Armando García entrou com ações judiciais, uniu-se a protestos e foi preso tentando evitar que uma estrada passasse por seu quintal em uma reserva natural aqui.
Porém, mesmo com uma ordem judicial a seu favor, partes da floresta protegida foram cortadas, expondo uma estrada de 32 quilômetros que leva ao novo aeroporto na Cidade do México e que está destruindo trechos da comunidade indígena de García.
Ele e seus vizinhos dizem que não tiveram chance, pois tentavam enfrentar um empresário tão bem relacionado que muitos mexicanos o chamam de “empreiteiro favorito” do presidente.
O presidente Enrique Peña Nieto assinou uma ordem em julho desapropriando cerca de 40 hectares do que muitos aqui consideram uma terra sagrada. E segundo os moradores, isso não é de surpreender. O mesmo empreiteiro ergueu a mansão da família do presidente, fez a casa do ministro das Finanças sem lucrar nada e tem bilhões de dólares em negócios com o governo.
A relação de Peña Nieto com o empreiteiro é um dos vários escândalos recentes que mancham o legado do presidente e comprometem ainda mais a confiança já instável do público no governo.
Por todo o México, a população debate como um dos mais notórios barões da droga, Joaquín Guzmán Loera, conhecido como El Chapo, conseguiu escapar de uma prisão de segurança máxima em julho ao construir um túnel de 1,6 km de extensão sem ser detectado.
Os moradores no caminho da rodovia dizem que sua batalha também levanta questões preocupantes. Como é que um amigo do presidente que começou vendendo suprimentos de escritório acabou criando um império que acumula bilhões de dólares em contratos com o governo, tem carta branca para desmatar uma floresta protegida e ganha licitações para construir hospitais e ferrovias?
O presidente e seu círculo íntimo não foram acusados de qualquer delito em nenhum dos casos.
Porém, essas circunstâncias mostram que, apesar das afirmações de Peña Nieto de que o México e seu Partido Revolucionário Institucional mudaram, alguns dos problemas mais fundamentais do país continuam os mesmos.
“É óbvio que o caso de El Chapo e a questão dos contratos são a mesma coisa: corrupção”,disse Manuel Huerta, parlamentar da oposição.
A empresa de construção da estrada é de propriedade de Juan Armando Hinojosa Cantú, um empreiteiro do governo com laços estreitos com o presidente, que datam de quando Peña Nieto era um jovem assessor ambicioso do governo mexicano.
Registros obtidos recentemente mostram que as empresas de Hinojosa e suas afiliadas garantiram pelo menos US$ 2,8 bilhões em negócios com agências de governo, através de mais de 80 contratos, fato que os legisladores da oposição e outros críticos afirmam ser o resultado de uma relação de décadas entre os dois homens.
O relacionamento próximo de Hinojosa e Peña Nieto já era um ponto de discórdia até mesmo antes que jornalistas locais descobrissem no ano passado que o presidente e sua esposa estavam comprando uma casa de 1.400 m2 que Hinojosa havia construído de acordo com especificações do casal, em condições excepcionalmente favoráveis.
A primeira-dama, Angélica Rivera, que disse estar financiando US$ 4 milhões na compra, afirmou ter pagado um terço do valor da casa com seu próprio dinheiro, e disse que abriria mão de seu direito de compra.
Ainda assim, o presidente reconheceu “que as alegações deram a impressão de algo impróprio”. Peña Nieto cancelou um contrato do governo de um trem de US$ 3,7 bilhões, um projeto que está sendo construído por um consórcio que incluía uma das empresas de Hinojosa.
Mas outros grandes negócios envolvendo o empresário continuam, incluindo a rodovia, cujo custo estimado era de US$ 132 milhões, mas já aumentou para US$ 207 milhões.
Além disso, as empresas de Hinojosa ganharam um contrato sem licitação de US$ 74 milhões para renovar o hangar do avião presidencial; um projeto de US$ 104 milhões para ampliação de uma estrada hoje está em US$ 127 milhões; e uma participação de 37 por cento em um plano para um enorme aqueduto para levar água para Monterrey.
Depois que este artigo foi publicado on-line, um porta-voz do presidente, Paulo Carreño, disse que duvidava que as empresas de Hinojosa tinham “bilhões” em contratos, um montante que considerava “estratosférico”.
Fausto Hernández, economista da Cidade do México, disse: “Não importa quão talentoso, inovador e capaz um empresário seja. A única coisa que realmente importa são suas conexões políticas”.
Aqui em Xochicuautla, o decreto de desapropriação do presidente determina que a comunidade receba indenizações de quase US$715 mil, mas os protestos continuaram.
José Luis Fernández, 54 anos, trabalhador da construção civil, disse: “Nós somos invisíveis para o Estado mexicano”.