Fotógrafos e cineastas de Hollywood recorrem a eles para tomadas áreas exuberantes. Geólogos os utilizam sobre o mar à procura de rochas que contenham petróleo. Executivos da Amazon pretendem adotá-los para atirar pacotes na porta dos consumidores.
Mas agora os drones veículos não tripulados do tamanho de uma caixa de pizza estão virando também a ferramenta favorita para grupos mais indisciplinados: os engraçadinhos e os arruaceiros.
Com a queda no preço dos drones, essas máquinas agora entram em cena como os protagonistas de manobras travessas e até criminosas. Nos últimos meses, os pilotos de drones tentaram usar os veículos para fazer contrabando em prisões e perturbar eventos esportivos. Ativistas dos direitos dos animais agora recorrem aos drones para perseguir caçadores. E uma série de voos ilegais sobre usinas nucleares irritou autoridades francesas.
As artimanhas estão forçando as autoridades de segurança pública a enxergarem o espaço aéreo como um campo fértil para a desordem. E, para os grupos interessados em usar os drones como ferramentas para atividades empresariais legítimas, as brincadeiras são uma dor de cabeça indesejável pois poderiam intensificar a pressão sobre as autoridades reguladoras para manter as máquinas sob rédea curta.
Nos Estados Unidos, a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) disse que os drones motivam preocupações de segurança, em caso, por exemplo, de colisões com pessoas e aviões. A agência disse receber cerca de 25 relatos por mês sobre drones operando perto de aviões tripulados. O órgão espera propor em breve novas regras para o uso comercial.
"Agora está nas mãos de todo tipo de gente gente boa, gente má, malandros, brincalhões, crianças", disse Patrick Egan, consultor para projetos comerciais com o uso de drones e editor do site sUAS News, com notícias sobre drones. "Vai ser um Deus nos acuda por causa das maracutaias perpetradas com os drones."
Em geral, é legal nos EUA pilotar um drone para fins recreativos, desde que os operadores sigam alguns requisitos, como manter o veículo abaixo de 122 metros. A queda dos preços um modelo de quatro rotores com uma câmera acoplada pode custar apenas US$ 500 atraiu compradores. A empresa de pesquisas aeroespaciais Teal Group estima que o mercado global de drones civis movimentará US$ 450 milhões neste ano, uma alta de 45% em relação a 2013.
O maior número de aparelhos acarretou também um aumento no número de travessuras feitas por alguns proprietários.
Há cerca de um ano, o comediante Tom Mabe, de Louisville, no Kentucky, armou uma pegadinha amarrando um boneco da morte, com a foice característica, a um drone. O vídeo, que mostra pessoas aterrorizadas em um parque, recebeu mais de sete milhões de visualizações no YouTube. "Espero me transformar no comediante dos drones", disse Mabe.
Em outubro, uma partida de futebol entre as seleções da Sérvia e Albânia, em Belgrado, foi paralisada quando um drone sobrevoou o campo com uma bandeira da Grande Albânia, um símbolo que motiva atritos entre os dois países. Um jogador sérvio arrancou a bandeira, o que levou atletas e torcedores a brigarem.
Os drones também já atrapalharam partidas de futebol profissional na Grã-Bretanha e de futebol americano nos Estados Unidos. Em 14 de outubro, um drone que sobrevoava o Estádio Municipal de Daytona Beach, na Flórida, atingiu uma pessoa, causando um "ferimento leve", segundo a FAA.
A agência recentemente proibiu explicitamente o voo de drones perto de eventos esportivos. O uso comercial de drones também é amplamente proibido nos EUA, mas algumas produtoras de Hollywood se tornaram exceção à regra.
O advogado Brendan Schulman, de Nova York, que representa clientes comerciais interessados no uso de drones, disse que as brincadeiras são realizadas por apenas algumas pessoas e não devem ofuscar o uso legítimo de drones.
"É importante equilibrarmos essas duas coisas", disse, "e não limitar o uso só porque vemos um punhado de pessoas fazendo coisas condenáveis".
No ano passado, a organização Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (Peta, na sigla em inglês) começou a oferecer um drone com a marca da associação por US$ 325, promovendo o veículo como uma forma de registrar a caça ilegal. James Rodgers, diretor de inovação da ONG, disse ter vendido "dúzias" de drones que, segundo ele, não devem ser usados para interferir na caça legal.
Mas Nick Pinizzotto, presidente da Aliança dos Esportistas dos EUA, um lobby dos caçadores, disse que praticantes da caça em Nova York relataram que um drone estava sendo usado para afugentar patos.
"Eles sempre dizem: Não estamos tentando interromper a caça, estamos apenas tentando achar os malvados", disse Pinizzotto. "Para a Peta, todo mundo que caça é um malvado."
O professor de direito Ryan Calo, da Universidade de Washington, que estuda drones, disse que as perturbações não deveria ser uma surpresa.
"Seria a única tecnologia da qual algumas pessoas não abusariam", disse Calo.