Momentos antes da pré-estreia em San Francisco do documentário "Valley Uprising", sobre a evolução do montanhismo no Parque Nacional Yosemite, Gary Erickson, fundador da Clif Bar, foi convidado a ficar de pé para ser aplaudido.
A Clif Bar, fabricante de barras de cereais, era uma das principais patrocinadoras do filme.
Dois meses depois, a Clif Bar retirou seu patrocínio de cinco montanhistas de primeira linha que apareciam no filme, em alguns casos faltando um ano ou mais para o fim do contrato, sob alegação de que os escaladores assumiam riscos que deixavam a empresa em posição desconfortável.
O fato causou uma rara reflexão sobre até que ponto o risco deve ser recompensado. "Para eles [patrocinadores] é mesmo uma bola de neve", disse Cedar Wright, um dos cinco que tiveram os patrocínios interrompidos. "Onde fica o limite?"
Outros que tiveram os contratos rompidos foram Alex Honnold e Dean Potter, ambos apontados como responsáveis por ampliar os limites do esporte nos últimos anos. Eles tiveram participações importantes no filme, principalmente nas cenas em que apareciam escalando rotas precárias, com as mãos nuas e sem cordas, numa técnica chamada "free solo". Potter também é visto caminhando sobre uma corda suspensa entre imponentes formações rochosas.
Os outros dois montanhistas que perderam seus contratos com a Clif Bar foram Timmy ONeill e Steph Davis, que passa boa parte do seu tempo praticando o "base jumping" (paraquedismo saltando de um objeto fixo, como um prédio, uma antena ou uma ponte) e voando de "wingsuit" (traje planador). No ano passado, seu marido, Mario Richard, morreu ao cair num voo desse tipo.
"Concluímos que essas modalidades do esporte estão expandindo as fronteiras e levando o elemento do risco para um lugar onde nós, como empresa, já não estão dispostos a ir", escreveu a Clif Bar em carta aberta aos escaladores. "Entendemos que alguns considerem que essas formas de escalada estão empurrando o esporte para novas fronteiras. Mas nós já não nos sentimos bem nos beneficiando do risco que certos atletas estão assumindo em áreas do esporte onde não há margem para erro."
Potter, que passou mais de uma década sendo patrocinado pela Clif Bar, descreveu o cancelamento do contrato como "um grande golpe emocional". O que mais o aborreceu foi o fato de a decisão aparentemente estar ligada à repercussão de "Valley Uprising". A Clif Bar continua sendo uma das principais patrocinadoras do filme.
"Seria compreensível se eles dissessem: Não deveríamos ter patrocinado o filme e não estamos alinhados com vocês, disse Potter. "Eu teria entendido, e diria: Pois é, eu sei que nós aparecemos bastante nele. Mas o que eles fizeram foi uma manobra comercial suja. Eles continuam patrocinando o filme, mas não os atletas? Pareceu vil por parte da Clif Bar usar como ferramenta marketing, por um lado, algumas das minhas melhores escaladas e das melhores escaladas do Alex, e por outro lado nos demitir."
Honnold pareceu aceitar a decisão da Clif Bar. "É uma reflexão geral sobre o risco", disse. "A decisão sobre o risco que a Clif está tomando é o mesmo tipo de decisão que todos nós tomamos como atletas. Eu acho que é completamente justo que eles tracem um limite."
A Clif Bar ainda lista 99 atletas patrocinados em seu site. Honnold está entre os que gostariam de saber por que a marca de repente escolheu excluir cinco montanhistas específicos, sendo que ele considera esportes como o surfe em ondas grandes, o esqui e o snowboard em grandes montanhas como atividades mais perigosas do que a escalada sem cordas.
Wright, que além de escalador é cineasta, já fez filmes com patrocínio da Clif Bar mostrando as ascensões "free solo" de Honnold. Ele disse que a Clif Bar sempre havia demonstrado apoio até agora."Isso mostra uma falta de compreensão sobre o esporte", disse Wright, "e uma falta de respeito aos atletas que ajudaram a construir a sua marca".
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