Quando Sarah McNally, dona da livraria McNally Jackson em Lower Manhattan, se propôs a abrir uma filial, logo pensou em um bairro com reputação literária impecável, por onde passaram nomes que vão desde Edgar Allan Poe a Nora Ephron: o Upper West Side. E quase teve um enfarte com os preços dos aluguéis. "São impraticáveis! Espaços pequenos a US$40 mil por mês ou mais. Dá vontade de chorar", reclama ela. São eles que vêm forçando muitas lojas a se mudar, seja a pizzaria ou a florista da esquina; o problema é que estão expulsando as livrarias também, ameaçando a autoimagem da cidade como centro do universo literário, sede da indústria editorial e local que atrai e cativa leitores ávidos. "Às vezes tenho a impressão de estar trabalhando em um campo que está desaparecendo sob meus pés", desabafa o biógrafo e historiador Robert Caro, nova-iorquino da gema.
Há pouco tempo os donos da Livraria Rizzoli foram informados de que terão que deixar o espaço grandioso que ocupam na Rua 57 porque os proprietários decidiram demolir o prédio. A Livraria Bank Street de Morningside Heights anunciou, em dezembro passado, que não vai renovar o contrato de locação que vence em fevereiro de 2015, alegando ter perdido muito dinheiro na última década. Ambas estão tendo dificuldades para encontrar outros imóveis. Antigamente as lojinhas eram expulsas pelas megalojas, deixando os apaixonados por livros com medo de que, um dia, Manhattan fosse dominada somente pelas grandes cadeias. Agora, porém, até elas estão fechando as portas. Desde 2007, cinco Barnes & Noble já pediram arrego; cinco Borders fecharam em 2011, quando a empresa faliu. Dados oficiais revelam que, de 2000 a 2012, o número de livrarias em Manhattan caiu quase trinta por cento, de 150 para 106. Os postos de trabalho, é claro, sofreram, despencando 46 por cento no mesmo período.
Para conservacionistas, editoras e escritores, alarmados com o fenômeno, o desaparecimento das livrarias gerou uma crise que requer a intervenção do novo prefeito, Bill de Blasio. Com o fechamento das lojas de cadeias, ficou muito difícil comprar novidades em Midtown, por exemplo, mesmo bairro que abriga Hachette Book Group, HarperCollins, Simon & Schuster e grande parte da Penguin Random House. "Comparada a outras cidades, Nova York não é mais a cidade das livrarias", afirma Michael Pietsch, da Hachette. Apesar das condições inóspitas, porém, algumas lojas parecem estar fazendo sucesso como a Posman Books, cadeia pequena e independente, que abriu uma nova filial no Rockefeller Center em 2011.
Assim como muitos escritores fugiram para o Brooklyn ou o Queens em busca de aluguéis residenciais mais baratos, os donos de livrarias fizeram o mesmo. A Greenlight, no Brooklyn, abriu em 2009 e mantém um movimento robusto. David Rosenthal, presidente e editor da Blue Rider Press, marca que pertence ao grupo Penguin Random House, previu que lojas como Urban Outfitters e Anthropologie se destacariam no cenário editorial enquanto as livrarias isoladas diminuiriam. "A probabilidade de alguém passar um tempão em uma livraria é cada vez mais rara. A tendência é a popularização de lojas que não vendem só livros. Melhor que nada", filosofa ele. Depois de passar anos procurando um imóvel para sua filial em Manhattan, Sarah McNally desistiu da busca. E apostou no Brooklyn, onde encontrou um loft "magnífico". A loja vai abrir no segundo semestre.
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