Para alimentar o debate sobre os méritos dos alimentos orgânicos, uma revisão abrangente de pesquisas anteriores constatou a presença de níveis substancialmente mais elevados de antioxidantes e de menos pesticidas em frutas, legumes e grãos orgânicos, se comparados a safras produzidas convencionalmente.
"Isso demonstra claramente que a maneira pela qual um alimento é cultivado tem impacto", disse Carlo Leifert, professor de agricultura ecológica na Universidade de Newcastle, Inglaterra, e diretor da pesquisa.
No entanto, as constatações, publicadas pelo "British Journal of Nutrition", não chegam a afirmar que comer frutas e legumes orgânicos produzirá melhor saúde.
O estudo, disse o Dr. Leifert, é insuficiente para afirmar que alimentos orgânicos são definitivamente mais saudáveis para quem os consome, e não revela coisa alguma sobre o impacto de saúde que adotar uma dieta orgânica teria.
Ainda assim, os autores apontam que outros estudos sugeriram que alguns dos antioxidantes identificados foram associados a riscos mais baixos de câncer e outras doenças.
As conclusões do novo estudo contrariam as de uma análise publicada dois anos atrás por cientistas da Universidade Stanford, na Califórnia. Eles constataram poucas diferenças entre o conteúdo nutricional de alimentos orgânicos e o de alimentos cultivados convencionalmente.
O estudo de Stanford, como o novo, identificou nas frutas e legumes cultivados convencionalmente resíduos de pesticidas algumas vezes superiores aos encontrados em produtos orgânicos, mas não atribuiu importância especial a isso, porque mesmo esses níveis mais elevados ficavam abaixo dos limites de segurança.
A agricultura orgânica elimina o uso de fertilizantes químicos convencionais e pesticidas. Essas práticas resultam em safras menos generosas. O que é contestado, e ferozmente, é se as frutas e legumes orgânicos oferecem vantagem nutricional.
"O outro argumento seria que, se você simplesmente comer um pouquinho mais de frutas e legumes, receberá mais nutrientes", diz Alan Dangour, pesquisador da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. O dr. Dangour comandou uma revisão publicada em 2009 que não constatou diferenças nutricionais significativas entre alimentos convencionais e orgânicos.
Essas diferenças são difíceis de discernir, porque outros fatores que podem variar fortemente de lugar a lugar e de ano a ano, como o clima, também influenciam o conteúdo nutricional.
No geral, constatou o novo estudo, as safras orgânicas contêm 17% mais antioxidantes do que as safras cultivadas convencionalmente. Charles Benbrook, professor da Universidade Estadual de Washington e outro dos autores do estudo, diz que a nova análise aperfeiçoa revisões anteriores, em parte porque incorpora estudos mais recentes. As constatações se enquadram à expectativa de que, sem pesticidas, as plantas produziriam mais antioxidantes, muitos dos quais servem como defesa contra pestes e doenças.
O estudo também constatou que alimentos, especialmente grãos, orgênicos contêm níveis mais baixos de cádmio, metal tóxico que às vezes contamina fertilizantes convencionais. Não há diferença em outros metais tóxicos como o mercúrio e o chumbo.
Mesmo com as diferenças e as indicações de que alguns antioxidantes são benéficos, os especialistas em nutrição dizem que a questão do "e daí?" ainda precisa ser respondida.
"A partir desse ponto, tudo é especulativo", disse Marion Nestle, professora de nutrição, estudos da alimentação e saúde pública na Universidade de Nova York.