Andy Warhol foi, cronologicamente e por sua própria descrição, um cutucador de nariz, um cafetão e um consumidor excessivo de água. Ele também foi um dos talentos mais complexos e impressionantes que o mundo da arte já produziu. Todas essas alegações podem ser confirmadas com uma visita ao Museu Andy Warhol aqui em sua cidade natal. Em homenagem ao seu 20° aniversário de fundação, o museu foi totalmente modificado.
"Queremos que as pessoas saibam que existe muito mais de Andy Warhol que as latas de sopa da Campbell e os quadros da Marilyn Monroe", declarou Eric Shiner, diretor do museu. Os curadores se incumbiram de mostrar como a vida e a arte eram talvez mais entrelaçadas para Warhol do que para qualquer outro artista.
O museu foi repaginado com um levantamento ordenado de simplesmente tudo o que Warhol aprontou, desde os anos 50 como importante artista comercial e o seu trabalho como empresário da banda Velvet Underground no final dos anos 60, até seus filmes proeminentes e o grande espaço dentro da cultura da MTV nos anos 80.
Para entender a verdadeira grandeza de Andy Warhol (192887), existem duas imagens iniciais dele por ele mesmo. As galerias reformuladas agora apresentam a pintura de um estudante pouco conhecido de 1948 na qual Warhol usa a mais recente técnica de pintura expressionista para se retratar, nu, com o dedo enfiado no nariz, ultrapassando os limites do bom gosto e das belas artes mesmo quando ainda estava na faculdade. Ao lado dessa obra, encontra-se uma rara foto de família com Warhol bebê usando uma toca, talvez com dois anos, também com o dedo no nariz.
Uma das imagens de Warhol que é menosprezada na nova instalação é a sua presença como um dos primeiros artistas notavelmente gays a atingir atenção maciça. O museu é franco em relação à homossexualidade de Warhol, exibindo o seu "Livro de Estudos de Meninos", uma série de desenhos dos anos 50, e mencionando namorados. Porém, o museu nunca se aprofunda na importância que ele teve na história da cultura gay.
Quando muito, os recentes preços estratosféricos do leilão afastaram a atenção pública de Warhol, o homem, e se concentraram em suas "obras-primas" vendáveis: o catálogo do mais recente leilão de arte contemporânea da Christie em Nova York apresentou uma "Marilyn Branca" de 1962 na capa, como chamariz para os oligarcas.
Shiner não renega o apelo instantâneo das pinturas. Um quadro enorme de 1963 de Elvis Presley em tela de seda chamado de "Elvis 11 Vezes" ganhou a sua própria parede.
Há quase cinco décadas, Warhol se tornou o primeiro artista a fazer arte em vídeo. Um dos destaques da repaginação é a galeria do quarto andar onde o público tem acesso total aos cerca de 130 filmes de Warhol, vídeos e programas de TV, a maioria inédita até agora.
Matt Wrbican, arquivista principal, disse que existem mais de 500 mil itens sob os seus cuidados, com muitos em exibição somente agora. Os arquivos contêm uma gama de informações o fato, por exemplo, de que após receber um tiro de Valerie Solanas em 1968, Warhol, seja por estar com pouco dinheiro ou simplesmente por ser sovina, esperava trocar as pinturas pelo tratamento médico.
"Ele sempre guardava tudo", recordou o ilustrador James Warhola, sobrinho de Warhol. "Toda a sua obra de vida foi feita sob medida para um museu".