Chris Cassidy, da Nasa, é levado a uma tenda médica depois de cinco meses e meio na Estação Espacial Internacional em 2012| Foto: Bill Ingalls/NASA

No espaço, os fluidos corporais flutuam para cima, para o peito e para a cabeça. As pernas se atrofiam, os rostos incham e a pressão no interior do crânio aumenta. "Sua cabeça realmente parece inchada", diz Mark E. Kelly, astronauta americano aposentado. "É como se você ficasse pendurado de cabeça para baixo durante alguns minutos."

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Alguns problemas das viagens espaciais, como osteoporose, podem ter sido superados. Outros foram identificados —por exemplo, os astronautas têm problemas para comer e dormir o suficiente—, e a agência espacial americana, Nasa, está trabalhando para compreendê-los e solucioná-los.

Depois há os problemas de saúde que ainda enganam os médicos, mais de 50 anos depois do primeiro voo espacial. Apenas cinco anos atrás se descobriu que os globos oculares de alguns astronautas ficam um pouco amassados.

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O maior problema ainda é a radiação. Sem o casulo protetor do campo magnético e da atmosfera da Terra, os astronautas recebem doses maiores de radiação, aumentando a probabilidade de desenvolver câncer.

Os cientistas da Nasa provavelmente têm até 2030 para dissecar esses problemas, antes que os astronautas viajem para Marte —missão que levaria cerca de dois anos e meio, ou quase seis vezes o padrão atual de serviço na estação espacial. O tempo mais longo que um ser humano já ficou fora da Terra foi de quase 438 dias —recorde estabelecido pelo doutor Valery Polyakov na estação espacial russa Mir em 1994 e 1995.

Em 2009, durante sua estada de seis meses na Estação Espacial Internacional, o doutor Michael R. Barratt, astronauta da Nasa que também é médico, notou que tinha certa dificuldade para ver as coisas de perto, assim como outro membro da equipe da tripulação de seis membros, o doutor Robert B. Thirsk, astronauta canadense que também é médico. Então os dois fizeram exames oculares recíprocos e confirmaram a alteração da visão para hipermetropia.

Eles também viram sugestões de inchaço de seus nervos ópticos e manchas em suas retinas. Na nave de carga seguinte, a Nasa enviou uma câmera de alta resolução para que eles pudessem fazer fotos mais nítidas de seus olhos, o que confirmou as suspeitas. Imagens de ultrassom mostraram que os olhos tinham se tornado um pouco achatados.

Muitos astronautas do ônibus espacial se queixaram de alterações na visão, mas nenhum havia estudado o assunto. "Hoje é um risco ocupacional reconhecido dos voos espaciais", disse o doutor Barratt. "Quais são as implicações a longo prazo?"

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É uma das muitas coisas que a Nasa estará monitorando na saúde de Scott J. Kelly, que passará um ano na estação espacial a partir da primavera de 2015. Mas o doutor Polyakov e três outros astronautas russos voltaram aparentemente não muito piores depois de suas longas estadas no espaço. É possível que o corpo se habitue à falta de peso depois de alguns meses e que as mudanças na visão e nos ossos se estabilizem.

Há uma década, cientistas da Nasa temeram que os astronautas voltassem para a Terra com os ossos enfraquecidos, pois sua densidade era reduzida de 1 a 2% por mês. No espaço, o corpo não precisa sustentar seu peso, então ele reage desmontando o tecido ósseo muito mais depressa do que na Terra. A Nasa recorreu a drogas para osteoporose e exercícios aperfeiçoados, como fazer os astronautas correrem presos a uma esteira rolante. Os cientistas da Nasa relataram que os astronautas então voltaram com quase tanto osso quanto tinham ao partir.

Para as questões da visão, os cientistas suspeitam que os efeitos adversos resultem da mudança de fluido, a maior pressão do fluido cérebro-espinhal por trás dos globos oculares, mas isso ainda não foi comprovado.

Também se descobriu que os astronautas cuja visão havia mudado tinham níveis maiores do aminoácido homocisteína, muitas vezes um marcador de doença cardiovascular. Isso pode sugerir que um ambiente de gravidade zero acione algum processo bioquímico.

Quanto à radiação, a Nasa opera sob a restrição de que os astronautas não devem ter seu risco de câncer durante a vida aumentado mais de três pontos percentuais.

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Pode haver outras complicações, porém. No Laboratório Nacional Brookhaven, em Long Island, cientistas estão bombardeando ratos com a radiação que imita os raios cósmicos de alta energia que percorrem o espaço exterior. Esses ratos levam mais tempo para percorrer um labirinto, sugerindo que a radiação pode danificar seus cérebros.

Os cientistas dizem que ela pode danificar outros órgãos. "Estes poderiam ser efeitos agudos", disse William H. Paloski, chefe do programa de pesquisa humana da Nasa. "Simplesmente não sabemos, estamos examinando."

John B. Charles, do programa de pesquisa humana da Nasa, disse que a agência já poderia enviar astronautas para Marte e trazê-los de volta vivos. Mas, dado o enorme custo, é crucial que os astronautas cheguem produtivos e com ótima saúde, disse ele.

"Meu objetivo é fazer um programa que não entregue um astronauta manco em Marte."