O novo governo do Egito vem se valendo fortemente da polícia para reprimir levantes como este recente no Cairo| Foto: Hassan Ammar/Associated Press

Há pouco tempo, durante seis horas, policiais fortemente armados usaram chumbo grosso e gás lacrimogêneo em estudantes na mais recente demonstração de irritação contra o governo egípcio apoiado pelas forças militares.

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Porém, quando a noite caiu e os estudantes se dispersaram, era a polícia que parecia derrotada, certa de que o fim de um protesto somente marcava uma pausa antes do próximo. Enquanto dois policiais se arrastavam para fora dos portões da Universidade do Cairo, um deles descreveu os estudantes como "valentões".

"Eu não vou voltar", ele disse ao amigo.

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Desde que os militares depuseram o presidente Mohamed Mursi, em julho, os líderes provisórios recorreram bastante à polícia, responsável por conter a discordância numa estratégia que até agora não deu em nada.

Nos últimos três anos de revolta, os manifestantes se recusaram a ser silenciados, mesmo quando as autoridades empregam força mortal.

E o Egito também se tornou muito mais perigoso para as autoridades, com mais de 150 policiais mortos somente nos meses posteriores a meados de agosto. De acordo com policiais, os ataques abalaram a moral da corporação, levantando questões problemáticas sobre a capacidade de o governo garantir a segurança do país.

"Antes, era dramático perder um policial", declarou um oficial graduado da força policial no sul do Egito. Agora, "essa probabilidade se tornou normal".

Entre os ataques e os protestos sem-fim, a polícia, já mal treinada e mal equipada, se desgastou. Pelo menos um policial foi morto e outros 20 ficaram feridos recentemente quando uma bomba estourou num campo de treinamento policial em Ismailia.

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Em sinal de raiva, centenas de policiais realizaram um raro protesto, exigindo maiores salários.

A pressão sobre a polícia ressalta sua péssima reputação, há muito tempo assombrada por alegações de corrupção e tortura. Reclamações sobre abusos policiais ajudaram a estimular o levante de 2011 contra o então presidente Hosni Mubarak, mas depois disso, os líderes do Egito não tentaram reformar a instituição.

Depois do golpe militar, a polícia falou numa nova era de relacionamento com o público. Houve pouco alvoroço durante a repressão mortal contra os partidários islamistas de Mursi. Já no caso dos estudantes, foi mais difícil ignorar.

Os protestos se intensificaram depois que a polícia foi acusada de matar um estudante da Universidade do Cairo.

Dois oficiais graduados falaram sobre o número crescente de mortes na força policial. Segundo eles, amigos e parentes foram mortos e delegacias, atacadas. Eles reclamaram que o público não reconhecia seus sacrifícios. Ambos culparam o governo por recorrer com tanta intensidade à polícia.

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Os parentes ficaram preocupados com a segurança dos policiais, depois de ataques de grupos jihadistas contra a polícia e o exército.

Os ataques letais tiveram início logo depois que os serviços de segurança dispersaram duas manifestações de islamistas, em agosto, fuzilando centenas de pessoas.

"As pessoas acham que somos robôs", disse o policial do sul do Egito, que pediu anonimato por não ter autorização para falar com a imprensa. "Nós temos família."

Outro policial, o major Haitham Abbas, reclamou do fato de a polícia ter sido maculada como um todo pela resposta à agitação, dando o exemplo de um colega que trabalha com turistas.

"Falaram para o filho dele na escola: ‘Seu pai é um assassino. Ele mata gente nas ruas’", disse o major. "Ele provavelmente nunca sacou a arma."

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