O tufão que danificou casas na Ilha de Leyte também interrompeu a produção de energia geotérmica nos arredores de Ormoc| Foto: Tyler Hicks/The New York Times

Quando o tufão Haiyan atravessou a ilha de Leyte no início de novembro, seguido de uma espécie de tsunami e ventos quase tão fortes quanto os de um tornado, matando milhares de pessoas e rasgando sem esforço os telhados das casas, ele também danificou as importantes usinas geotérmicas do local.

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O campo geotérmico de Tongonan, nos arredores de Ormoc, no oeste da ilha de Leyte, é o segundo maior produtor mundial de energia geotérmica, atrás apenas de uma usina na Califórnia. Poucos outros países – notadamente a minúscula Islândia – podem contar com recursos similares. Cerca de um nono do consumo de eletricidade das Filipinas é de origem geotérmica, a maior parte gerada aqui.

A força extraordinária dos ventos do tufão Haiyan despedaçou florestas de coqueiros que se alinhavam no vale estreito e inclinado que, por anos, gerou boa parte da energia geotérmica, e desativou todas as torres de resfriamento do campo geotérmico.

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Abrigadas no vale abaixo, as casas dos 795 funcionários da usina resistiram surpreendentemente bem. Agnes de Jesus, vice-presidente sênior de meio ambiente da Energy Development Corporation, proprietária das usinas elétricas, afirmou que ninguém morreu ou se feriu gravemente nas usinas durante o tufão, mesmo quando a enchente atingiu o outro lado da ilha, matando milhares de pessoas.

As operações geotérmicas das Filipinas ainda são bastante desconhecidas pelos especialistas em fontes de energia renovável, em função de sua história incomum e de uma tendência de sigilo por parte das autoridades, por razões de segurança nacional.

O Novo Exército do Povo, uma das milícias maoístas mais antigas do mundo e uma ameaça constante – ainda que de baixa intensidade – à ilha de Leyte, representa um risco potencial às operações da usina. Um pequeno exército de soldados e seguranças defende o local e mantém uma série de postos de vigilância para afastar os visitantes dos vales montanhosos, onde as cinco usinas geotérmicas estão localizadas.

Desde o começo, o objetivo do projeto não era ambiental, mas nacional e econômico: reduzir a dependência filipina da energia importada e economizar dinheiro nas contas com combustíveis.

Em resposta ao embargo do petróleo árabe em 1973, o presidente Ferdinand Marcos começou a desenvolver o campo no fim dos anos 1970, com um pequeno projeto de demonstração. Depois que o projeto inicial se mostrou bem-sucedido, cinco grandes usinas geotérmicas foram construídas sobre poços no mesmo vale em meados dos anos 1990, cada uma delas grande o bastante para produzir energia para toda a ilha.

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Uma série de poços de 1,5 quilômetro de profundidade foi escavada nas rochas vulcânicas, até alcançar a água superaquecida sob enorme pressão. A água chega à superfície, se expande transformando-se em vapor e resfriando em seguida, girando as turbinas.

Os engenheiros do projeto preveem que as pedras subterrâneas, aquecidas pela atividade vulcânica há um milhão de anos, não irão se resfriar significativamente pelo próximo milhão de anos, ao passo que as águas subterrâneas são constantemente reabastecidas pela água que volta da superfície.

O vale difere de muitos lugares com características geotérmicas ao redor do planeta, nos quais as pedras subterrâneas são mais quentes e o que sai dos poços não é vapor, mas água superpressurizada.

A água subterrânea aqui é aquecida a temperaturas escaldantes que vão de 250 a 350 graus Celsius. Quatro das usinas funcionam em duas fases: primeiro giram as turbinas usando a tendência da água de se transformar em vapor a temperaturas tão altas, e em seguida giram outras turbinas, à medida que o vapor resfria. Por fim, essas usinas foram projetadas para condensar o vapor em água dentro de torres de resfriamento feitas de madeira e reforçadas com aço, que injetam a água de volta no chão.

O tufão destruiu todas as quatro torres de resfriamento, localizadas nas escarpas do vale, despedaçando a madeira e derrubando o aço. A Energy Development Corporation está estudando se deve substituir as torres de resfriamento por construções idênticas, ou construir novas que sejam mais duráveis, afirmou Leonita Sabando, diretora de gestão ambiental da unidade.

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A empresa espera voltar a fornecer energia para a ilha de Leyte até o dia 24 de dezembro, o prazo nacional para reestabelecer a eletricidade após a passagem do tufão, afirmou de Jesus.

Para muitos filipinos, os estragos exemplificam um enorme paradoxo: o tufão Haiyan, uma tempestade compatível com alguns alertas emitidos por cientistas sobre as mudanças climáticas, causou danos tremendos em uma ilha que é um dos melhores casos de sucesso das fontes de energia renováveis e em um dos países que menos contribuíram para a acumulação global de gases de efeito estufa.

"Muitas famílias filipinas se transformaram em refugiados climáticos", afirmou a senadora Loren Legarda, diretora do comitê de mudança climática do senado filipino. "Nós não poluímos o mundo e, ainda assim, somos vítimas de mudanças extremas no clima."