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Música traz alívio a presídios do México

Presidiários participam da competição La Voz Penitenciaría em 2012; Antonio Silva Rodríguez, à dir., é conhecido como MC Tonz | Frederick Bernas /
Presidiários participam da competição La Voz Penitenciaría em 2012; Antonio Silva Rodríguez, à dir., é conhecido como MC Tonz (Foto: Frederick Bernas /)

Sobre um grande palco na frente de centenas de pessoas, dois cantores de salsa dançaram com passos sincronizados, entoando uma melodia fácil acompanhados por trompetes, percussão e instigantes acordes latinos no estilo montuno de um teclado elétrico.

Os músicos, assim como a plateia, usavam uniformes bege. Não havia mulheres à vista.

Eram todos prisioneiros no Reclusorio Oriente, enorme penitenciária a cerca de 19 quilômetros a sudeste da Cidade do México. Eles competiam em La Voz Penitenciaría, concurso nacional que visa ajudar a reintegrar os prisioneiros na sociedade mediante sua participação nas artes.

Em abril, um grupo de jurados percorreu oito prisões, escolhendo um único cantor de cada uma delas e as três melhores bandas de todas para uma final nacional no Reclusorio Oriente.

O evento, organizado pelo serviço prisional federal do México, está em seu terceiro ano.

Cerca de 3.000 detentos em prisões de 26 Estados participaram das audições no ano passado, e os organizadores esperam um número semelhante em 2015. Os vencedores vão receber prêmios em dinheiro de até US$ 1.100 nas categorias solista e banda, julgados por um grupo de profissionais de música que avaliam gravações em DVD das apresentações.

La Voz Penitenciaría é uma das atividades culturais disponíveis para alguns prisioneiros no México. Elas incluem oficinas sobre Shakespeare e um concurso virtual de “batalha de bandas”, com votação do público on-line, no Distrito Federal da Cidade do México.

“É uma forma de pôr para fora nosso estresse e nossa frustração”, disse Aaron Velasquez Mejía, solista vencedor da Reclusorio Sur, penitenciária de um subúrbio no sul da capital.

Acompanhado pelo violão, ele interpretou “Prohibido”, balada pop-rock sobre sonhos de romance clandestinos. “Sou viciado em drogas —gosto de crack e de maconha. Todas essas coisas o prejudicam, tirando o que você mais ama —sua família e você mesmo como pessoa. Mas quando eu toco me sinto bem.”

O concurso alivia a dura realidade do sistema prisional do México, que abriga mais de 257 mil internos, apesar de ter capacidade para 203.300. “Vi muita violência”, diz um ex-detento, Antonio Silva Rodríguez, 28. Ele lembra de presos desesperados que comiam gatos, pombos ou ratos e de ver amigos “mortos por um limão ou um peso”.

Silva Rodríguez foi libertado em julho de 2014, depois de quase seis anos na prisão, mais de um ano antes do prazo por causa de seu envolvimento em atividades culturais. Ele disse que foi preso acusado de pornografia, depois de encenar uma sessão de fotos com uma adolescente de 17 anos cujo corpo ele havia pintado. “Se eu não tivesse feito música ou pintura, minha mente não teria conseguido se livrar da prisão”, disse.

Ele formou um coletivo de hip-hop na penitenciária de Santa Martha, em Iztapalapa, o bairro mais pobre da Cidade do México. Continua gravando sob o nome de MC Tonz e organiza oficinas comunitárias em toda a capital.

Também houve audições para La Voz Penitenciaría em Santa Martha. Anselmo Carrillo Hernández, 29, cantou um corrido solene composto em uma noite de autorreflexão. “Neste tipo de ambiente, não há amigos sinceros”, disse ele, que já serviu sete anos de uma pena de 12 por roubo. “Todo mundo que festejava com você quando estava livre não lhe telefona nem manda cartas. Esquecem de você como se estivesse morto.”

Uma ala da prisão de Santa Martha, “El Diamante”, é reservada para prisioneiros com penas mais longas, sob segurança máxima. Sua pequena biblioteca estava cheia de música no dia em que La Voz Penitenciaría mandou os jurados. “Quando toco meu violão, não me sinto um prisioneiro”, disse José Antonio Valencia García, 43, que serviu 12 anos, mas não revelou seu crime. Ele aprendeu música depois de chegar à prisão.

“Erramos e cometemos crimes”, disse, “mas estamos tentando corrigir nossos erros e encontrar um caminho melhor pela música, pela cultura, por exercícios e pela escola.”

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