O vestuário masculino no trabalho torna-se cada vez menos formal e mais livre. O desfile de David Hart, no início dos desfiles da coleção de primavera de 2015 nos EUA| Foto: Monica Schipper/Getty Images

O grande desafio para estilistas de moda masculina é causar impacto dentro de um leque limitado de opções e sem recorrer a macetes óbvios.

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Esse desafio foi encarado mais uma vez no início deste mês, com o início da temporada de desfiles de moda masculina para a primavera de 2015.

As criações apresentadas levam em conta uma geração de consumidores que está entrando no mercado de trabalho e introduzindo novos hábitos nos espaços profissionais, como não usar mais terno e gravata.

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Esse é um indício de que no futuro o uniforme de trabalho poderá incluir até blusões de moletom.

Essa tendência já é visível aqui no jornal. Quando entrei na equipe de resenhistas em 2000, a redação era dominada por homens de meia idade com camisas brancas e gravatas.

Agora, é povoada por um grupo mais jovem e diversificado de jornalistas, os quais podem vir trabalhar de terno e gravata ou com roupas esportivas.

Os estilistas já haviam percebido isso. Nos desfiles de dez estilistas independentes houve obviamente algumas roupas estruturadas e algumas releituras insossas de criadores como Jessy Heuvelink, da grife sueca J. Lindeberg, que tentou reanimar a velha temática roqueira.

Todavia, alguns estilistas, como o talentoso hondurenho Carlos Campos, mostraram criações mais promissoras que representam um meio termo entre técnicas de alfaiataria tradicionais e uma linguagem estilística mais orgânica, com elementos casuais e esportivos.

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Inspirada em desenhos feitos nas ruas pelo artista espanhol Eltono, a coleção de Campos tem padrões gráficos arrebatadores, jaquetas de neoprene e ternos com calças mais curtas, evocando criações recentes do estilista Neil Barrett, de Milão, porém com mais senso de humor.

No entanto, os blusões de moletom com colagens certamente serão adotados por algum tempo.

Listras grossas como faixas pintadas no asfalto foram sobrepostas nesses blusões de uma maneira que os faz parecer não apenas plausíveis, como lógicos, para se usar no trabalho ou nas horas de lazer.

Campos também deu um toque travesso às calças, inclusive de ternos, dotando-as de bainhas iguais às de calças de moletom.

Outros destaques divertidos foram a coleção elegante de David Hart, inspirada nos modernistas de Palm Springs e com tons pastéis de deserto; e a do estilista argentino Lucio Castro, cujo tema foi um verão soviético, que brinca com a dualidade dos prazeres litorâneos sensuais em meio à austeridade paranoica da Cortina de Ferro.

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"Steve Jobs [um dos fundadores da Apple] mudou o conceito de trabalho e do vestuário de pessoas ‘bem-sucedidas’", disse Castro, cujos modelos desfilaram diante de um tecido leve no qual eram projetadas cenas litorâneas, enquanto um acordeonista tocava canções melancólicas.

Ele apresentou apenas um terno, e os pontos altos do desfile foram calças e blusões esportivos feitos com antigas toalhas de praia com logos como Croácia, Letônia e Belarus.

"Nós e nossos amigos não usamos terno para trabalhar", disse Timo Weiland, dono da grife homônima.

A marca apresentou uma coleção descontraída, com a criação a cargo de Alan Eckstein e Donna Kang, com ternos com bermuda, calças fluidas com grafismos e capas de chuva que parecem feitos de encomenda para uma geração de homens que se sentem à vontade tanto fazendo negócios na praia quanto em um Starbucks ou em uma sala de reuniões.