Se você aprecia obras marcadas por depressão, ameaças e entropia, assim como frases longas, vale a pena conhecer o trabalho do romancista húngaro Laszlo Krasznahorkai.
A crítica Susan Sontag o saudou como um "mestre do apocalipse", e desde então a admiração por sua obra vem aumentando nos países de língua inglesa.
Coisas sinistras acontecem no universo fictício de Krasznahorkai. Em "Satantango" (o tango de Satanás), dois trapaceiros, dados como mortos, são vistos na estrada que leva à cidade. Em "War & War" (guerra e guerra), um arquivista deprimido acha um manuscrito misterioso em um pobre vilarejo e depois se sente pressionado por forças obscuras e conspiratórias.
"Eu sempre quis fazer algo totalmente original", disse Krasznahorkai, 60. "Queria me distanciar de meus antecessores literários e não fazer novas versões de Kafka, Dostoiévski ou Faulkner."
O romancista irlandês Colm Toibin, que participou de painéis literários com Krasznahorkai em Nova York, disse: "A mente dele é divertida, misteriosa e dá muitas reviravoltas. Ele tem um estilo hipnótico."
Isso não significa que a leitura das obras de Krasznahorkai seja fácil. Suas frases podem se estender por páginas: "The Melancholy of Resistance" (a melancolia da resistência), no qual um circo chega a uma cidadezinha carregando uma gigantesca baleia empalhada, tem uma única frase em 314 páginas.
Como Krasznahorkai cresceu sob um regime comunista, seus romances frequentemente são considerados alegorias políticas, o que ele nega veementemente. "Não, de forma alguma", afirma o escritor, que se sente um pária na Hungria direitista atual, assim como no tempo do comunismo. "Além disso, eu jamais quis escrever romances políticos."
Em certos círculos, Krasznahorkai é mais conhecido por seus roteiros para o diretor Béla Tarr, incluindo para o filme "O Tango de Satanás", com duração de sete horas e, mais recentemente, para "O Cavalo de Turim", baseado em um ensaio sobre Nietzsche.
Tarr disse que ficou imediatamente encantado com o estilo literário de Krasznahorkai. "Essas frases longas podem parecer um tanto barrocas, mas isso não é verdade", comentou ele. "O texto muito simples e puro funcionava como uma espécie de quadro-vivo, mostrando o cenário nas terras baixas e a vida terrível das pessoas por lá."
Após o comunismo, Krasznahorkai passou um tempo na Ásia, o que gerou uma mudança de tom. Ele morou na China e no Japão, onde conviveu com um grupo de teatro nô. Um romance sobre essa experiência, "Seiobo There Below" (Seiobo ali embaixo), foi publicado em inglês.
"Eu queria achar algo em meu mundo que não fosse apenas sombrio e apocalíptico", explicou Krasznahorkai, que passa a maior parte do tempo com sua mulher e os três filhos em uma área rural na Hungria.
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