O fervor antitruste na Europa parece ter atingido seu ápice.

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Apple, Google e Facebook são alvos de investigação. Contra a Amazon, existem ao menos três inquéritos.

A principal reguladora antitruste da Europa, Margrethe Vestager, quer nos fazer acreditar que é apenas coincidência que tantos alvos sejam companhias de tecnologia dos EUA: “Isso apenas reflete que há muitas empresas americanas fortes que influenciam o mercado digital em outros lugares”, disse ela.

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Mesmo que seja verdade, por que seria assim? Por que a Europa não promoveu o tipo de inovação que produziu companhias tecnológicas de enorme sucesso?

Nos Estados Unidos, três das dez maiores empresas em capitalização de mercado são companhias de tecnologia fundadas nos últimos 50 anos: Apple, Microsoft e Google. Na Europa, quase não há nenhuma entre as dez maiores.

No entanto, se alguma região do mundo poderia competir com os EUA em tecnologia seria a Europa. A União Europeia tem universidades veneradas, uma força de trabalho qualificada, consumidores afluentes e tecnicamente experientes e grandes reservas de capital de investimento.

A Europa tem uma longa história de invenções, que incluem a imprensa, as lentes ópticas usadas em microscópios e telescópios e a máquina a vapor.

Mas recentemente...?

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A King Digital Entertainment, criadora do videogame sensação Candy Crush hoje baseada em Londres, foi fundada há uma década na Suécia, país que emergiu como um canteiro de inovação em videogames. Um alemão, Karlheinz Brandenburg, leva o crédito pela invenção do formato MP3 de música digital, e o aplicativo de telecomunicações Skype foi criado por um grupo de dois escandinavos e três estonianos. Mas a Apple criou o tocador de MP3 iPod e a eBay comprou o Skype em 2005 (hoje propriedade da Microsoft).

Isso não passou despercebido na Europa.

A UE revelou sua estratégia de “Mercado Único Digital” para promover o empreendedorismo europeu e reduzir as barreiras à inovação. Os países europeus tentaram replicar a massa crítica de um Vale do Silício com centros tecnológicos como o Parque de Ciência de Oxford, no Reino Unido, a “Alameda do Silício”, em Berlim, o Vale do Isar, em Munique, e as “Docas do Silício”, em Dublin.

Há barreiras institucionais e estruturais à inovação na Europa, como menores reservas de capital de investimento e leis de emprego rígidas que restringem o crescimento. Porém, Jacob Kirkegaard, economista dinamarquês e professor convidado no Instituto Peterson para Economia Internacional, e a alemã Petra Moser, professora de economia na Universidade Stanford, na Califórnia, acreditam que as principais barreiras são culturais.

Muitas vezes é desprezado que o número de fracassos de start-ups americanas é muito maior que o de sucessos. “Falhe depressa e com frequência” é um mantra do Vale do Silício, e a liberdade para inovar está inextricavelmente ligada à liberdade de errar.

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Na Europa, o fracasso encerra um estigma muito maior do que nos Estados Unidos.

A professora Moser mencionou o caso de um empresário em sua cidade, na Alemanha, que cometeu suicídio após sua empresa ir à falência. “Na Europa, a falência é considerada uma tragédia pessoal”, disse ela. “Nos EUA, é uma espécie de medalha de honra. Um ambiente como o europeu não incentiva as pessoas a assumirem riscos e empreender.”

Também há pouco ou nenhum estigma no Vale do Silício com a demissão. O próprio Steve Jobs foi obrigado a sair da Apple. “As companhias americanas permitem que seus empregados saiam e experimentem outras coisas”, disse Moser. “Então, se der certo, ótimo, a companhia matriz adquire a start-up. Caso contrário, contratam o funcionário de volta. É um ótimo sistema. Permite que os funcionários experimentem e testem coisas. Na Alemanha você não pode fazer isso. As pessoas o acusam. Consideram uma deslealdade.”

Os europeus também são menos receptivos ao tipo de inovação perturbador representado por um Google ou Facebook, disse Kirkegaard.

Ele citou o Uber, o serviço de “caronas” recebido com hostilidade na Europa. Para ele, a reação diz mais do que sobre o poder das operadoras de táxis atuais.

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“É mais profundo que isso. “Os nova-iorquinos não sentem saudade dos táxis amarelos. Em Londres, o táxi preto é considerado algo que faz Londres ser o que é. Os americanos tendem a agir de maneira mais racional sobre os bens e os serviços que consomem, porque não estão ligados a suas identidades nacionais e regionais.”

Como centros de pesquisa e inovação, as universidades da Europa há muito cederam a liderança às dos Estados Unidos.

O sistema europeu tende a ser muito rígido. “Se você não se sair bem até os 18, está fora”, disse Moser. “Isso elimina muita gente que poderia melhorar. A pessoa que se sai melhor em um teste de memorização de rotinas aos 17 anos pode não ser inovadora aos 23.” Nada disso será fácil de mudar, mesmo supondo que os europeus queiram mudanças. “Na Europa, a estabilidade é valorizada”, disse Moser. “A desigualdade é menos tolerada. Há uma cultura do compartilhamento. As pessoas não são tão agressivas. O dinheiro não é a única coisa que importa.”