A mochila de Alejandro Sarete está cheia de objetos comuns na vida de um universitário: smartphone, pen-drive USB e baralho. Já a bolsa que Cho Young-Uk usa a tiracolo é minimalista: contém só um laptop Lenovo e um adaptador.
Apesar das diferenças, há algo que Sarete e Cho, dois alunos da Universidade de Nova York, não costumam mais carregar por aí: pilhas de livros didáticos.
“Não ando mais com livros didáticos, como fazia no colégio”, disse Cho. Todas as disciplinas que ele cursa, com exceção de duas, transferiram seu material didático para a internet.
Num momento em que os estudantes cada vez mais chegam à escola carregando aparelhos eletrônicos em vez de livros, os fabricantes de mochilas, um setor que movimenta US$ 2,7 bilhões por ano, estão repensando não só o estilo desses objetos onipresentes, mas também sua missão.
Buscando inspiração, Eric Rothenhaus e sua equipe da VF Corporation, gigante do vestuário que controla uma importante fábrica de mochilas, a JanSport, pediram conselhos a alguns dos mais radicais usuários de mochilas. Eles estudaram alpinistas cujas vidas podem depender desses equipamentos. Conversaram com os moradores de rua em San Francisco, que empurram a vida em carrinhos de compras.
“Fomos às ruas de Nova York, de San Francisco, aos campi universitários”, disse Rothenhaus, “e começamos a nos perguntar: quais são as coisas que carregamos conosco? Como as carregamos? E como isso está mudando?”.
Os americanos compraram mais mochilas do que nunca no ano passado — 174 milhões de unidades, segundo a Associação dos Produtos de Viagem. Mas o mercado dos EUA deverá crescer apenas 3,9% neste ano, segundo dados da Euromonitor International, bem abaixo dos 9% de cinco anos atrás.
Especialistas dizem que esse setor deixou de inovar, mas que as start-ups lançam algumas ideias. É o caso da Tylt Energi+, uma mochila de US$ 170 que vem com um carregador de bateria embutido e cabos para ligar até três aparelhos ao mesmo tempo. Já a Black Diamond JetForce Pack, de US$ 1.450, está equipada com um airbag alimentado por ventilador, para aumentar as chances de sobrevivência em caso de avalanche.
John Sears, vice-presidente de design e desenvolvimento da empresa Gregory Mountain Products, disse que a empresa em breve passará a vender mochilas com painéis solares removíveis, concebidos para aventuras de vários dias em áreas remotas. “As pessoas querem ficar mais conectadas socialmente, mesmo ao ar livre”, disse ele.
A JanSport, seguindo a cartilha das start-ups, fez um acordo com a empresa de design Ideo, xodó do Vale do Silício, para reimaginar a mochila. “Nossa pesquisa nos afastou da ideia de tentar desenhar bolsos e compartimentos para usos específicos”, disse Rothenhaus.
De olhos nos universitários, a JanSport criou um compartimento superior em forma de V, facilmente acessível e grande o suficiente para levar um celular, um tablet pequeno ou outros objetos de valor.
A renovação da marca inspirou uma nova linha de estojos dobráveis – que a JanSport chamou de Burritos Digitais – para guardar cabos e adaptadores. Os designers criaram compartimentos impermeáveis para que o usuário possa guardar um petisco, um refrigerante ou o tênis da ginástica na mochila sem se preocupar com a integridade de tablets e laptops.
A JanSport também prestou atenção a vários sinais relevantes. Embora os estudantes não carreguem mais livros, eles vivem cada vez mais fora de casa, graças à mobilidade oferecida pelos smartphones e conexões wi-fi. A JanSport vai se dedicar a criar mochilas sob medida para pessoas que vivem se deslocando por “terceiros espaços” — forma como a equipe se refere aos escritórios improvisados em mesas de bar e bancos de praça.
“Quando você precisa estar por aí”, disse Rothenhaus, “você precisa de uma mochila”.
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