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"Para mim, o público negro afastou os brancos e agora simplesmente não há afluência suficiente desse público para garantir uma venda sólida de ingressos de temporada." Essa foi uma das frases supostamente ofensivas de um e-mail que Bruce Levenson, dono do time de basquete Atlanta Hawks, enviou aos colegas há dois anos. A mensagem – e uma investigação interna – forçaram o empresário a se desculpar e colocar o time à venda. correspondência também gerou debate entre os líderes das grandes corporações norte-americanas e o setor financeiro. Afinal, o que é negócio e o que é preconceito, sutil ou não?

A discriminação continua sendo um problema sério no mundo dos negócios: estudos mostram que Wall Street, por exemplo, há muito cobra juros mais altos nas hipotecas dos afro-americanos e hispânicos. A impressão é a de que Levenson procurava, de todas as formas, substituir o público predominantemente negro por outro, branco. Ele mesmo mencionou o e-mail para a Associação de Basquete Nacional, a NBA, no início do ano, para explicar por que a venda de ingressos e produtos ligados ao time era tão baixa comparada a das outras equipes. Ele escreveu: "Começo a observar o ginásio durante os jogos e noto o seguinte: um público 70 por cento negro, com animadoras de torcida negras dançando ao som do hip-hop".

Há quem considere seus comentários ainda piores que o discurso racista de Donald Sterling, forçado a vender o Los Angeles Clippers e afastado da liga para o resto da vida. Há, porém, aqueles que sugerem que seus comentários sejam apenas os de um executivo racional. Kareem Abdul-Jabbar, antigo astro da NBA que há tempos escreve sobre racismo, concorda. "Levenson é um homem de negócios levantando questões razoáveis sobre como atrair o público para os jogos. Se seu ginásio estivesse lotado com uma maioria branca e ele quisesse atrair os negros, não seria o caso de se questionar como evitar dar destaque à cultura branca? Seria preconceito contra os jogadores e animadoras de torcida brancas também?", escreveu no site da revista Time. O radialista Autry J. Pruitt disse que, a princípio, ficou furioso, mas depois mudou de ideia quando leu o e-mail inteiro. "Embora certos trechos não sejam lá muito agradáveis, não achei que fosse racista ou fora dos padrões".

De fato, em outra passagem, Levenson parece criticar o racismo: "Muitos sites de torcedores falam do perigo do ginásio. Nunca soube de nenhum incidente, nem com batedores de carteira. Isso é bobajada racista. Quando ouço alguém dizer que o ginásio foi construído no lugar errado, sei que, na verdade, querem dizer que há muitos negros nos jogos." As observações de Levenson são um lembrete do desafio que as empresas enfrentam ao tentar atrair clientes baseadas em renda, raça, religião ou outra característica – embora hoje já possam limitar o público-alvo com mais precisão graças às buscas na Internet. Entretanto, a linha que divide a definição de grupos demográficos e a discriminação continua muito sutil.

O ex-CEO da grife Abercrombie & Fitch, Michael S. Jeffries, foi crucificado por dizer que só contratava funcionários de boa aparência porque "gente bonita atrai gente bonita e queremos vender para um público lindo e descolado. Não nos interessa ninguém mais. Se somos exclusivistas? Com certeza."

Um dos fundadores da Lululemon, Chip Wilson, foi forçado a deixar o cargo depois de dizer que o corpo de algumas mulheres não foi feito para as roupas de ioga que produzia, o que ofendeu muitas consumidoras. Depois, Levenson se referiu a seus comentários como "bobagem ditas de cabeça quente". E acrescentou: "Todos nós podemos ter nossos preconceitos e opiniões quando se trata de raça, mas o meu papel enquanto líder é o de contestá-los e não corroborar ou aceitar a atitude daqueles que os têm." O mundo dos negócios deve prestar atenção.

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