Partidos políticos cujos símbolos são uma estrela vermelha tendem a ser desfavoráveis aos banqueiros, mas o partido do governo no Brasil é uma exceção lucrativa.
Quando o Partido dos Trabalhadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da atual presidente Dilma Rousseff assumiu o poder em 2003, prometeu, e durante algum tempo cumpriu, um crescente padrão de vida para os mais pobres e a classe trabalhadora do país.
Porém, os ganhos foram muito mais impressionantes para a indústria das operações bancárias do país, mesmo quando o setor manufatureiro estagnou e a economia enfrenta os altos e baixos dos preços globais das commodities. O lucro anual combinado dos quatro maiores bancos brasileiros cresceu mais de 850%, de US$ 2,1 bilhões para pouco mais de US$ 20 bilhões, nos 12 anos do PT no poder.
Políticas governamentais e tendências econômicas ajudaram os bancos aqui. Uma delas são taxas de juros tão altas que chocariam quem faz empréstimos em outros países. No chamado mercado de crédito livre, que exclui empréstimos subsidiados pelo governo para habitação e infraestrutura, os consumidores brasileiros em média pagam juros de 58,6 por cento, e as empresas pagam 27,5.
O spread médio — a diferença entre o que os bancos pagam para obter acesso ao capital e o que cobram para emprestá-lo — é de 30,7 pontos percentuais no mercado de crédito livre.
E quando a situação é instável, os bancos pedem auxílio ao governo. O Tesouro Brasileiro não só vende títulos que protegem investidores contra a inflação, mas também oferece títulos que aumentam seus rendimentos quando as taxas de juros sobem ou a moeda desvaloriza. Quando os bancos percebem que a economia está a ponto de enfrentar problemas, diminuem o número de empréstimos e migram para esses investimentos suportados pelo governo.
“Os bancos aqui sabem muito bem como enfrentar a instabilidade econômica. Por causa de títulos do governo que oferecem proteção, crises da moeda e choques na taxa de juros acabam não sendo um problema para os bancos. O governo paga o preço por eles”, disse Luiz Fernando de Paula, professor de Economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
A indústria bancária do Brasil detém algo em torno de 27 por cento da dívida nacional.
A falta de concorrência também pode estar ajudando os lucros. Desde que uma crise bancária na década de 90 ameaçou dezenas de instituições financeiras com insolvência, as autoridades têm incentivado uma série de fusões e aquisições.
Quando o presidente Lula assumiu em 2003, os quatro maiores bancos detinham 53 por cento de todos os recursos do sistema bancário, de acordo com o Banco Central do Brasil. Eles hoje têm mais de 70 por cento, e muitos bancos menores operam apenas em segmentos limitados do mercado.
Não só os maiores bancos aumentaram sua participação no mercado, mas o próprio mercado de crédito cresceu depois que o presidente Lula, e também a presidente Dilma, mudou as regulamentações para facilitar empréstimos para consumidores e pequenas empresas. Os dois grupos responderam com entusiasmo. Muitos consumidores de renda baixa e média fizeram inúmeros empréstimos para comprar seus primeiros eletrodomésticos ou carros.
A dívida do setor privado aumentou de 30 por cento da economia, quando o presidente Lula assumiu o cargo, para 70. A residência brasileira média gasta 22 por cento de sua renda mensal com pagamento de dívidas, de acordo com o Banco Central. O lar americano médio gasta menos de 10 por cento de sua renda com dívidas.
Nessa situação, os dias de rápido crescimento dos bancos podem estar chegando ao fim. O crescimento através de aquisições também está chegando a seu limite.
“Os bancos estão reduzindo seu volume de empréstimos, mas as taxas de juros estão maiores do que antes, o spread também está subindo, e eles estão ganhando dinheiro com títulos do governo”, disse Luis Miguel Santacreu da Austin Rating, agência brasileira de avaliação de crédito.
“Está claro que eles vão ter um bom lucro.”
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