Memorial em fábrica italiana destruída por um incêndio que causou a morte de chineses| Foto: Gianni Cipriano para The New York Times

Dezenas de buquês bloqueiam a entrada da loja e fábrica da Teresa Moda. Ali, sete funcionários chineses morreram no dia 1 — de dezembro num incêndio que destruiu o estabelecimento onde moravam e trabalhavam.

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O prédio, que abrigava a distribuidora atacadista — que também preparava as roupas para a linha de montagem — não tinha saídas de emergência, disseram os bombeiros. Havia barras de ferro nas janelas. Tudo indica que um fogareiro tenha começado o fogo que deixou outras duas pessoas gravemente feridas.

Foi preciso uma calamidade para instigar a indignação nacional com o modelo de negócio de baixo custo que se instalou aqui há vinte anos e transformou a economia desta cidadezinha toscana que fica a 20 km do norte da França.

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Para as autoridades que tentaram resolver a questão, "a tragédia estava sempre à espreita", como afirma Stefano Bellandi, secretário do CISL, um dos principais sindicatos italianos.

O incêndio na Teresa Moda e o furor que se seguiu expuseram a convivência complicada — e muitas vezes tensa — dos italianos de Prato com os imigrantes chineses, que hoje são donos de quase 45 por cento do setor têxtil da cidade.

A economia italiana, no terceiro ano de recessão, só faz piorar a relação entre os estrangeiros e os moradores locais. Claudio Bettazzi, presidente da filial de um grupo nacional que representa artesãos e pequenos negócios, fala de "um clima de ódio crescente".

Há anos a polícia luta para acabar com as práticas ilegais e inseguras na região — e reclama de vários fatores que impedem seus esforços, incluindo a falta de pessoal categorizado para investigar as quase 8.200 fábricas dos setores têxtil e de confecção e a falta de cooperação dos trabalhadores estrangeiros.

Quatro chineses estão sendo investigados e já foram acusados de homicídio culposo, falha na aplicação de medidas de segurança no ambiente de trabalho e exploração de trabalho ilegal.

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A população total de Prato é de 191 mil habitantes, sendo que há quase 16 mil imigrantes legais; no entanto, calcula-se que o número de ilegais varie entre 15 e 25 mil.

Além da polícia, a Vigilância Sanitária também fez inspeções em 1.571 estabelecimentos nos últimos dois anos, informa o Ministro do Trabalho Enrico Giovannini. Mais da metade deles pertence a cidadãos chineses.

O resultado é que mais de 1.700 multas foram aplicadas a empresas que não fizeram as contribuições do seguro social e 400 pessoas que viviam ilegalmente foram identificadas, Giovannini explica. Cerca de 350 empresas foram fechadas e a produção de outras tantas suspensa devido a várias infrações.

Muitos negócios abriram e fecharam as portas antes que as inspeções, inclusive do fisco, pudessem ser feitas.

Em Prato, o caso gerou comoção e revolta pelas condições em que as vítimas viviam e trabalhavam, mas o desastre reflete também algo que ressente demais os italianos: o fato de que as empresas chinesas estão progredindo, enquanto as nacionais vão falindo porque o concorrente usa mão de obra barata e ignora os padrões mínimos de segurança.

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Há quem diga, porém, que a economia local teria afundado ainda mais se não fosse pelos chineses e que as empresas italianas utilizam as fábricas estrangeiras para reduzirem seus custos. "Não dá para fingir que só os estrangeiros estão envolvidos", disse Marco Paggi, advogado de Pádua que trabalha para uma associação que defende os direitos dos imigrantes. "Não se pode resolver tudo criminalizando os chineses; assim vamos acabar criminalizando as vítimas também."