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A mulher parecia agir como qualquer outra consumidora, até que o gerente da loja, depois de receber uma informação, olhou as imagens gravadas pelas câmeras de segurança. O gerente, Joe Holtz, descreveu o que viu: "Uma pessoa percorreu a loja, colocando algumas coisas numa cesta, pelas quais ia pagar, e outras coisas numa bolsa, pelas quais não ia pagar".

A cena aconteceu na Park Slope Food Co-op, instituição que exemplifica como poucos o éthos utópico do tipo "nós mesmos podemos fazer", prevalente no Brooklyn na década de 1970.

A cooperativa é aberta apenas a seus associados, que recentemente chegaram a 16.390 e devem trabalhar duas horas e 45 minutos na loja a cada quatro semanas, num acordo que data de 40 anos atrás. Esse trabalho dos associados virtualmente elimina o pagamento de salários a funcionários e mantém os preços mais baixos que os dos supermercados de rede. A qualidade tende a ser alta.

Falando dos primórdios da cooperativa, Holtz recordou: "Éramos apenas jovens que tinham consciência do valor dos alimentos de qualidade".

De vez em quando, porém, os ideais sociais elevados se chocam com a realidade. E foi o que aconteceu aqui, onde vêm crescendo os casos de furtos em lojas.

Pelas estimativas de Holtz, no passado os furtos provocavam prejuízos da ordem de US$ 700 por dia. Neste mês, porém, a estimativa subiu para US$ 1.200, ou US$ 438 mil por ano. Como as únicas pessoas que fazem compras na loja da cooperativa são associadas, os furtos são essencialmente cometidos por associados. Muitos.

"Se uma pessoa rouba da cooperativa, na realidade está roubando dela mesma", diz Holtz.

O nível de "encolhimento", ou perda de estoque, quer seja porque uma caixa de ovos caiu ao chão ou porque uma baguete foi furtada, é objeto de escrutínio. De acordo com o estudo mais recente feito pelo Instituto de Marketing de Alimentos, em 2009, a média de "encolhimento" em lojas independentes, como a cooperativa, é de mais ou menos 1,62% do lucro bruto. O índice de "encolhimento" da Park Slope Food Co-op ainda não chega a isso, mas vem subindo. Holtz disse que, nos últimos anos, o índice saltou de 0,75% para 1,2%.

"Na minha opinião, esse aumento se deve ao aumento dos furtos", escreveu no boletim interno da loja, "Linewaiters’ Gazette".

Na década de 1990, a loja instalou um "cadeirão" perto dos caixas. A ideia era que ele fosse ocupado por um associado que ficaria observando as pessoas que faziam suas compras.

"O cadeirão foi muito impopular", contou Holtz. "Quase ninguém o usava." Mas, mesmo não estando ocupado, o cadeirão aumentava a consciência dos furtos. O passo seguinte lógico teria sido a contratação de um segurança, mas Holtz não quer fazer isso.

Tradicionalmente, os associados flagrados furtando são punidos internamente. A sentença: expulsão vitalícia da cooperativa.

Em setembro, um denunciante informou que um associado estava roubando mercadorias cinco vezes por semana. "As aparências podem ser enganosas", Holtz escreveu, "mas o pior cenário acabou sendo verdade." Confrontado com provas fotográficas, o associado deixou a cooperativa por conta própria.

Teorias para explicar o aumento dos furtos não faltam: desde as pressões financeiras enfrentadas pelos associados em sua vida fora da cooperativa até o aumento do escrutínio interno.

De vez em quando, a loja chama a polícia. Isso aconteceu em outubro, com a mulher que usava uma cesta e uma bolsa. Outro associado disse a Holtz que uma mulher parecia estar furtando. Depois de rever o vídeo de segurança, o gerente pediu para ser alertado na próxima vez em que a consumidora fosse à loja, o que aconteceu em 25 de outubro.

"Acho que a pessoa estava em choque", Holtz comentou. Os policiais, também, quando confrontaram a mulher depois de ela passar pelo caixa, abriram sua bolsa e encontraram dentro dela três rolos de fita adesiva, um rolo de massa e um rolo de forminhas de biscoito, no formato de letras do alfabeto.

"Os policiais disseram: ‘Você nos chamou por um furto de US$ 25? Quer levar isso adiante?’", contou. A resposta foi "sim". O incidente ficou marcado na memória. "Admito que minha tristeza por prender uma pessoa foi maior que a raiva", escreveu no boletim. Mas, para que ninguém pensasse que ele estava amolecendo, acrescentou: "Por um tempo".

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