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Memória, um esporte extremo

Além de suas habilidades, Ola Kare Risa da Noruega | Fotos: Sandy Huffaker para The New York Times
Além de suas habilidades, Ola Kare Risa da Noruega (Foto: Fotos: Sandy Huffaker para The New York Times)
A Mesa 1, Jonas von Essen, a esquerda, e Andi Bell |

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A Mesa 1, Jonas von Essen, a esquerda, e Andi Bell

A última partida do torneio tinha todos os elementos de um enfrentamento clássico, estilo versus ação furtiva, rapidez versus ponderação, e o maior virtuoso das cartas do mundo contra o mais importante mago dos números.

Não foi bem como Mohammad Ali x Joe Frazier ou como Serena Williams x Maria Sharapova. O primeiro Torneio de Memória Extrema, ou o XMT (sigla inglesa), exibiu partidas de um minuto entre 16 "atletas da memória" da elite mundial de vários lugares do mundo que se enfrentaram num formato de eliminação semelhante ao da Copa do Mundo. O grande prêmio foi de 20 mil dólares; a recompensa científica em potencial foi enorme.

Um dos patrocinadores do torneio, a Dart NeuroScience, está trabalhando no desenvolvimento de drogas para cognição melhorada. O outro patrocinador, a Universidade de Washington em St. Louis, Missouri, enviou uma equipe de pesquisas para determinar o que, na verdade, diferencia os atletas da memória.

Enquanto os dois finalistas, ambos alemães, se preparavam para o confronto – Simon Reinhard, de 35 anos, que tem o recorde mundial de memorização de cartas (um conjunto em 21,19 segundos), e Johannes Mallow, de 32 anos, com o recorde de memorização de números (501 em cinco minutos) – os pesquisadores fizeram uma descoberta preliminar que não era evidente.

"Descobrimos que uma das maiores diferenças entre os atletas da memória e o resto do mundo", disse Henry L. Roediger III, o psicólogo que coordenou a equipe de pesquisa, "é uma capacidade cognitiva mais relacionada à atenção do que à memória".

As pessoas vêm realizando façanhas de memória há eras, memorizando o pi a centenas de dígitos ou grandes versos. A maioria armazena o material em um suposto palácio da memória, associando os números, as palavras ou as cartas a imagens já internalizadas; depois, elas mentalmente colocam os pares associados em uma localização familiar, como os cômodos de uma casa ou as estações de uma linha de metrô.

Todos podem aprender a construir um palácio da memória, afirmam os pesquisadores, e com a prática podem se lembrar de bem mais detalhes de um assunto em particular do que antes. A técnica é acessível o bastante para que pré-adolescentes aprendem-na rapidamente, e James Paterson, de 32 anos, a integrou no seu ensino de psicologia na escola de ensino médio em Ascot, perto de Londres.

"Tenho um garoto, por exemplo, que realmente não tem interesse algum nos estudos acadêmicos, mas conhece cada time, cada jogador da Primeira Divisão", disse Paterson. "Ele está usando esse conhecimento como armação para ajudar a se lembrar do que está aprendendo na aula".

Uma das descobertas da Universidade de Washington é previsível, ainda que preliminar: os atletas da memória atingem notas mais altas em testes de memória operacional, a prancheta mental das informações que conseguimos manter na mente apesar das distrações.

Uma forma de medir a memória operacional é fazer com que os participantes resolvam uma lista de equações (5 + 4 = x; 8 + 9 = y; 7 + 2 = z; e assim sucessivamente) enquanto mantêm os números do meio na mente (4, 9 e 2 no exemplo acima). A elite dos atletas da memória geralmente consegue armazenar sete itens, a nota máxima no teste que os pesquisadores usaram; a média dos estudantes na faculdade é de cerca de dois.

Por que os palácios da memória dos competidores nunca lotam? Os jogadores geralmente têm locais prediletos para armazenar fatos estudados, mas eles praticam e competem reiteradamente. Eles utilizam e reutilizam projetos, e as novas imagens parecem sobrescrever as antigas – praticamente sem erro.

"Assim que você se lembra das palavras ou cartas, ou o que for, e você já as relatou, elas simplesmente se vão", Paterson declarou. O mesmo processo ocorre quando mudamos uma senha: a antiga deve ser anulada, para que ela não interfira com a nova.

Os campeões da memória não são bons apenas em lembrar. Eles também são especialistas em esquecer. Em outras palavras, os competidores não tropeçam quando lembram muito pouco e sim quando se lembram demais.

Tudo isso pareceu acadêmico quando Reinhard e Mallow encerraram o torneio em uma série do melhor de nove. Para atrair o espectador, o mestre de cerimônias, Nelson Dellis, de 30 anos, o campeão americano que criou o formato, instalou telas que exibiam cada movimento do jogador.

A primeira categoria era sobre palavras. Os homens estudaram 50, em menos de um minuto. Os segundos voavam, e a dupla começou a inserir as palavras. Reinhard se movia como se estivesse passeando fisicamente nos seus palácios de memória; ele saltou para uma liderança precoce, com 43 palavras corretas e o tempo contando.

Mallow, parado com 16, parecia quase em meditação, mas poderia rapidamente virar o jogo. Não desta vez.

Após perder o teste de palavras, Mallow venceu na categoria números. Contudo, no teste seguinte, Reinhard colocou suas cartas na ordem quase que imediatamente. Ele depois venceu na categoria de nomes, tornando-se o campeão do torneio.

"Existem torneios de soletrar, existe poker na TV, existem competições de quem come mais cachorros-quentes – competições de memória deveriam ser mais populares", Dellis afirmou. "Todos são fascinados pela memória".

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