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Médicos temem avanço da ebola

A epidemia de ebola já matou mais de 660 pessoas. Trabalhadores da Cruz Vermelha com o corpo de uma vítima | Samuel Aranda para The New York Times
A epidemia de ebola já matou mais de 660 pessoas. Trabalhadores da Cruz Vermelha com o corpo de uma vítima (Foto: Samuel Aranda para The New York Times)

Oito jovens, alguns armados com estilingues e facões, estavam parados ao longo do caminho para o vilarejo de Kolo Bengou. Acredita-se que o vírus mortal da ebola tenha infectado várias pessoas da vila e os jovens bloqueavam o acesso para impedir que profissionais da saúde entrassem.

"Não queremos visitantes", disse o líder, Faya Iroundouno, 17 anos, presidente da liga da juventude de Kolo Bengou. "Não queremos saber de nenhum contato com ninguém".

Citando o grupo internacional de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras, Iroundouno disse que "onde quer que essas pessoas tenham passado, as comunidades foram atacadas pela doença".

Os profissionais da saúde daqui dizem estar enfrentando dois inimigos: a epidemia inédita de ebola, que até agora já matou mais de 660 pessoas em quatro países desde que foi detectada em março, e o medo, que gerou uma hostilidade crescente contra a ajuda externa.

Os profissionais e as autoridades, culpados pelas populações em pânico por disseminarem o vírus, foram ameaçados com facas, pedras e facões, com os veículos muitas vezes sendo cercados por bandos hostis. Barreiras com troncos de árvore em estradas de terra impedem as equipes médicas de chegarem aos povoados onde existem suspeitas do vírus. Isolados e sem ajuda, os moradores doentes e os mortos estão infectando outros.

"Não é muito comum que desconfiem de nós", afirmou Marc Poncin, da Médicos Sem Fronteiras, principal grupo a combater a doença por aqui. "Não estamos impedindo a epidemia".

As pessoas parecem ter mais confiança em curandeiros.

As autoridades da saúde dizem que a epidemia fugiu ao controle, indo e vindo pelas fronteiras porosas da Guiné e dos países vizinhos de Serra Leoa e Libéria – muitas vezes nas traseiras de motocicletas baratas que cortam as estradas –, infiltrando-se nas animadas feiras livres, sobrecarregando as parcas instalações de saúde e dizimando vilarejos.

Foi nesta área rural, distante 650 quilômetros por estradas ruins da capital da Guiné, Conacri, que o surto foi identificado pela primeira vez, e onde foi mais forte. Mais de 80 por cento dos infectados desta região morreram, e a Guiné registrou mais do que o dobro das mortes de outros países.

Em Koundony, mais de um oitavo da população morreu, incluindo os chefes; muitos fugiram.

Não existe cura conhecida para o vírus, que causa febre intensa, vômito, diarreia e hemorragia incontrolável em cerca de metade dos casos e, em 90 por cento das vezes, resulta em morte rápida. Tocar uma pessoa infectada ou o corpo de uma vítima é perigoso; entrar em contato com sangue, vômito ou fezes pode ser fatal.

Agora, o temor dos profissionais da ajuda humanitária, principalmente da Médicos Sem Fronteiras e da Cruz Vermelha, é ajudar a espalhar a enfermidade, criando uma crise secundária.

Os moradores fogem ao ver um caminhão da Cruz Vermelha. Quando passa um ocidental, eles gritam "ebola, ebola" e fogem.

A ONG Médicos Sem Fronteiras classificou recentemente 12 vilarejos na Guiné como "vermelhos", ou seja, podem ter o vírus da ebola, mas eram inacessíveis por razões de segurança.

Os doentes são escondidos e os mortos, enterrados, sem qualquer proteção.

O Ministério da Saúde de Serra Leoa anunciou recentemente que o principal médico a combater a doença foi contaminado e que o vírus se espalhou para um quarto do país, com uma morte confirmada na Nigéria. Uma organização de ajuda humanitária que atua na Libéria, a Samaritan’s Purse, afirmou que dois norte-americanos, um médico que tratava de pacientes com ebola e um profissional de saúde, contraíram a doença. O governo liberiano disse que um de seus médicos mais famosos morreu de ebola, segundo a agência de notícias Associated Press. A cautela em relação à intervenção externa tem raízes profundas. Esta parte da Guiné, conhecida como Região da Floresta, onde mais de 200 pessoas morreram da doença, é conhecida pela forte crença na religião tradicional. O ditador que governou o país com punho de ferro durante décadas, Ahmed Sékou Touré, não teve muito sucesso durante uma campanha na década de 60 para erradicar essas crenças, apesar da queima coletiva de talismãs e amuletos.

Pouco tempo atrás, ao falar com os moradores de Bawa, onde uma mulher havia acabado de morrer, o governador da província de Guéckédou, Mohammed Cinq Keita, alertou: "Não existe raiz, folha nem animal que possam curá-los. Não se deixem enganar".

Nos arredores da fronteira com Serra Leoa, a Médicos Sem Fronteiras descobriu um paciente de ebola que foi "tratado" de forma particular na vila de Teldou e depois voltou à casa de seus parentes em outro povoado, possivelmente infectando inúmeras pessoas.

As autoridades começaram uma campanha para abrir os povoados fechados – houve prisões em Kolo Bengou –, mas na minúscula Koundony, o medo é palpável.

Há poucos dias, um caminhão da Cruz Vermelha se encaminhava ao cemitério para entregar o corpo de Marie Condé, de 14 anos, envolto em plástico.

Enquanto o cadáver era descarregado do caminhão, uma lamentação aguda quebrou o silêncio local. "Não existe cura!", uma mulher berrava. "Não existe cura!". O coveiro, meio-irmão de Marie, Famhan Condé, de 26 anos, suava enquanto tirava a terra com a pá. Segundo ele, era a 26ª cova que abria desde o início da epidemia.

"Estamos todos assustados aqui", declarou. "Não existe solução. Não podemos fazer nada. Somente Deus pode nos salvar".

Moradores tentam impedir a chegada da doença.

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