Alguns bebês muito prematuros vêm sobrevivendo fora do útero antes do que os médicos antes consideravam ser possível, documentou um estudo novo, levando a questionamentos sobre o grau de intensidade com que devem ser tratados.

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Feito com milhares de bebês prematuros nos EUA, o estudo constatou que só uma minoria minúscula dos bebês nascidos com 22 semanas de gestação que foram tratados sobreviveu com poucos problemas.

A grande maioria morreu ou apresentou problemas de saúde graves. Grupos médicos já discutem se o consenso em relação à idade de viabilidade, hoje citada pela maioria dos especialistas como sendo 24 semanas, pode ser reduzido para 22.

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O estudo revelou que hospitais dotados de unidades neonatais sofisticadas divergem muito no enfoque em relação aos bebês de 22 semanas, desde alguns que não oferecem nenhum tratamento médico ativo até alguns poucos que tratam assertivamente a maioria dos casos com medidas como ventilação, intubação e surfactantes para melhorar o funcionamento dos pulmões dos bebês.

“O resultado confirma que, se nada for feito, esses bebês não sobrevivem, e se algo é feito, alguns deles sobrevivem”, disse o médico David Burchfield, da Universidade da Flórida, que não participou do estudo. “Muitos dos que sobreviveram o fizeram com deficiências graves.”

Publicados no “New England Journal of Medicine”, os resultados do estudo provavelmente vão influenciar a discussão entre associações médicas sobre como orientar os pais.

Nos EUA, a Suprema Corte declarou que os Estados devem permitir o aborto quando o feto não é viável fora do útero. A mudança dos critérios sobre a idade mínima para a viabilidade do feto pode suscitar dúvidas quanto à legalidade de abortos.

Grupos médicos já vêm discutindo se é razoável oferecer tratamento médico a bebês nascidos com 23 semanas de gestação. Alguns hospitais já o fazem.

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Mas os bebês nascidos com entre 22 e 23 semanas são um ponto de interrogação; suas chances de sobrevivência são pequenas, variando de acordo com fatores como o peso ao nascer e se a mãe recebeu ou não tratamento com corticosteroides antes do parto, o que pode ajudar os pulmões e o cérebro.

Feito com 5.000 bebês nascidos com entre 22 e 27 semanas de gestação, o estudo concluiu que os de 22 semanas não sobreviveram sem intervenção.

Dos 78 casos em que foi dado tratamento ativo, em 18 deles os bebês sobreviveram. Com um ano de idade, sete desses 18 não apresentavam deficiências moderadas ou graves. Seis deles apresentavam problemas graves, como cegueira ou surdez.

Dos 755 bebês nascidos com 23 semanas, 542 receberam tratamento. Mais ou menos um terço desses 542 sobreviveram, e cerca de metade destes não teve problemas importantes.

À medida que se aperfeiçoam as técnicas para manter bebês vivos, os pais enfrentam escolhas dilacerantes que às vezes são baseadas no fato de a idade estimada ser 22 semanas e um dia ou 22 semanas e seis dias.

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O estudo constatou que os hospitais tendem a “arredondar para cima”. “É muito difícil dizer a uma mãe: ‘Se você der à luz hoje, não farei nada, mas se der à luz amanhã, farei tudo’”, explicou o médico Neil Marlow, do University College London.

O estudo descobriu que quatro dos 24 hospitais estudados não intervieram no caso de bebês de 22 semanas, cinco intervieram com todos os bebês de 22 semanas, e os outros variaram. Ao todo, um quinto dos 357 bebês dessa idade foram tratados.

O professor de pediatria Edward Bell, da Universidade de Iowa, comandou o estudo e disse que vê 22 semanas como novo marcador de viabilidade. “Acho que diríamos que esses bebês merecem uma chance”.

O médico Jeffrey M. Perlman, do New York-Presbyterian Hospital Weill Cornell Medical Center, discorda. Ele disse que é importante levar em conta que passar muitos meses em uma unidade neonatal pode ser “como participar de uma corrida de obstáculos ou voar em um avião com turbulência pesada, e cada uma dessas espirais pode ter impacto sobre o cérebro”.

No hospital dele, “cuidamos dos bebês que nascem com 24 semanas ou mais. Se o bebê nasce com 23 semanas, conversamos com a família e lhe explicamos que, para nós, é um caminho desconhecido. Com 22 semanas, a meu ver os resultados são tão deploráveis que não recomendo intervenção alguma.”

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Edward Bell aponta para as histórias de sucesso, incluindo a de Chrissy Hutchinson, 32, de Manchester, Iowa. Sua bolsa se rompeu quando ela tinha 21 semanas e seis dias de gestação.

O primeiro hospital ao qual ela foi “disse que não havia chance alguma de sobrevivência e que, se o bebê não nascesse respirando, não o ressuscitariam”.

Os Hutchinson ligaram para a Universidade de Iowa, e Alexis nasceu ali, com 22 semanas e um dia de gestação, pesando 498 gramas. Ela passou cinco meses numa UTI neonatal. Agora, tirando o fato de ser mais vulnerável a vírus do sistema respiratório, Alexis é uma menina saudável de cinco anos de idade.

Danielle Pickering, 32, e seu marido, Clayton, optaram por tratamento quando Danielle foi internada em 2012, com 22 semanas de gestação. Hoje seu filho Micah “é um garotinho de quase três anos e muita garra”, que sofre de doença pulmonar crônica e atraso na fala. “Ele era o que o Senhor nos deu. Resolvemos fazer tudo o que fosse possível.”