Elevando-se do coração de Islamabad, a Mesquita Vermelha vem sendo há muito tempo um barômetro do islamismo militante no Paquistão. Nos anos 80, ela canalizou os combatentes para ajihad antissoviética no Afeganistão. Nos anos 90, seus líderes fizeram uma peregrinação impressionante para visitar seu herói, Osama bin Laden, em sua fazenda perto de Candaar.
Em julho de 2007, a mesquita em si virou um campo de batalha em um cerco de oito dias e um tiroteio que colocou os soldados contra os militantes e os estudantes refugiados no lado de dentro, e terminou com mais de 100 mortos.
Agora, que a nação discute se vai negociar com os militantes ou se vai combatê-los mais firmemente a Mesquita Vermelha voltou ao noticiário.
O clérigo líder da Mesquita Vermelha, Maulana Abdul Aziz, inaugurou uma nova biblioteca com o nome em homenagem ao fundador assassinado do Al-Qaeda. "Se o Paquistão verdadeiramente tem liberdade de expressão, então deveríamos poder expressar o nosso amor pelos nossos heróis", disse Aziz. "E amamos Osama bin Laden".
Os clérigos da mesquita estão explorando o fracasso do governo para passar uma visão alternativa do futuro do Paquistão, declarou Pervez Hoodbhoy, professor de física paquistanês e crítico aberto do fundamentalismo religioso. "Precisamos de uma forte contranarrativa, algo que dê propósito à guerra contra o Talibã. Mas está faltando isso. E embora as pessoas critiquem o Talibã por suas táticas, muitas acreditam que eles tenham bom coração porque estão lutando pelo islamismo".
Durante o cerco de 2007, Aziz testou fugir usando uma burca, bolsa e luvas, mas foi capturado e exibido pelos serviços de inteligência em rede nacional.
Aziz foi acusado de assassinato, abdução, incêndio culposo e terrorismo. Contudo, em dois anos, a mesquita e Aziz estavam de volta aos negócios.
Malik Riaz Hussain, um magnata do ramo imobiliário e simpatizante, gastou pelo menos 150.000 dólares na renovação da mesquita cravejada de balas. A cidade doou um terreno que vale milhões de dólares no centro de Islamabad para a reconstrução de Jamia Hafsa, uma madrasa feminina que é lar da biblioteca Osama bin Laden.
No entanto, são as cortes que têm sido mais complacentes com Aziz, rejeitando todas as 27 acusações criminais contra ele.
Um inquérito judicial determinou que foi o General Pervez Musharraf, o ex-governante militar do Paquistão, e não Aziz, o responsável pelas mortes durante o cerco. Em outubro, um juiz sênior acusou o General Musharraf e o sentenciou à prisão domiciliar.
"As forças da direita assumindo o país paulatinamente é a realização de nossos mais profundos temores", disse Hoodbhoy. "A Mesquita Vermelha não apenas está em melhores condições do que antes do cerco, ela orgulhosamente se gaba do fato de que os seus alunos enfrentaram as forças do governo e as derrotaram".
A Mesquita Vermelha continua sendo um grito de guerra para os extremistas. O líder nominal do Al-Qaeda, Ayman al-Zawahri, emitiu declarações de apoio.
Cyril Almeida, colunista do Dawn, um jornal de língua inglesa no Paquistão, alertou que a mesquita aumentou os perigos apresentados.
"Quanto mais eles ganharem visibilidade no palco nacional, mais o mito dos militantes lutando a boa luta contra um estado ilegítimo ganha força", segundo ele. "E isso torna a narrativa da guerra mais difícil para o estado vencer".
No começo desse ano, o governo induziu Aziz às negociações com o Talibã, esperando usá-lo como um interlocutor militante. Porém, em fevereiro, ele abandonou as conversas e disse que elas não seriam possíveis antes da lei da Sharia substituir a Constituição Paquistanesa.