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No Brasil, família poderosa pode perder o controle

Basta entrar no Convento das Mercês, verdadeira preciosidade colonial construída aqui em 1654, para se conhecer todas as façanhas de José Sarney, ex-presidente do Brasil e chefe da dinastia política que controla o Maranhão há cinco décadas.

Um documentário aponta o político como responsável por tirar o vasto estado de seu isolamento econômico nos anos 60; as fotos registram momentos em que liderou a transição do país para o regime civil na década de 80.

Todos esses tributos, porém, agora se mostram um contraste gritante com a forma como o patriarca, de 84 anos, e seus descendentes são vistos na terra natal, uma das mais pobres do país, e no resto do Brasil.

Na eleição de outubro, a população preferiu deixar os aliados de Sarney de lado e ele, um dos homens mais poderosos da nação, anunciou na bancada do Senado que não tentaria se reeleger, talvez assim possibilitando uma das mudanças mais significativas na política brasileira dos últimos anos.

Aqui, no reduto do todo-poderoso, muita gente não vê a hora de finalmente poder virar a página da história. "Ninguém aguenta mais; eles estão no poder só para ganhar dinheiro", reclama Sueli Celeste, secretária de 48 anos de uma escola perto do centro, onde abundam belos casarões em ruínas.

O Maranhão é o penúltimo dos 26 estados brasileiros de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, que mede fatores como renda e expectativa de vida.

Flávio Dino, do PC do B, conseguiu se eleger governador contra o candidato aliado à família Sarney simplesmente porque se apoiou em uma plataforma de melhoria nos padrões de vida.

Depois de cinco anos na presidência, Sarney deixou o cargo, em 1990, com um nível de aprovação de apenas 14 por cento, com críticas pesadas sobre o gerenciamento da economia. Na época, a inflação anual batia nos 1.765 por cento.

Foi então que ele se reinventou como senador pelo Amapá, território na região amazônica que se tornou estado em 1991; dali, supervisionou o crescimento do império da família e a entrada dos filhos na política. Voltou a ganhar destaque na última década como presidente do Senado, ao mesmo tempo em que combatia as denúncias de nepotismo e corrupção.

Sua filha, Roseana, que deixou o governo do estado, é elogiada nas páginas do jornal do clã, mas seu último ano no poder foi marcado por uma crise sem precedentes no sistema carcerário.

Alegando motivos pessoais, ela renunciou em dezembro – e quando um depoimento da Operação Lava Jato ligou seu nome a um dos esquemas de pagamento de propina, ela negou tudo.

Muita gente ainda duvida que a família Sarney simplesmente deixe os opositores tomarem o poder sem fazer nada. De fato, Roseana já foi forçada a deixar o palácio do governo uma vez, quando seu adversário ganhou as eleições de 2006 – mas acusado de comprar votos, teve que deixar o cargo, abrindo espaço para a volta dela.

Seu pai, o patriarca, continua arrogante.

E alega que o estado parecia "um corpo sem cabeça" antes que assumisse o governo, nos anos 60.

"Essa geração de hoje não tem nem ideia das dificuldades da época; minha maior vitória foi mudar a mentalidade local — numa conquista tão significativa que gerou um presidente da república e tornou o Maranhão um dos estados mais importantes do país", diz ele.

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