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Segurança

Na mesa do bar, ladrões idosos planejaram maior roubo da Inglaterra

O The Castle, pub onde os idosos planejaram o assalto e começaram a dar as primeiras pistas que levaram a polícia a desvendar o crime. | Andrew Testa/NYT
O The Castle, pub onde os idosos planejaram o assalto e começaram a dar as primeiras pistas que levaram a polícia a desvendar o crime. (Foto: Andrew Testa/NYT)

Durante três anos, eles se encontraram para beber no Castle, um pub de Islington, ao norte de Londres, nas noites de sexta-feira. Os quatro homens estavam ficando velhos, mas não iam lá apenas para falar de aposentadoria ou das dores e sofrimentos da idade. Ladrões experientes com longas fichas criminais, tinham algo muito mais importante em mente: um roubo audacioso, para coroar suas carreiras que, vangloriavam-se, o mundo nunca iria esquecer.

A operação, meticulosamente planejada – com a ajuda, como a polícia descobriria depois, do livro “Forensics for Dummies” (Perícia policial para iniciantes) – foi finalmente colocado em prática na quinta-feira anterior à Páscoa de 2015, quando Brian Reader, o líder de rosto corado que os outros chamavam de “mestre” embarcou no ônibus 96 perto de sua casa em Dartford, Kent.

Reader, de 76 anos, usou seu passe livre para idosos e começou sua jornada de 80 minutos até Hatton Garden, que há séculos é o centro do comércio de joias de Londres. No início da noite, chegou a um edifício discreto de sete andares. Uma placa grande do lado de fora dizia: Hatton Garden Safe Deposit Ltd. O resto da sua equipe estava ali, vestida com roupas de trabalhadores do prédio: John Collins, também conhecido como Kenny, de 75 anos, Daniel Jones, 60, e Terrence Perkins, 67. Reader usava um capacete amarelo e uma jaqueta fluorescente com a palavra “Gás” nas costas.

No caso, que os promotores chamaram de o maior roubo já ocorrido na Inglaterra, os quatro homens se declararam culpados de conspirar para roubar cerca de US$30 milhões em ouro, joias e pedras preciosas. Os promotores dizem que eles usaram furadeiras de diamante de alto-poder durante o fim de semana prolongado da Páscoa para fazer um buraco de 45 centímetros na parede de concreto do porão onde estava o cofre da empresa de depósitos seguros e fugir com o resultado do roubo.

À medida que detalhes do assalto apareceram, muitos ficaram imaginando como quatro ladrões idosos e às vezes desastrados conseguiram entrar em um cofre de alta segurança no centro de Londres – protegido por concreto reforçado, dois portões de ferro e um sistema de alarme com sensor de movimento – e fugir com sacos de lixo cheios de mercadorias roubadas. Se não tivessem violado uma das primeiras leis do manual dos criminosos e se vangloriado sobre a travessura, talvez nunca tivessem sido pegos.

“Esse era para ser o maior roubo da história legal da Inglaterra. Esses quatro líderes e organizadores do plano, apesar de idosos, reuniam muita experiência.”

Philip Evans promotor para a Corte Woolwich Crown.

Na noite de dois de abril, Reader e o resto da gangue foram cumprimentados no Garden Safe Deposit por um homem ruivo conhecido por “Basil” que, dizem os investigadores, aparentemente abriu a porta de incêndio e deixou que outros entrassem.

Vários homens saíram de uma van branca e dela tiraram sacolas, ferramentas e dois sacos de lixo, levando-os escada de incêndio abaixo, contou Evans ao júri. Os homens se comunicavam com walkie-talkies.

Uma vez dentro do prédio, bloquearam o elevador, deixando uma placa escrita “em manutenção” perto dele, mandaram-no para o segundo andar e desceram pelo fosso até o porão. Cortaram o cabo do telefone, desabilitando o alarme, e os fios de uma caixa elétrica, liberando o portão de ferro que protegia o cofre, segundo os promotores.

Então, começaram a longa e difícil tarefa de abrir o buraco na parede do cofre, reforçada com concreto – uma habilidade que aperfeiçoaram assistindo vídeos no You Tube.

Pouco depois das 12h21 em três de abril, Alok Bavishi, cuja família é dona da empresa de armazenamentos seguros, recebeu uma ligação dizendo que o alarme de invasores havia sido disparado. Ele afirmou na Corte que não ficou muito preocupado porque um alarme anterior havia sido disparado por um inseto.

Kelvin Stockwell, guarda do prédio há muitos anos, chegou cerca de uma hora depois. Após examinar a porta da frente e olhar pela caixa de correio da porta da escada de incêndio, contou ao júri que decidiu que o prédio estava em segurança e foi embora sem entrar.

A polícia também foi notificada do alarme, mas não achou que havia necessidade de responder. Enquanto isso, os ladrões estavam no porão, entrando no cofre. Mais tarde, a polícia se desculpou dizendo que “o sistema de gestão de chamadas e os procedimentos para trabalhar com empresas de monitoramento de alarmes não foram seguidos”.

Mesmo assim, a sorte da gangue não durou muito. Quando finalmente passaram da parede contra a qual o cofre de metal com as caixas de segurança estavam, tiveram que parar porque o gabinete estava aparafusado ao teto e ao chão e eles não conseguiam removê-lo.

Eles finalmente saíram por volta das oito da manhã, sem nada. Mas não se detiveram, voltando dois dias depois, no aniversário de 67 anos de Perkins. O roubo pode não ter sido notado porque os negócios vizinhos estavam fechados para o fim de semana da Páscoa. Mas a facilidade com que os ladrões saíram e voltaram, sem serem notados, deixou muitos especulando se o crime não havia tido ajuda de alguém de dentro da empresa.

Em sua segunda tentativa, depois de uma visita à loja de ferramentas, os homens conseguiram mexer o gabinete na noite de quatro de abril, embora Reader não estivesse mais lá para curtir o momento, depois de haver aparentemente perdido a coragem.

Os ladrões saquearam 73 caixas fortes, enchendo rapidamente várias sacolas e dois sacos de lixo com joias, ouro, pedras preciosas e dinheiro. Os promotores dizem que tiveram dificuldade para carregar as mercadorias escada acima até uma saída de incêndio. Collins, o vigia, estava esperando em uma van ali perto. As 6h40, exaustos e sem fôlego, todos fugiram.

Dois dias se passaram antes que o roubo fosse descoberto. Fotos do buraco na parede foram rapidamente espalhadas pelos jornais da Inglaterra. Donos de cofres irritados, alguns deles sem seguro, atacaram a polícia e a empresa dona do negócio por sua clara incompetência. Mirza Baig, negociante de joias, afirmou que perdeu tudo.

“Não tenho mais um centavo em pedras porque elas estavam todas no cofre, o lugar mais seguro que você pode imaginar”, contou ele à ITV News.

Por vários dias, os homens se deleitaram com o roubo, mas a polícia estava fechando o cerco. Os bandidos foram identificados na e perto da cena do crime por horas de vídeos das câmeras de segurança, e grampos eletrônicos, que foram colocados em dois de seus carros, interceptaram os homens se vangloriando em cockney.

“O maior roubo em dinheiro da história”, pode-se ouvir Jones gritando de alegria, entrelaçando suas palavras com palavrões, em gravações tocadas no tribunal, “é isso que estão dizendo”. Perkins disse que queria ter tirado uma foto de si mesmo no cofre.

Os homens continuaram a se encontrar no Castle, o pub tradicional. A polícia filmou-os com câmeras escondidas e usou leitores de lábios para descobrir o que estavam dizendo.

Depois do roubo, discutiram como dividir o que conseguiram e repassar as joias, afirmaram os promotores. Perkins disse que planejava derreter parte de seu ouro. “Pode ser minha aposentadoria”, afirmou ele.

Os homens esconderam o ouro e as joias em suas casas, atrás de rodapés e armários de cozinha. Em 19 de maio – 45 dias depois do roubo – 200 policiais apareceram enquanto Jones e Collins estavam transferindo parte das joias para a casa da filha de Perkins. A polícia invadiu 12 endereços no norte de Londres e prendeu sete suspeitos.

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