocando na passarela um terno de noite com calça boca de sino que trouxe à mente os figurinos de dândi dos tempos em que a primeira mulher de Mick Jagger povoava os tabloides.

A Chanel rendeu homenagem às personagens do musical “Charlie Girl”, com blusas de mangas boca de sino e calças Capri de pernas largas. Marc Jacobs propôs uma camisa de mangas largas e calças folgadas cobertas de estampas da Liberty, de aparência ingênua. Rebecca Taylor apresentou um máxi diáfano. A Givenchy, um colete de couro com tachas. A Gucci, um trench coat de camurça macia que poderia ter sido usado por Lauren Hutton.

No “Business of Fashion”, Robin Mellery-Pratt escreveu que, embora os sapatos e artigos de couro Saint Laurent estejam vendendo bem, a coleção de prêt-à-porter da grife, com influências dos anos 1960 e 1970, está crescendo mais rápido que qualquer outra categoria.

Quem poderia deixar de roubar ideias do passado da moda, quando as imagens do passado estão em todo lugar? Os anos 1970 foram captados no cinema em “Trapaça” e, mais recentemente, em “Vício Inerente”, baseado num romance de Thomas Pynchon.

Vista em retrospectiva, essa década dá a impressão de ter sido plena de prazeres terrenos.

“Nossos atos não tinham consequências como as de hoje”, comentou o figurinista Mark Bridges, cujos créditos no cinema incluem “Boogie Nights” e “Vício Inerente”. “As pessoas fumavam sem parar, você transava com quem bem entendesse e a regra era a experimentação em todas as frentes.”

Não surpreende, portanto, que os anos 1970 atraiam uma geração que ainda não desenvolveu um estilo seminal próprio.

A atração persistente dessa década também deve algo às mães. “A maioria dos estilistas que hoje comandam grifes teve mães que estavam no auge, em termos de moda, nos anos 1970”, comentou David Wolfe, do Doneger Group, agência de previsão de tendências.

O jornalista musical britânico Simon Reynolds escreveu em “Retromania: Pop Culture’s Addiction to Its Own Past” que “em vez de girar em torno deles próprios, os anos 2000 viram todas as décadas anteriores acontecerem de novo, simultaneamente”.

Mas, prossegue Reynolds, o processo de se inspirar no passado, e em especial nos anos 1970, chegou ao auge “quando estilistas como Marc Jacobs e Anna Sui vasculharam os estilos de épocas anteriores praticamente assim que elas tinham terminado”.

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