Alexandra Nikolovieni, de 55 anos, perdeu o emprego que tinha como supervisora de crianças em um ônibus de transporte escolar há quatro anos e, desde então, não conseguiu outro. Para ter ajuda financeira, a filha e o genro, com os dois filhos, se mudaram para sua casa só que agora eles também estão desempregados.
Voluntária em um posto de alimentos neste subúrbio de Atenas, ela diz que a cada mês vê mais gente em situações semelhantes à sua, se inscrevendo para receber legumes, frutas e verduras do governo e pegar um par de sapatos usados para si ou os filhos.
"As coisas estão melhorando? Acho que não", diz, desanimada.
Em nenhum país as medidas de austeridade foram mais agressivas que na Grécia e, da mesma forma, falharam em atingir os objetivos prometidos por seus defensores. Após mais de quatro anos de frugalidade, a paciência do povo está se esgotando e os sinais quase imperceptíveis de melhora ainda não atingiram a rotina do grego médio.
Depois que o Parlamento não conseguiu eleger um presidente em dezembro, forçando eleições antecipadas, o país agora enfrenta um momento crucial para a recuperação de sua economia destroçada.
Nas eleições gerais de 25 de janeiro, o governo de coalizão de centro-direita que manteve a política de austeridade, mesmo relutante, enfrentará um opositor esquerdista carismático que diz que chegou a hora de o país assumir o futuro em suas próprias mãos e fazer o que for possível para estimular o crescimento. Qualquer que seja a opção escolhida, o resultado certamente acarretará grandes implicações para a Grécia e sua posição na União Europeia.
Em 2010, com a nação prejudicada pela dívida e ameaçando a sobrevivência do euro, a UE, o FMI e o Banco Central Europeu começaram a impor medidas de austeridade ao país. O objetivo era reduzir a dívida orçamentária e resolver problemas como corrupção e falha de coleta de impostos e a promessa de recuperar a Grécia e permitir que voltasse a fazer empréstimos nos mercados financeiros.
Muito a contragosto, os gregos aderiram, sob a condição da retomada de crescimento até 2012; nesse ano, porém, a Grécia perdeu 400 mil postos de trabalho.
No mesmo período, segundo os cálculos do FMI, a taxa de desemprego deveria atingir o pico de quinze por cento mas bateu em 25 por cento, alcançou 27 por cento em 2013 e caiu muito pouco desde então.
As autoridades garantem que, excluídos os pagamentos da dívida, a nação já não gasta mais do que recebe. Ela continua na União Europeia e pode emprestar nos mercados de compromissos financeiros novamente, embora a taxas de juros já tenham voltado a subir o que indica a preocupação do investidor com o caminho tomado pelo país.
Os problemas, entretanto, continuam em grande escala: do 1,3 milhão de desempregados, cerca de 900 mil não recebem pagamento há mais de dois anos.
Kostas Polychronopoulos, que dirige um sopão voluntário em Atenas e está desempregado desde 2009, conta ter visto muitos fatos chocantes e tristes nos últimos anos é o caso de uma senhora idosa, de casaco de pele, que ficou observando à distância um tempão antes de finalmente se aproximar para receber comida.
Quando ele insistiu em levá-la para casa, descobriu que ela vivia em um apartamento vazio. "Ela não tem nem água", conta.
Até os defensores do primeiro-ministro Antonis Samaras admitem que ele enfrenta um desafio duríssimo: o de convencer o eleitorado a se manter fiel depois de cinco anos de cinto apertado.
Seu principal adversário, Alexis Tsipras, promete desafiar os credores, renegociar a dívida gigantesca do país, cortar alguns impostos e trabalhar para retomar o pagamento de pensões e benefícios interrompidos.
Não se sabe se os credores da Grécia estarão dispostos a mudar as regras, se o país pode ser expulso da zona do euro ou do bloco.
Acontece que, para muitos gregos que perderam tudo, a rebelião pode ser uma opção irresistível, mesmo que temerária.
Para o economista Michalis Mitsopoulos, que escreveu dois livros sobre a crise, muitas das ideias de Tsipras são impraticáveis.
Mas acrescenta: "Há muita gente desesperada; são milhares de pessoas pensando: "Estou desempregado; vou perder a casa; meus filhos não têm futuro. O que mais pode acontecer?"
Dimitris Bounias, Nikolas Leontopoulos e Nikolia Apostolou contribuíram para a reportagem