O campo de Kannaki, no centro de Jaffna, abrigada refugiados tâmil desde que militares do Sri Lanka tomaram suas terras| Foto: Graham Crouch/The New York Times

As praias de areia branca ao longo do estreito de Palka no Sri Lanka são o cenário perfeito para um resort de luxo.

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Porém, se você chegar ao Thalsevana Holiday Resort sem uma reserva, pode até ser preso. Se seu passeio pela praia o levar para longe, um soldado vai aparecer e dizer que você entrou em uma zona de alta segurança.

E há a irritante questão ética de se é certo desfrutar de uma paisagem que foi tomada há um quarto de século atrás com o bombardeio sangrento de milhares de famílias que ainda estão desabrigadas.

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“Você visitou a minha terra? Como ela está?” perguntou Arunachalam Gunabalasingam, de 69 anos, presidente de uma comissão de famílias da área que até hoje não receberam nada por sua propriedade desde que fugiram para salvar suas vidas em 15 de junho de 1990.

Quando Maithripala Sirisena foi eleito presidente do Sri Lanka, há dois meses, o governo rapidamente prometeu libertar centenas de detidos de minoria tâmil e devolver terras no norte e no leste que foram tomadas por militares.

No entanto, nos campos de refugiados tâmil, a euforia já vem dando lugar à impaciência entre alguns, indignação em outros e uma percepção quase universal de que o processo de reconciliação do pós-guerra não será breve nem fácil.

Um passeio em torno do Sri Lanka revela que a maioria dos postos militares de controle que já pontilharam a ilha-nação durante seus 30 anos de guerra civil, travada entre os rebeldes do grupo étnico minoritário tâmil e um governo dominado pela etnia cingalesa, sumiram. Quase todo mundo tem uma história de perda. Estradas e hotéis melhoraram, mas as marcas de balas e bombas são aparentes.

E apesar das promessas do governo de reduzir a intrusiva presença militar na economia civil, lojas, resorts, fábricas, piscinas e campos de golfe controlados por militares ainda operam.

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Em uma entrevista, o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe jurou que todos os resorts militares seriam vendidos ou arrendados a operadores privados.

“Interessado em controlar algum deles?”, ele brincou.

A dissidência também começa a aparecer entre os tâmeis, com crescentes diferenças de opinião sobre como enfrentar o novo governo, que foi eleito com seu esmagador suporte.

“Todos os principais líderes tâmeis são tolos”, disse Eswarapatham Saravanapavan, membro tâmil do Parlamento e diretor dos jornais Uthayan e Sudar Oli. Ele disse que não é possível acreditar que o novo primeiro-ministro irá manter suas promessas aos tâmeis.

A questão dos detidos é altamente controversa. No início deste mês, a libertação de Jeyakumari Balendran, ativista tâmil que havia sido detida sem acusação formal por um ano, foi vista como um passo importante em direção à reconciliação.

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Vaira Vanathan ficou preso desde 1991. Agora física e mentalmente debilitado, ele se lembra vagamente de seus anos sob custódia, mas disse que sabia que tinha sido torturado e forçado a trabalhar.

Líderes tâmeis acreditam que os militares vão se recusar a libertar mais detidos porque suas histórias vão provocar indignação. Essas histórias poderiam implicar gente do alto escalão do governo, disse Bhavani Fonseka, advogada das famílias de detentos. “O que vai acontecer agora?”, ela perguntou.

Mais de vinte famílias desabrigadas voltaram furtivamente para suas terras perto de Trincomalee em 9 de janeiro, um dia após a eleição. Elas construíram cabanas usando materiais doados e de segunda-mão. Não havia eletricidade, água potável nem mesmo onde arranjar alimentos.

Quando perguntada por que viver em um ambiente mais miserável do que o campo de refugiados que ela havia deixado, Manguladevi Rasamanikam, de 60 anos, simplesmente disse: “Essa é nossa terra”.